Rotten Apple

Olha quem estou aqui! Sei que passou muito tempo e eu prometi atualizações mais rápidas, mas a vida ficou complicada na semana passada. Minha mãe foi diagnosticada com uma doença que só pode ser revertida por cirurgia, e isso abalou um pouco minhas estruturas. Com os capítulos progredindo, tava difícil concentrar. Mas num “overall”, ela tá bem, só precisa de muito repouso. E eu também, pois o estresse tá tenso!
Por outro lado, sábado passado comecei o curso de coreano no instituto king sejong, o que me deu uma animadinha. Quero poder chegar na Coreia pelo menos sabendo cumprimentar os pais das minhas amigas xD.
Bem, espero que o capítulo seja agradável, estamos na reta final. Não quero me extender muito e provavelmente não passaremos de 80 capítulos. Só peço humildemente que me deixem saber seus pensamentos, não quero sentir como se estivesse sozinha =/
Se não quiserem se identificar aqui, sempre tem meu sarahahi nazus.Sarahah.com.
Bem, é isso… até a próxima. Espero não demorar muito.
Obrigada por acompanharem!

Setenta e Dois

 

Woohyun percorria os dedos afilados por meus cabelos. Desde que seus cabelos se foram completamente, ele passava mais tempo que o normal acariciando os meus. Por mais que aquilo me incomodasse um pouco – eu amava como antes ele mantinha os seu desarrumados, fugindo um pouco daquela imagem empertigada que ostentava quando o conheci – ficava feliz por perceber que o meu crescera desde que cortei, ele se sentia melhor ao fazer aquilo, era como uma extensão dos seus. Estávamos em sua casa, aproveitando os únicos momentos completamente sozinhos naquele lugar enorme, já que seus pais estavam fora resolvendo a vida corrida e adulta.

“Será que meu cabelo vai demorar a crescer?” Ele perguntou sonhador, e eu apenas dei de ombros.

“Se você se alimentar direitinho, acho que existe a chance de crescer rápido. Mas eu gosto de você do mesmo jeito.” Segurei sua mão por um instante e a beijei. Ele sorriu.

“Mas até minhas sobrancelhas estão indo embora!”

“Ainda assim você é Nam Woohyun. Vou continuar te amando.”

Ele se empertigou e colou seus lábios sobre os meus, rapidamente. O abracei, sentindo o corpo frágil junto ao meu. Precisava aproveitar cada um daqueles momentos, pois eram cada vez mais raros. Não queria que seus pais desconfiassem de mim. Por mais que eu o ajudasse, ainda não era visto como uma “ameaça” à sua família. Não queria que aquela proximidade terminasse por imprudência nossa.

“Você pensa muito sobre o futuro?” Perguntei, entrelaçando meus dedos entre os dele.

“Depende. Quando acordo me sentindo bem, penso em como serão os dias depois da cirurgia, se houver alguma. Acho que quero passar pelo exército antes de ir pra faculdade. Aqueles vinte e poucos meses não são pra sempre, mas a faculdade pode determinar minha vida. Não posso escolher qualquer coisa. E você?”

“Não sei…” Fechei os olhos por um instante, tentando me contemplar em alguns anos. “Não consigo ver muito adiante… Acho que é porque sou muito ansioso. Ou talvez porque eu queira me ver ao seu lado no futuro, em todas as circunstâncias. Sua decisão pode ser importante pra mim.”

“Mas não pode me esperar muito. As coisas podem mudar, nunca se sabe…” Ele disse incerto, afrouxando os dedos entre os meus.

“Você tem medo?” Perguntei baixinho, evitando olhar em sua direção.

“Morro.” Ele disse breve, notando a gravidade daquela palavra.

Morrer… de medo! A morte, mesmo que num sentido figurado, era algo que nos assombrava mais que o futuro, mais que o próprio câncer que insistia em não dar trégua. A morte era certamente algo muito volátil… Woohyun tinha leucemia, poderia morrer a qualquer momento. Assim como eu. Eu podia não ter câncer, mas um atropelamento ou uma intoxicação poderiam me levar mais rápido que ele. Aquele assunto era muito sombrio. Algo que nos incomodava, mas não sabíamos como lidar.

E o silêncio tomou de vez aquele quarto….

Virei-me e o encarei. De fato, a cabeça lisa começava a brilhar, a falta de suas sobrancelhas o acompanhavam, podia notar inclusive que seus cílios estavam mais ralos, como se quisessem desaparecer também. As maçãs do rosto praticamente não mostravam a protuberância saudável que um dia tiveram, os olhos fundos e bochechas magras mostravam um Woohyun fraco, mas o brilho em seu olhar, principalmente quando me fitava, permaneciam ali. Ele não parecia doente quando eu mergulhava em suas íris.

Seus lábios pálidos formaram um sorriso quando ele tocou meu rosto, e ele se aproximou para mais um beijo, interrompido pelo toque de um celular.

Sentei-me em um salto, buscando o som ritmado com o vibracal. Vinha da mesinha ao lado da cama, mais precisamente do meu celular. Pulei animado, correndo em sua direção. Em momentos de espera, o simples toque de um celular era capaz de me animar.

“Alô!” Disse prontamente, sem ao menos verificar de onde vinha a chamada – não tinha nenhum nome, não era da minha lista de contatos, depois de tudo.

Alô, gostaria de falar com Kim Sunggyu.” A voz masculina soou através do celular.

“Sou eu. Quem gostaria?” Sentei-me e Woohyun se uniu a mim, tentando ouvir.

Aqui é Oh Minhyun, médico da Clínica de Analíses. Gostaria de falar sobre o teste de compatibilidade que você realizou há uns dias.”

“Claro! Estava mesmo esperando essa ligação, doutor.” Empertiguei-me ansioso, cada segundo parecia uma eternidade.

Que bom, pois tenho boas notícias! Suas amostras têm grande nível de compatibilidade com as do paciente. Vocês podem não compartilhar o mesmo tipo sanguíneo, mas nossos testes indicam que é possível que sua medula seja transplantada com sucesso.

A voz do homem do outro lado da linha era animada. Diria até que esperançosa. Era poderosa o suficiente para fazer-me paralisar. Eu parecia ter saído de meu corpo, alcançado o cosmo, o universo, outra galáxia, não sei. Era como se ele plantasse algo em mim, algo maior que esperança.

Como se me desse uma nova oportunidade de vida.

Uma vida ao lado de Nam Woohyun.

Ele, por sua vez, me fitava ansioso, seus olhos perdidos nos meus com um grande ponto de interrogação naquelas íris que eu tanto amava. Nam Woohyun, minha maçã tão preciosa.

E eu o observava de volta, entre o silêncio do outro lado da linha e aquele ser tão precioso diante de mim. Eu, que pensava vê-lo como algo inalcançável. Como uma maçã no topo de uma macieira em cima de um precipício. Tão longe. Tão impossível. Eu que pensava vê-lo apodrecer diante de mim, que imaginava que jamais poderia ajudá-lo.

Eu, que vi as esperanças se esvaírem por entre meus dedos no momento em que Myungsoo desaparecera.

Mal podia imaginar que eu não era um simples Sunggyu que tentava alcançar uma maçã no topo de uma macieira. Sim, mesmo que eu me esticasse além de minhas possibilidades, eu jamais o alcançaria dessa forma. Meu papel não era esse…

Depois daquelas palavras, da comprovação daquela compatibilidade que eu imaginava não existir, notei que eu não podia realmente me esticar. Afinal, eu era, nesse tempo todo, o solo. Eu carregava – possivelmente – os nutrientes que alimentavam aquela árvore. Era, afinal, através de mim que minha macieira receberia nutrientes que poderiam mantê-lo vivo. Que poderiam salvá-lo.

Eu não podia ver até então pois era um solo árido, quase sem vida. Mas assim que a primeira lágrima escorreu de meus olhos e Woohyun prontamente a colheu, roçando seus dedos por meu rosto, esse solo foi irrigado. Foi fortalecido pela esperança. E com ela eu poderia finalmente agir de acordo com minha função. Nutrí-lo, alimentá-lo.

Ele ainda me observava sem entender, talvez não soubesse que aquela lágrima fosse de alegria, regozijo. E eu chorava copiosamente, talvez abrindo um sorriso torto e sem jeito, gaguejando palavras incompreensíveis pelo telefone.

Antes mesmo de saber o que deveria fazer, eu estava pronto.

“Isso é sério?” Perguntei ansioso, ouvindo o riso do outro lado da linha.

Mas é claro, só precisamos te entregar alguns medicamentos que podem ajudar no momento da doação. Mas como o paciente pode estar pronto para receber a medula, não queremos demorar. Se possível, venha hoje mesmo buscar. Em dois dias pode doar o sangue.”

“Claro, doutor. Eu vou para aí agora mesmo. Obrigado!”

Desliguei sem esperar que ele respondesse, jogando o celular em qualquer lugar e agarrando as mãos de um Woohyun confuso e aparentemente animado.

“Pelo amor de Deus, Kim Sunggyu, o que tá acontecendo?” Ele grunhiu, puxando levemente meu braço.

“Sou compatível, Woohyun. Posso doar a medula pra você…”

Ele não disse nada. As lágrimas espeças e copiosas diziam o que palavras não poderiam expressar. O soluço não demorou a subir até sua garganta, alta como um lamento, mas com tom de felicidade.

O abracei apertado, não me importando se o sufocaria ou não. Podia sentir suas mãos ao meu redor, me trazendo para mais perto, como se fossemos nos fundir um no outro. Não precisávamos de palavras quando nossos corpos falavam por nós. Quando os soluços e os risos perdidos pelo ar se misturavam, num som melodioso, quase como música.

Tão altos que não notamos que éramos observados pelos olhos confusos de Boohyun hyung e sua mãe, parados juntos à porta.

axeau

Não demorou muito até que Dongwoo, Hoya e Hyunhee nos alcançasse na clínica. Assim que explicamos à mãe de Woohyun o que estava acontecendo, nos aprontamos e corremos para lá. O doutor Oh me explicava em detalhes o procedimento enquanto eu ouvia a risada contagiange de Dongwoo, não muito longe dali, abraçando Woohyun de forma espalhafatosa. Todos pareciam muito felizes com a notícia, mas ninguém era capaz de superar a alegria que transbordava meus olhos enquanto eu fitava os de Woohyun.

Eram duas cápsulas que deveriam ser tomadas depois do jantar. Não entendi muito bem seu efeito, aparentemente elas ajudavam na renovação do meu sangue, algo complicado demais para eu compreender, ao menos não naquele momento de pura excitação. Assim que me uni ao grupo, pude ver aquela senhora que antes nos reprovava sorrir e segurar minha mão.

“Não acredito que finalmente vamos poder respirar um pouco. Muito obrigada, Sunggyu!” Ela sorriu.

“Ajummah, não precisa agradecer. É um prazer poder ajudar o Woohyun.” Respondi animado, vendo-a aproximar-se ainda mais e me dar um abraço.

Quase me sentia aceito. Ainda faltava muito para alcançar isso. Afinal, eu não desejava ser visto apenas como o amigo que ajudava Woohyun em qualquer circunstância. Depois de tudo, eu fazia tudo por amor. Queria que tal sentimento não fosse reprovado como se fosse algo proibido, sujo. Meus sentimentos por seu filho eram mais que puros, eram profundos e o motivo de continuar lutando. Eu faria tudo por ele.

Ela então beijou cada um de nós, agradecendo-nos por não deixar Woohyun de lado em um momento tão delicado. Quase não era capaz de me lembrar como ela o isolara do mundo… Enquanto a via fazer aquilo, fitava Woohyun e percebia o quanto Sungjong fazia falta.

Nosso maknae certamente ficaria tão feliz quanto nós ao saber que Woohyun tinha uma chance. Mas desde o desaparecimento de Myungsoo, Sungjong não dera as caras. Não atendia ligações, não postava nada em suas redes sociais… Antes de qualquer mágoa, eu estava preocupado. O que quer que tenha acontecido, não era por sua livre escolha.

Boohyun hyung sorria para Hyunhee e ela sorria de volta, como os cúmplices que um dia foram. Howon e Dongwoo pareciam ainda mais animados e aquele breve momento de normalidade me fez respirar novamente. Como se um peso enorme fosse retirado de meus ombros. Eu precisava desesperadamente daquilo.

“Que tal comemorarmos com samgyepsal?” Boohyun hyung disse, abraçando Woohyun.

“Acho maravilhoso! É por minha conta.” Sua mãe disse, encaminhando-se para a porta.

Em meio à toda aquela alegria, em meio à toda a sensação de paz que nos cercava depois de muito tempo, os olhos de Woohyun, que me fitavam por sobre seu ombro, eram como faróis que me iluminavam o caminho.

Enquanto eu tivesse aqueles olhos em minha direção, não havia nada que eu pudesse temer.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD