Rotten Apple

Olá, olá!
Primeiramente gostaria de pedir desculpas pelo mês em hiato. Julho foi bem corrido, minhas amigas coreanas voltaram pro Brasil depois de 4 anos e eu queria aproveitar o tempo com elas. Foi só um final de semana juntas, mas acabei precisando ajudá-las com algumas coisas. Foi um ótimo momento, mas também foi bem estressante, já que também vou pra lá e preciso me preparar.
Espero que me perdoem por isso ;-;
Mas tô de volta e Rotten Apple tá acabando, bora aproveitar nossas últimas memórias </3
Boa leitura~

Setenta e Um

Myungsoo desaparecera.

Não importava o quanto o procurássemos, não havia sinal dele sobre a face da Terra. Após a ligação de Boohyun hyung, tentamos entrar em contato por diversas vezes. Inclusive usamos telefones que ele possivelmente não reconheceria, como o de Dongwoo e Hyunhee, e não tivemos nenhum resultado.

O estranho em toda a história é que Sungjong também desaparecera, levando consigo toda nossa credibilidade. Eu sabia, bem no fundo do meu juízo, que aquilo só poderia ser obra de uma pessoa.

Lee Sungyeol. Ele certamente estava por trás disso tudo.

O desespero tentava de todas as formas tomar conta da situação, embora eu tentasse me controlar, ser alguém estável e maduro, mas eu não podia simplesmente aceitar que a centelha de esperança que possuía estava prestes a desvanecer.

Nam Woohyun estava cada vez mais debilitado. Quando pensamos que sua saúde estava melhorando e ele poderia finalmente receber a medula, a ansiedade e o desespero o fizeram sucumbir. Eu não podia ver sua situação. Cada vez que via aquele rosto contrito e tristonho, parte de mim morria com ele.

Os outros pareciam não perder a esperança. Hyunhee e Howon fizeram uma campanha online de doação de sangue, já que independentemente da compatibilidade, aumentar o banco de sangue que era direcionado às celulas tronco poderia ajudar outras pessoas. Mas nenhum sangue recebido era compatível.

Eu me sentia derrotado.

Como se toda a culpa do mundo recaísse sobre minhas costas. O que eu tinha feito para mudar aquela situação? Quais foram as medidas que tomei para que tudo desse certo? Eu só criara ainda mais inimizade com aquelas pessoas, o que acabou por colaborar com seu afastamento. Se eu fosse menos ansioso, Myungsoo teria comparecido?

Eu jamais saberia.

Ver Woohyun sem reação era ainda pior. Conforme seus cabelos se iam um a um, deixando-o completamente nu em sua cabeça, o estado de choque se aplacava. Ele já não queria comer, não se importava com os remédios e não desejava me ver.

E todos sofríamos.

Era como se a batalha tivesse sido perdida, como se todo aquele desejo de permanecer vivo desvanecesse de repente. E aquilo doía profundamente. Como se arrancassem parte de mim.

Como se Woohyun tivesse morrido.

axeau

Alguns dias se passaram após o fiasco que fora a espera por Myungsoo. Os últimos dias de aula chegaram e o diretor do colégio decidira que não aplicaria as últimas provas a Woohyun, seu estado de saúde não permitia que o aproveitamento fosse total, então ele as faria quando se sentisse melhor. O banco de sangue certamente aumentara mas, por incrível que possa parecer, nenhuma medula era compatível com a de Woohyun.

Eu não o via há alguns dias. Quatro, para ser mais específico, mas eu tentava não contar para não me sentir pior. Ele não queria me ver, e eu o respeitava, por mais que doesse.

Woohyun estava apático e tristonho, os últimos fios de cabelo finalmente se foram e ele se sentia péssimo por isso. Me dissera que temia que meu interesse por ele acabasse.

Como meu interesse acabaria, se tudo o que eu sentia por ele era amor? Amor não simplesmente acaba. Mas eu precisava me recuperar. Voltar a mim e tentar fazer algo.

Dongwoo, por sua vez, pôs-se a pesquisar. Trabalhava como um verdadeiro pesquisador, como alguém que está prestes a defender um mestrado ou algo do tipo. Descobrira algo que o deixara animado e, por isso, queria me ver. Embora eu não quisesse ver ninguém além de Woohyun, o chamei até minha casa e me pus a esperá-lo no terraço.

Não demorou muito até que o topo de sua cabeça animada aparecesse do outro lado do portão. Ele entrou correndo e gritou meu nome assim que me viu.

“Sunggyu-yah! Você não vai acreditar no que eu descobri!”

Ele não esperou resposta, simplesmente entrou e correu até meu quarto. Ainda que fizesse frio, eu não conseguia me mover. A dor do frio era confortável, me fazia esquecer um pouco.

“E aí, carinha?” Dongwoo se sentou ao meu lado, abraçando-me.

“E aí?” Respondi sem muito entusiasmo;

“Você precisa se animar, Sunggyu, a vida é curta demais pra ficar assim.” O fuzilei com os olhos, ele parecia não compreender a situação.

“O que você achou, Jang Dongwoo?”

“A cura!” Ele sorriu, tocando meu braço. “Sunggyu, vamos até a clínica e você vai preencher um formulário. Eles vão tirar um pouquinho do seu sangue e em alguns dias vamos saber se você pode doar medula pro Namu.”

“Como assim?” Perguntei sobressaltado. Até onde sabia, meu sangue não era compatível com o de Woohyun. Nunca me passou pela cabeça a possibilidade…

“Vocês não precisam ter o mesmo tipo sanguíneo, a medula não necessariamente depende disso pra ter compatibilidade.”

“E como você descobriu isso?” Estava estupefato e ele riu disso.

“Fui até a biblioteca do hospital da Universidade. Lá eles têm muita coisa, achei incrível como não é difícil pesquisar isso por lá. É tudo informatizado, você pesquisa num computador e ele te informa o livro. Tem até livros online, você deveria ver!”

Dongwoo ficou por alguns segundos me encarando, com um belo e gigante ponto de interrogação em seu rosto. Eu ainda estava preso à parte em que ele dissera que eu podia doar. Eu? De todas as pessoas do mundo, justo eu?

“Sunggyu-yah, planeta Terra chamando!” Ele me beliscou e voltei a mim.

“Dongwoo, você tem certeza?”

“Absoluta! A mãe da Hyunhee confirmou. Disse que não tinha dado essa dica antes porque esperava que Myungsoo voltasse. Ele seria a escolha perfeita.”

“Não quero me lembrar disso… não desse otário.”

“Não adianta ficar com raiva dele agora. Já passou, não temos nada a fazer a esse respeito. Myungsoo agora ficou no passado e duvido que o Namu queira sequer ouvir o nome dele. Agora é o presente Kim Sunggyu, e o futuro pode ter seu nome.” Ele sorriu, abraçando meu ombro.

“Você tem certeza?” Perguntei ainda em dúvida. Meu medo de nada dar certo era ainda maior que a dúvida.

“Se não der certo, eles ainda podem usar seu sangue pra outra doação. Você pode não ajudar Namu diretamente, mas pode fazer o bem pra outra pessoa.”

“Você tem razão.” Dei de ombros, um pouco confuso.

“Ótimo, agora vamos.” Ele se levantou, puxando meu braço.

“Onde?”

“Fazer a coleta. Quanto antes a gente fizer, antes sai o resultado.”

“Mas não precisa agendar a coleta?” Perguntei ainda mais confuso, limpando os joelhos por reflexo.

“Agendei ontem. Agora vamos.”

Não fosse por ele me puxar até a porta e me fazer ir, eu ainda estaria parado ali. Não entendia como algo tão bom e tão encorajador poderia me paralisar daquela forma.

Eu poderia ajudar Namu. Eu poderia ser aquele que o salvaria!

Mas era verdade? Eu realmente poderia devolver esperança a alguém que amava tanto? Por um segundo me senti nada merecedor daquela oportunidade. Como se eu não fosse bom o bastante, como se tudo o que eu fizera até então diminuísse meu valor.

Ao chegar à clínica, a tão conhecida enfermeira sorriu ao me ver. Tocou meu braço e me levou até a sala, colhendo informações ao meu respeito. Tudo era respondido por Dongwoo, já que eu não era capaz de abrir minha boca.

“Então está tudo certo. Kim Sunggyu, está pronto para a coleta?” Ela sorriu para mim, e aquele sorriso era como um balde de água que me acordou do meu transe.

“A-acho que sim.” Balbuciei, encarando um Dongwoo animadíssimo ao meu lado.

“É claro que ele está! Ele nasceu pronto pra isso!” Dongwoo deu dois tapas em mim assim que me levantei. “Posso acompanhar? Ele tá um pouco nervoso. Medo de agulha, sabe?”

A enfermeira riu e nos mostrou onde ir.

A sala era como todos os outros cômodos daquela clínica. Tudo em sua maioria branco, alguns azulejos azuis quebravam a branquitude do local. Embora parecesse um lugar pacífico, eu sentia que meus órgãos borbulhavam dentro de mim. Não tinha sequer voz.

“Então, enfermeira, quanto tempo leva para sabermos a compatibilidade?” Dongwoo perguntou enquanto apertava meus ombros. Eu estava mesmo tenso. Não conseguia me mover.

“Normalmente sai rápido. Mas como o sangue dele não é o mesmo que o do paciente que vai receber o transplante, pode levar mais tempo. Nesses casos, testamos duas vezes para que não haja erro. A recusa do paciente normalmente não é muito boa, então precisamos ter certeza.”

“Como assim, recusa?”

“Quando o corpo rejeita a medula. Se tudo der certo, em alguns meses a nova medula está pronta para criar células novas e saudáveis, e a recuperação vai se dando aos poucos. Tudo depende de como o paciente se comporta.”

“Então temos uma chance do Namu se recuperar logo?” Dongwoo sorriu e a enfermeira franziu o cenho.

“Namu?” Ela sorriu e finalmente pegou a agulha. “Bem, se ele é uma árvore, é como se um brotinho novo saísse dele depois da doação. Então, sim.”

Dongwoo sorriu ainda mais e se recostou na cadeira, vendo-a preparar minha veia.

Eu ainda processava toda aquela situação, como se fosse um sonho, uma distopia, algo longe da realidade. Despertei do meu transe assim que senti a agulha espetar minha veia. Ela prontamente colocou uma espécie de repositório ao final da agulha e pude ver o sangue enche-lo aos poucos.

Era como se eu visse vida sair de minhas veias. Como se aquele pequeno vidro contivesse o que era necessário para salvar a vida daquele a quem tanto amava.

Sentia minhas forças voltarem ao meu corpo conforme ela retirava a agulha de meu braço e colocava um pequeno curativo para conter o sangue. Como se o mundo parasse por um mínimo segundo e voltasse a girar. Como se tudo entrasse nos eixos.

Parecia, por um instante, que eu reganhava minhas forças. Que eu poderia, finalmente, fazer a diferença.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD