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Olá!

Finalmente, depois de tanto tempo, capítulo novo da nossa maçãzinha podre.

Eu tentei ao máximo continuar com o mesmo estilo de escrita de antes, mas não sei ao certo se consegui. É bem difícil manter o ritmo depois de tanto tempo, sem contar que acho que minha escrita mudou muito. Não sei se pra melhor, mas acho que posso continar tentando o meu melhor pra trazer algo digno da leitura de vocês.

Obrigada pela paciência e pela espera. Agora os fatos começam a correr mais rapidamente, mas pra não destoar do restante da fanfic, que foi bem lenta, vou tentar manter esse ritmo. Ela deve acabar pelos capítulos 90 ou 100, ainda não sei. Também ainda não tenho certeza sobre as atualizações, mas espero poder fazer isso semanalmente.

Mais uma vez obrigada! Boa leitura!

 

Sessenta e Oito

 

Cada minuto parecia durar horas… Cada hora tinha o peso de uma vida inteira.

Mesmo quando tudo me deixava oprimido devido à espera, nada poderia se comparar à ansiedade que me tomava ao aguardar notícias de Woohyun. Me envergonho ao admitir que montei acampamento diante de sua casa. Assim que Dongwoo e Hoya se despediram, corri para lá desesperadamente. Fiquei sentado em sua calçada por longas uma hora e meia, quando percebi que de nada adiantaria ficar alí. Aquilo não o faria chegar mais rápido e eu já estava cansado devido ao frio.

Ao chegar em casa, minha mãe parecia preocupada. O estresse dos últimos dias me deixara bastante cabisbaixo e, embora ela já soubesse da situação de Woohyun, minhas atitudes não faziam muito sentido para ela. Hyunhee tentara outras vezes explicar para minha mãe que a lealdade entre garotos era algo muito forte e, por vezes, incompreensível para mulheres, ainda mais considerando o fato de que elas são ensinadas a competirem entre si desde cedo. Mas ela ainda assim não entendia o poder de Woohyun sobre mim.

Eu precisava explicar a ela, mas ainda não tinha coragem de dizer que seu único filho estava apaixonado por outro garoto.

A abracei e tentei acalmá-la, explicando que estava com os caras almoçando, e me tranquei em meu quarto pelas próximas horas.

Me pus a observar a estrela de Woohyun. Aquele pequeno enfeite fluorescente que me traziam tantas lembranças confusas, boas e terríveis, e me perguntei se algum dia aquele sofrimento acabaria. Me perguntei por que algumas coisas parecem não querer funcionar para algumas pessoas, enquanto para outras, independente de seu caráter, funcionam perfeitamente.

Era injusto notar que, quando finalmente pude ter a plena certeza dos sentimentos de quem mais amava na vida, teria que enfrentar questões tão intensas, tão profundamente maiores que as que costumava ter há um ano. Engraçado como meu sofrimento naquela época parecia ser apenas uma curiosidade, uma pequena ferpa sob minha pele. A expectativa por notícias sobre o destino de Woohyun me esmagavam como areia movediça.

Tentei ligar para Sungjong, minha segunda maior fonte de informação depois de Hyunhee, mas ele não atendia. Era maravilhoso ter mais uma preocupação, já que ele não aparecera na escola hoje. Sungjong certamente estaria em apuros, pois se alguma convicção me resta, é a de que Sungyeol não teria simplesmente aparecido na clínica no dia em que encontrei Myungsoo lá. Aquele garoto cheirava a problema mesmo estando há metros de distância e a menor possibilidade de sua interferência me deixava ainda mais irritado.

Eu realmente não queria recorrer à Hyunhee. Ela parecia tão magoada pela manhã que seria injusto procurá-la apenas para adiantar o que Woohyun mesmo poderia me contar mais tarde.

Me sentia mal ao perceber o peso que causara às pessoas ao meu redor. Desde o início, tudo o que fizera fora preocupar meus amigos, fazê-los ouvir minhas reclamações e não oferecer qualquer tipo de ajuda de volta. Minha garota estava sofrendo também, só agora podia perceber isso.

Respirei fundo e peguei o celular. Precisava me distrair e ela seria a melhor pessoa para isso. O quão egoísta eu era? Após alguns toques, ouvi sua voz rouca do outro lado da linha.

Gyu-yah, ainda não sei…”

“Hyunhee-ya, como você está?” A interrompi antes que pudesse continuar. “Estou muito preocupado contigo, os caras também. Tem algo que eu possa fazer?”

Ah, Gyu…” Pude ouvi-la soluçar e aquilo de certa forma me deixou ainda pior.

“Não posso dizer que te entendo, mas se tem algo que aprendi contigo foi empatia… não sofra sozinha, Hyun-ah.”

Ouvi um soluço baixo e o som de sua respiração entrecortada. Ela estava chorando há algum tempo, essa seria a única explicação para a sensação pesada que podia sentir, mesmo através do celular.

Até quando eu vou sofrer por outra pessoa, Sunggyu? Estou cansada!” Ela gritou e pude ouvir um baque, como se algo fosse jogado contra a parede. “Quando finalmente pude superar o Dongwoo e um cara legal me notou por quem eu sou, ele tem que lidar com uma mulher que não quer terminar por nada nesse mundo!

“Boohyun hyung deu notícias?” Perguntei ansioso, ouvindo-a grunhir ainda mais.

Ele pediu para terminar, mas aquela infeliz disse que não seria tão fácil assim e contou aos pais dela que está grávida! Ele não consegue simplesmente terminar com ela até que prove o contrário. Ela não ajuda!

“Ela tá mesmo grávida?”

Claro que não!” Hyunhee soltou um grito estridente. Nunca a vira tão irritada. Queria apenas poder abraçá-la e tentar acalmá-la um pouco. Eu definitivamente não era a única pessoa a sofrer. “Boohyun oppa disse que eles não transam desde que Woohyun foi passar as férias lá, já faz muito tempo. Se ela estivesse mesmo grávida a barriga teria começado a aparecer. Ela só não quer contribuir. Nem a situação de Woohyun a faz ponderar um pouco.

“Ele falou o porque de terminar?”

Não disse que é por mim… Disse que é porque precisa se dedicar à recuperação do Namu… Ele não diria que é por mim. Acho que nem eu acredito que seja por mim… Por que ele faria isso, depois de tudo?” Ela riu, podia ouvir o som nazalado e paralizante do outro lado da linha.

“Hyunhee, não pense assim. Você é a mulher mais incrível que tive o prazer de conhecer na minha vida.”

Eu só sou uma garota de dezessete, Kim Sunggyu. Uma estudante de ensino médio que ainda não terminou os estudos básicos. Eu não posso competir com uma mulher de vinte e cinco. É quase impossível. Sou só uma garota...”

“Acha mesmo impossível que uma garota possa fazer um homem se apaixonar?” Mal terminei minha frase e a ouvi grunhir.

Você percebeu o que acabou de dizer? Garota… Homem… Nem eu estou mais certa sobre isso tudo. Mas talvez seja melhor assim… Mais um ano e serei uma mulher. Talvez as coisas mudem. Talvez não. Eu só quero poder chorar agora e esquecer isso. Se ele realmente gostar de mim, um dia poderemos ficar juntos. Agora não é o momento.

Assim que Hyunhee terminou, não pude não notar o silêncio que se estendeu. Como podia uma simples garota ter a sabedoria de um adulto? Por maior que fosse a diferença de idade entre eles, não conseguia entender qualquer motivo que pudesse fazer com que alguém não se apaixonasse por ela. Mas, no final, ela tinha razão.

“Eu sinto muito…” Sibilei assim que notei que ela não diria mais nada. “A vida parece não gostar da gente, não é mesmo?”

De mim, tenho certeza que não. Mas não vou desistir, Gyu-yah. Esperar não é desistir. Você é a prova viva disso”.

“Mas não estou esperando… Estou gritando por dentro de tanta ansiedade.”

Não se sinta assim, logo tudo se resolve. Nam Woohyun é forte e você também.

“Obrigado.”

Naquele momento, percebera que de fato éramos fortes. Talvez a força que exista em mim não seja a física. Definitivamente não era esse tipo de força que corria em minhas veias. Fosse essa, eu já teria exaurido há muito tempo. As vitaminas e a vontade de estar ao lado de Woohyun eram as únicas coisas que me mantinham em pé.

Tal força vinha de dentro. De algum lugar que nunca chegara a conhecer até o momento em que notei que outra pessoa precisaria de mim. Não dos meus músculos, mas do meu amor. Não de algo exterior e que se deterioraria com o tempo. Woohyun precisava de mim como uma árvore precisa de om bom solo.

Enquanto eu pensava em colher Woohyun como se colhe uma maçã, todas as circunstâncias o tiraram de mim. Quando finalmente o tinha tocado, a vida parecera o levar para longe. Quando finalmente ele me confidenciara seu amor, o câncer me dissera que eu não poderia interferir em seu destino. Talvez eu devesse apenas tocá-lo de outra forma.

De que forma a vida deveria tocar Hyunhee e Boohyun naquele momento? Só o tempo poderia dizer.

Sunggyu-yah, estou muito orgulhosa de você.” Ela sussurrou do outro lado da linha, como quem conta um segredo.

“Oi?” Perguntei confuso, tentando entender o que ela queria dizer.

Você conseguiu compreender o que é o amor… E mesmo que seja difícil, não pensou em desistir. Quando penso em jogar tudo para o alto – e eu nem tenho tudo, – me lembro de como você persistiu. E isso me deixa muito orgulhosa.”

“Hyun-ah…”

Obrigada por me ouvir. Precisava contar isso a alguém que pudesse entender. Agora preciso terminar de lavar os camarões. Minha mãe não vai chegar a tempo hoje.”

“Ela não falou nada sobre…”

Não. Gyu, a partir de agora eu não vou mais conseguir te passar as informações. Mamãe precisa se dedicar cem por cento a este caso e já não tem tempo nem para chegar para o jantar. Sinto muito.”

“Não se preocupe, Hyun-ah. Eu entendo.”

Sei que não entende, mas obrigada por tentar.” Ela sorriu pela primeira vez e eu não pude evitar sorrir junto.

“Até mais.”

Ela não respondeu. Apenas desligara a ligação e fiquei com o tom de ocupado buzinando em meu ouvido.

Deixei o celular escorregar de meus dedos e abaixei os braços, tentando absorver o que acabava de me ocorrer. A vida parecia realmente querer nos apunhalar, de uma forma ou de outra. Mal sabia ela que não éramos adolescentes comuns. Éramos sedentos pelo que amávamos, estávamos prontos a lutar pelo que quer que fosse e, mesmo que uma batalha nos abatesse momentaneamente, a guerra não estava vencida.

Permaneci assim tempo suficiente para pegar no sono, mas acordei assustado ao sentir o celular vibrar junto à minha orelha. Sentei-me rapidamente e atendi sem ao menos ver quem era, mas ao reconhecer aquela voz, senti-me completamente disperso.

Gyu, meu amor. Preciso de você aqui. Agora.”

Antes mesmo que pudesse perguntar por que, ele havia desligado a chamada.

axeau

Em menos de cinco minutos estava sentado na sala de sua casa. A mãe de Woohyun estava na cozinha enquanto preparava o jantar. Seu pai assistia à TV e parecia não notar minha presença. Minha preciosa maçã, por sua vez, estava trancada no banheiro e, quanto mais demorava, mais me deixava nervoso.

“Sunggyunie, tome aqui este chá de ginseng. Sua mãe me disse que você gosta, então preparei um pouco mais. É o meu favorito.” De repente sua mãe apareceu ao meu lado com uma xícara alta de chá,  e eu tentei disfarçar minha surpresa. Não esperava que ela aparecesse assim.

“Obrigado!” Disse, curvando-me para ela enquanto pegava a xícara. “Está muito gostoso, senhora. Ainda melhor que o que minha mãe costuma fazer.

“Não precisa agradecer, querido. Você tem sido um anjo em nossas vidas.”  Ela sorriu e voltou para a cozinha. Era tão estranho vê-la agir daquela forma que não conseguia evitar a sensação de estranhamento. Talvez se ela descobrisse a verdade sobre mim, não seria tão grata assim.

Pela metade da xícara, Woohyun apareceu na sala. Estava mancando, mas ao menos podia andar um pouco. Sorri para ele e me levantei, sem conseguir evitar o reflexo de correr até ele. Seu pai me encarou por um tempo, mas logo voltou sua atenção para a TV.

“Woohyun-ah, tá tudo bem?” Perguntei ansioso e ele riu um pouco.

“Sim… eu tô bem. Só é um pouco difícil controlar algumas coisas.” Ele sorriu constrangido e eu o toquei, não podia evitar tocá-lo. “Preciso te contar tudo, mas acho melhor irmos pro meu quarto.”

“Sua mãe não vai implicar?”

“Não, ela tá ocupada demais pra ficar nos vigiando. Vem!”

Ele me levou até seu quarto como se aquela fosse a minha primeira vez em sua casa. A energia que sentia dele era definitivamente diferente, como se houvessem soprado vida nova em suas veias, e aquilo, de certa forma, me deixara mais tranquilo. Assim que entramos no cômodo, Woohyun trancou a porta e me abraçou. Um abraço apertado e íntimo, algo que eu precisava há algum tempo e, pelo visto, ele também. Quando seus olhos se encontraram com os meus e ele sorriu, não pude evitar beijá-lo.

“Kim Sunggyu, estou tão feliz!” Ele riu e se segurou em mim. Por reflexo, passei o braço por suas pernas e o levei até sua cama.

“Me conta! Preciso de boas notícias!” Sentei-me ao seu lado e ele segurou minhas mãos. O calor delas me fazia esquecer quão frágeis e pequenas elas pareciam entre as minhas.

“Os testes saíram e Myungsoo é compatível!” Ele disse entre um sorriso tão brilhante que seria capaz de ofuscar o sol. Nunca o vira tão radiante.

“Isso é incrível, Namu-yah! O que é preciso fazer agora?” Perguntei tão animado que a ideia de que Myungsoo seria parte das células de Woohyun não parecia me afetar.

“A doutora disse que vai colher a medula do Myungsoo por aférese, porque a punção pode não ser uma boa abordagem. Ele vai tomar uns remédios por uns dias e depois vão tirar o sangue dele. É uma coisa meio doida, mas parece que eles retiram a medula do sangue. Não entendi muito bem…”

“Ele tava lá também?” Perguntei ansioso, talvez ele percebeu uma pontada de ciúme em minha voz. Era difícil imaginar que ele estaria lá e eu não.

“Não, mamãe não suportaria olhar pra ele. A doutora deve ter ligado pra ele antes mesmo de falar com a gente. Como ele doou, nós vamos pagar pelos medicamentos que ele vai tomar e pelo procedimento. Ele só precisa doar mais um pouco de sangue e tudo terá acabado.” Ele parecia aliviado.

“Entendi. É tão simples assim?”

“Quem dera!” Ele riu, uma expressão sábia tomando conta daquele rosto tão lindo que ele tinha. “Pode ser que meu corpo rejeite a medula. Sem contar que depois da cirurgia, por causa da adaptação, eu tenha que ficar ainda muito tempo internado. Mas pelo menos é uma luzinha no fim do túnel.”

“Sim, fico feliz com isso!” Disse, tentando parecer animado, mas não pude evitar me preocupar com as possíveis reações.

“Eu também! E logo Boohyun hyung volta de uma vez por todas para a Coreia. Poderei me recuperar ao lado das pessoas que amo. Nunca estive tão feliz!”

O sorriso de Woohyun era ainda maior que o sol. Seus olhos tinham um brilho genuíno que me enchia de esperança. Me alimentavam a alma cansada como um sonho bom depois de uma série de pesadelos. Não sabia o que dizer, não conseguia sequer processar toda aquela informação de uma vez.

Tudo o que podia fazer era sorrir diante da felicidade daquele diante de mim. Woohyun era minha fonte de paz e, naquele momento, enquanto acariciava os cabelos rentes à sua cabeça, enquanto sentia o calor de suas mãos sobre a minha, enquanto seus olhos estavam em mim, era como se todo o peso em meus ombros naqueles últimos meses fosse removido.

Eu estava pronto para acompanhá-lo naquela nova jornada.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD