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Trinta e Oito

Tentar. O que tal verbo significava para Woohyun, quando ele o conjugara com tanta veemência?

Eu não sabia como agir quando tudo me parecia tão turvo, e então, apenas deixei estar. Não era como se ele houvesse proposto namoro, e eu tampouco levantara tal hipótese. Mas, para tentar gostar de alguém, era necessário que a outra pessoa fosse envolvida no processo. No caso, eu.

Naquela sexta, depois do segundo período de aula, Dongwoo insistiu que deveríamos almoçar juntos, então seguimos para a padaria próxima à escola. Woohyun estava mais sorridente que o de costume. Mais solto que o de costume. Ele me observava, vez ou outra sorria em minha direção, e eu sabia que aquele não era um sorriso qualquer. Era o sorriso de alguém que estava disposto a compartilhar seus risos.

Dongwoo e Hoya nos analisava, eu podia sentir. Meu melhor amigo se demorava ao analisar as atitudes de Woohyun e, quando voltava a me olhar, sorria de canto. Ele sabia que algo havia acontecido, mas era esperto o bastante para não parecer suspeitar de nada. Hoya o acompanhava, e aquela cumplicidade me fazia desejar ainda mais um relacionamento como o deles.

Depois da sobremesa e mais algumas risadas, nos despedimos e tomamos rumos diferentes. Era engraçado como morávamos em direções opostas, mas sempre havia um para acompanhar outro, e nunca seguíamos sozinhos.

No caminho de volta, Woohyun seguiu calado, um sorriso bobo era a única coisa a pender de seus lábios. Eu não sabia o que dizer, não sabia se deveria dar o primeiro passo. Me sentia pisando em ovos e, por mais que ele me desse abertura cada vez que me fitava e sorria, aquela situação não mudava. Woohyun parecia disposto a dizer algo, mas ainda havia alguma resistência.

Se eu realmente desejava dizer ou ouvir algo, devia me apressar, já que faltava pouco para chegarmos à sua casa.

“É tão bom quando você almoça com a gente.” Eu disse, e ele desviou seus olhos até os próprios tênis. Woohyun tinha as maçãs do rosto avermelhadas, e era simplesmente adorável.

“Eu gosto muito de estar entre vocês.” Ele voltou a me fitar, e eu sorri. Nada poderia ser melhor que estar ao seu lado.

O que eu poderia dizer? Que estava apaixonado por ele e que cada pequeno segundo ao seu lado era precioso? Que sempre que ele sorria, meu coração se expandia um pouco, para guardar mais uma de suas expressões? Que eu amava quando ele movia sutilmente sua sobrancelha direita quando estava animado falando sobre algo que gostava, e que ninguém mais repararia naquilo, porque eram poucos milímetros e quase impossível de se notar o movimento? Que eu queria poder fugir consigo ao meu lado, e beijá-lo até que nos faltasse o ar, ou que o abraçaria até que meus braços estivessem cansados? Eu podia não dizer em voz alta, mas meu sorriso dizia tudo aquilo por mim.

Woohyun diminuiu os passos, e eu me pus em alerta. Mas ele parecia bem, então eu interpretei aquilo como uma forma de passar mais tempo comigo.

“Gyu-ah…” Ele disse, aproximando-se de mim. Nossos ombros se tocaram e era como se estivéssemos colados um ao outro. “Você pode confiar em mim?”

“Claro que posso.” Respondi surpreso. Onde ele queria chegar com aquilo?

“Eu também confio em você. Quer dizer, somos amigos há pouco tempo e você me passa confiança.” Ele começou, e eu tentava adivinhar onde ele queria chegar. “Acho que tudo o que precisamos é confiar um no outro.”

“Sim.” Eu não sabia o que dizer. Não havia nada além daquilo a ser dito, e eu tentava pensar em algo esperto o bastante para que o surpreendesse. Nada era capaz de sair de minha boca, mas ainda assim eu tentei. “Eu sinto que posso confiar completamente em você.”

Woohyun sorriu de canto de lábio, e fitou meus ombros. Eu olhei para frente, tentando esconder dele o sorriso que adornava meu rosto de um canto ao outro. E então, eu senti os nós de seus dedos roçarem os meus sutilmente. A pele fria sobre o calor da minha, a forma como rapidamente ele pusera suas mãos nos bolsos assim que sentiu meus dedos vacilarem em sua direção, o riso baixo que escapou de si assim que eu coloquei minha mão em meu bolso também.

Todas aquelas sensações que me eram presenteadas, que pareciam um sonho do qual eu não desejava acordar… Eu sentia que meu coração finalmente se aquecia, se preparava para recebê-lo. Para estar ao lado dele.

Eu finalmente entendia a pergunta de Woohyun. Entendia que, para que tentar fosse possível, deveríamos nos aproximar. Sermos amigos. Confiarmos um no outro.

Eu confiava nele.

Entre sorrir sem motivo e pensar no sorriso de Woohyun, o dia se fez noite e eu me preparava para dormir. Sungjong me convidara para ir ao karaokê e Hoya faria uma festa do pijama em sua casa, mas tudo o que eu queria era me deitar em minha cama e repassar lentamente cada uma das palavras que Nam Woohyun me dissera naquela manhã. Mesmo que eu estivesse em um lugar cheio de pessoas conversando e fazendo barulho, a única coisa que poderia ouvir seria eu quero tentar.

Movi-me sobre a cama e abracei meu travesseiro. Ao meu lado, o celular, tão convidativo quanto aquele sorriso que recebera mais cedo. O agarrei e digitei a primeira coisa que me ocorreu.

‘Só queria dizer que estou pensando em você. Boa noite ^^’

Cliquei no botão enviar e abandonei o celular. Eu realmente não esperava uma resposta. Só queria fechar meus olhos e ver seu rosto. Pensar nele até adormecer. Sonhar consigo.  Mas para minha surpresa, o celular vibrou sobre o colchão, e o agarrei com certo desespero, abrindo a mensagem sem ao menos ver se era realmente dele.

Eu também estava pensando em você. É estranho, mas me sinto muito feliz em saber que pode confiar em mim.’

Não podia fazer nada além de sorrir. Sorrir e imaginar seu rosto, seus lábios, a forma como seus olhos se curvavam quando ele ria. O som de sua voz. Ah, eu tentara uma vez esquecer Nam Woohyun, mas ele estava tão impregnado em minha pele, em minha alma, que seria difícil ter sucesso em tal intento.

‘Você também pode confiar em mim. Eu já disse, mas acho que nunca é demais relembrar. ’

Encarei a tela do aparelho e mordisquei o lábio inferior. Quanto mais rápido ele era mais eu me sentia ansioso.

Sunggyu, você é um bobo!

‘Eu sei! Você é outro!’

Um bobo que me faz rir. Eu gosto disso de uma maneira bem estranha.

‘Mas você é estranho Namu-yah!’

Eu ri, e nós continuamos a trocar mensagens de texto. Era como se conversássemos lado a lado, eu imitava sua voz ao ler cara uma das letras dispostas naquele pequeno visor.

Se sou bobo, o que você é? Gyu Gee Gee…

‘Eu sou um bobo e meio… Namu-yah, já disse que você estava lindo hoje?’

São seus olhos… Que ficam ainda mais lindos quando você sorri pra mim.

Prendi a respiração enquanto lia aquela mensagem, e a reli ao menos umas cinco vezes. Meus olhos não eram capazes de se desviar de cada pequena letra, cada significado por trás delas. Meus dentes prendiam meu lábio entre eles, e eu imaginava Woohyun. Ah, aqueles dentes tão retos e brancos e perfeitos… O imaginava sorrindo enquanto escrevia aquela mensagem. Imaginava-o dizendo aquilo em alto e bom som, e eu podia de fato ouvir sua voz. Estávamos flertando, era isso mesmo?

Em toda minha vida eu poderia imaginar qualquer coisa idiota e ridícula vinda de uma troca de mensagens de texto com outro garoto, mas nunca imaginei que poderia flertar, não com Woohyun. Eu não podia conter meu coração, ou minhas emoções, ou qualquer outra coisa que me mantivesse no mundo real.

Quando Woohyun dissera que desejava tentar, ele realmente se esforçava nisso. E soava tão romântico. Me fazia sentir como o último cara no mundo inteiro. Me fazia sentir coisas que ninguém nunca o fizera, e sim, Nam Woohyun era o dono de todas as primeiras vezes que eu poderia me lembrar.

‘Mentira. Nada pode ser mais lindo que o seu sorriso.’

Enviei e suspirei sonoramente. Ah, Nam Woohyun, o que você faz comigo? Eu não poderia agir de outra maneira quando aquilo era tudo o que ele podia extrair de mim. Antes que eu pudesse me mover sobre o colchão e encontrar uma posição confortável, o celular vibrou uma vez mais, e só poderia ser ele.

Tenha bons sonhos, Gyu.

Ele finalizou, e eu apenas respondi ‘Boa noite, Namu’. O que poderia ser melhor que aquilo? Nada se comparava ao aquecer de meu coração ao saber que ele também pensava em mim. Ou ao menos era o que ele dizia. Mas Woohyun mesmo havia pedido que eu confiasse nele, e se aquilo era parte do processo, ele tinha toda minha confiança. Todos os meus pensamentos. Todos os meus sonhos, dos mais puros aos mais intensos. Tudo o que havia de melhor em mim. Woohyun teria meu coração, o que mais poderia querer?

Despertei ao som de meu celular, que tocava desesperadamente. Entreabri os olhos e o encarei – eu não deixava o alarme ligado nos finais de semana, então aquele provavelmente não era o despertador. Depois de um minuto, eu finalmente notei que se tratava de uma chamada, e o agarrei assustado.

“Alô?!”

Hyung! Seu preguiçoso!” A voz de Sungjong ressonava aguda do outro lado da linha.

“Hã?” Olhei a tela do celular e me irritei. “Sungjong-ah, são dez da manhã!”

Isso mesmo, hyung! Hora de levantar e aproveitar o dia.

“Você não dorme?” Escondi o rosto sob o edredom, mas o calor já era notável.

Eu durmo, mas também acordo. E acordo você se preciso.” Ele vociferou do outro lado da linha e eu ri. Como se Sungjong pudesse me dar medo. “Fui ao karaokê com Hyunhee noona ontem à noite. Ela me disse que você está em apuros e quer te ver. Passo na sua casa em quinze minutos.

“O quê? Quinze minutos? Eu ainda to na cama e…”

Vou desligar, hyung… Você precisa se apressar. Tchau.

Antes que eu pudesse dizer algo, o tom de ocupado me avisou que Sungjong realmente havia desligado a chamada. Afundei o rosto entre os travesseiros, ajoelhando-me sobre a cama e, quando finalmente entendi o que quinze minutos significava, saltei da cama e corri para o banheiro. Tomei um banho rápido e, antes de sair disparado em direção à porta, peguei uma maçã da fruteira.

Sungjong já estava à porta de minha casa, conversando com minha mãe. Ele falava animado e ela o admirava enquanto segurava a vassoura que usava para varrer a calçada. Passei por eles, e ela beijou meu rosto, me envergonhando diante do meu amigo. Grunhi em reclamação, e ela bateu em minha bunda, o que era pior que o beijo.

Quando já estávamos fora do portão, e minha mãe voltava a varrer a calçada, Sungjong acenou para ela e me encarou. Ele mantinha essa expressão de deboche que eu detestava.

“Qual é o problema de vocês com maçãs?” Ele perguntou, ajeitando a mecha de cabelo que saíra do lugar.

“Foi a primeira fruta que vi.” Me lembrei da maçã que levava em minha mão, e a esfreguei em minha blusa, preparado para dar a primeira mordida.

“Ela é tão vermelha…” Sungjong a olhou admirado.

“Sim! Eu adoro quando elas estão assim. A casca parece mais gostosa.”

“Myungsoo hyung odeia cascas de maçãs. Detesta tanto que Sungyeol hyung não come mais, ele descasca tudo e deixa lá, as cascas fresquinhas e gostosas em cima da mesa.” Ele moveu as mãos, e riu. “Eu como tudo depois.”

“Muito bem, não se deve desperdiçar a melhor parte.” Eu disse, tentando não me lembrar de Myungsoo descascando maçãs. Tentando não reviver aquele dia em que o vi discutir com Woohyun. Dei de ombros e mordi a maçã.

“Ela parece estar uma delícia!” Sungjong olhou para minha fruta com tanta vontade, que quase a derrubei no chão. A mordi novamente, sentindo a textura e o sabor se modificarem em minha boca, e a analisei, notando que próximo às sementes, ela estava escura, com um aspecto estranho.

“Ah, essa maçã está podre.” Disse, lamentando ter de jogar fora uma maçã tão bonita. “Detesto quando isso acontece.”

“Engraçado, vendo assim, eu diria que ela foi recém-colhida. Tão vermelha e vistosa, eu queria um pedaço.” Sungjong reclamou assim que me viu jogar a fruta em uma das lixeiras dispostas em frente à casa do vizinho.

“Agora vou ficar com fome!” Protestei, e Sungjong passou o braço por meu ombro.

“Não se preocupe, hyung, Hyunhee noona vai fazer algo pra você comer.

Cinco minutos de caminhada depois, e estávamos diante do portão da casa de Hyunhee. Ela nos esperava no banco em sua varanda, e correu até nós quando nos viu. Estava linda, como sempre, principalmente quando eu podia notar o sorriso cúmplice que ela dera a Sungjong.

“Vocês demoraram!” Ela logo abraçou Sungjong e, assim que o soltou, pulou em meus braços. Sentia falta de abraçá-la assim, de estar com ela. “Sunggyu, há quanto tempo não te vejo por aqui!”

“Pois é… Eu meio que sumi.”

“Você meio que deixou de andar comigo pra ficar por aí com o Woohyun!” Ela disse, fazendo um bico.

“Noona, você também notou isso? Fui completamente abandonado por ele!” Sungjong disse entre dentes, os olhos felinos em minha direção.

“Hey, não se unam contra mim!” Apontei para eles, e os dois me mostraram a língua. Eu devia proibir Sungjong de andar com Hyunhee, ele a transformava em uma monstrinha. “Hyunhee-ah, me alimente!” Pedi, e ela se pôs atrás de mim, empurrando-me para dentro de sua casa.

“Vamos, não temos muito tempo!”

Ela nos levou até a cozinha, e lá estava o banquete do qual Sungjong falava. Comemos bolo de chocolate, biscoitos assados por ela e suco de laranja. Sungjong dizia que se continuasse a visitando, logo sairia de seu regime e ganharia peso, e Hyunhee brincou, dizendo que ele seria levado por uma ventania se continuasse com essa história de regime. Rimos, brincamos, lavamos a louça e subimos até o quarto dela.

Em sua escrivaninha, fotos minhas ao seu lado. Fotos com Sungjong no boliche, fotos de nós três em minha casa, jogando jogos de tabuleiro. Eu sorri ao ver cada um dos pequenos frames com nossos rostos sorridentes, e planejei uma forma de pegar um daqueles porta-retratos para mim. Hyunhee bateu em minha mão assim que eu me aproximei de um deles, e me puxou até a cadeira no meio de seu quarto.

“Toque em um deles, e é um homem morto!”

“Esperem aí… Me trouxeram aqui pra me matar?!”

“Hyung, eu achei que você demoraria mais para perceber isso.” Sungjong disse, fingindo desmaiar sobre a cama de Hyunhee. Agarrou um dos bichinhos de pelúcia e o apertou contra o peito.

“Estou chateado com vocês.”

“Você não tem o direito de se chatear, Kim Sunggyu. Agora fique bem aí que eu já volto.”

Hyunhee entrou no que parecia o banheiro, e não demorou até que voltasse com um pote, pente e algumas luvas. Eu a encarei, e ela sorriu travessa, como se fosse aprontar uma grande bagunça. Sungjong a fitou e eles riram, me deixando perplexo.

“O que vocês estão aprontando?” Perguntei confuso, e ela deixou tudo sobre a escrivaninha.

“Vamos te salvar desse tom rosado que mais parece um flamingo na sua cabeça, Kim Sunggyu.” Sungjong gargalhou assim que ela terminou, e eu o fuzilei com o olhar.

“Estou muito satisfeito com o meu cabelo!”

“Não, de jeito nenhum!” Sungjong se levantou em um pulo, andando a passos largos em minha direção. “Esse cabelo está ho-rri-vel!”

“Ah, nem vem! Não está tão feio assim!” Tentei me defender, mas Sungjong se colocou atrás de mim, abraçando-me para que eu não saísse do lugar.

“De jeito nenhum que vou deixar que você ande por aí com esse cabelo, hyung. Não vai demorar, e a tinta é castanha! Você vai só escurecer um pouco. Tons escuros combinam melhor com você.”

“Mas e se eu quisesse pintar meu cabelo de loiro?”

“Eu já estou loira, e não quero que andemos com cabelos do mesmo tom. Essa cor vai ficar boa em você, Gyu, e vai ser rápido! Prometo não te manchar!”

Hyunhee sorriu para mim e beijou a ponta de meu nariz. Como eu podia dizer não para aquela garota? Ela era adorável e encantadora e sabia quais armas usar contra mim. Sungjong, por sua vez, bateu em minha cabeça e correu até a cama de Hyunhee, saltando contra o colchão. Ela o fitou de soslaio e logo ele se pôs a brincar com os ursinhos e bonecas sobre a cama dela.

Ela levou dez minutos tingindo meu cabelo, e eu sentia o nariz coçar com o odor da tintura. Hyunhee abriu uma das gavetas de sua escrivaninha e sacou de lá uma máscara com estampa de onça. Jogou aquilo em meu colo, e se sentou na cama, ao lado de Sungjong. Assim que a coloquei, o garoto riu de mim, fazendo caretas que eu não compreendia.

“Qual o problema?!”

“Não sabia que o hyung ficava tão bem de estampa de animais.” Ele ironizou, e Hyunhee o beliscou.

“Sungjong não sabe nada de moda. Essa é minha máscara favorita. E você provavelmente está sentindo cheiro de baunilha, não de tinta de cabelo… Então não reclame, Sunggyu!” Ela foi mais direta do que esperávamos, e Sungjong rolou na cama.

“Sunggyu hyung já te contou as novidades?” Ele provocou, e ambos se olharam. Eu estava com medo do assunto que aqueles dois conversavam quando eu não estava por perto.

“Ele não me conta nada! Eu acho que vou ter que arrancar tudo sob tortura!”

“Por que não fazemos isso agora, já que ele está vulnerável?!” Sungjong se levantou, e Hyunhee o segurou pela mão.

“Olhe só pra cara dele.” Ela cochichou, e o garoto riu. “Está morrendo de curiosidade. Aposto que está se mordendo, querendo saber o que nós conversamos ontem à noite.”

“Sunggyu hyung é um hyung mau! Não merece saber sobre o que conversamos.”

“Vocês querem parar com isso?” Me enervei, e os dois me encararam assustados. “O que você disse a ele, Hyunhee?”

“Nada! Você que é um estressado chato que acha que estamos falando algum tipo de verdade ao seu respeito. Agora nos conte tudo, Kim Sunggyu!” Ela sempre sabia como dar a volta na situação. Garota esperta!

Respirei fundo, tentando ignorar a coceira que a tintura provocava em meu couro cabeludo, e me atrevi a contar-lhes. Eles já sabiam de minha paixonite por Woohyun, o que mais eu poderia fazer? O único detalhe que ocultei deles – o que inclusive ocultei de Dongwoo e, se havia alguém no mundo que merecia saber primeiro, era meu melhor amigo – sobre o fato de que havia me confessado a Woohyun, e Sungjong disse que seria fácil conquistá-lo. Hyunhee concordou, dizendo que de fato não demorou até que eu conseguisse beijá-la, e Sungjong me provocou de todas as formas possíveis.

Eu os julgava, e eles riam entre si. Definitivamente eu não deveria tê-los apresentado, pareciam aliados contra mim.

“Sunggyu-ah, o que você está esperando?!” Hyunhee perguntou, me olhando de forma confusa.

“O quê? Tá na hora de lavar a cabeça?” Me levantei da cadeira, e Sungjong desatou a rir.

“Idiota!” Eles disseram em uníssono, e eu joguei a cabeça para trás, desistindo de minha vida. Para quê tentar vencer aqueles dois? Era impossível.

“Ok. Se querem saber, eu já beijei o Woohyun. Mas ele me ignorou completamente depois disso.” Eu disse, e Sungjong cobriu o rosto com as mãos.

“Você deve ter feito do jeito errado, hyung.”

“De jeito nenhum! Ele fez do jeito certo comigo, oras… Mas no caso, eu sou uma garota.” Ela analisou e Sungjong riu. “Esqueci que ele é um garoto...”

“Mas Woohyun hyung é mais gay que a bandeira do arco-íris!” Ele disse sério, e ela desatou a rir.

“Cala a boca, Lee Sungjong! Você é tão gay quanto ele!”

“Não me entregue desse jeito, hyung!”

“Ele não te entregou, Sungjongie… Ou acha que eu não percebi? Tá escrito na sua testa!”

Sungjong deu um de seus gritos agudos, e eu ri dele. Estávamos no quarto de uma garota que usava uma camiseta larga e shorts curtos, um de nós sentados em sua cama, e éramos gays. Ou um gay e um bissexual, já que eu não havia encontrado problema algum em beijá-la. Hyunhee nos fitava confusa e espantada, e eu sabia que para ela aquilo era muito confuso. Pobre Hyunhee.

Nós tentamos convencê-la de que aquilo era mais normal do que parecia, e Hyunhee se imaginou beijando uma de suas amigas, mas logo desistiu e disse que esperaria que um garoto hetero aparecesse em sua vida.  Rimos de nós três, e minutos depois ela me arrastou para o banheiro, para lavar meu cabelo.

Mesmo que me sentisse envergonhado por tudo o que havia dito, me sentia mais leve. Era sempre bom desabafar, principalmente quando o fazia com pessoas como Hyunhee e Sungjong, que me animavam e me faziam esquecer-me dos problemas.

Depois de lavar meus fios, notei que o castanho havia ficado perfeito, exceto por minha franja, que estava manchada de vermelho. Sungjong disse que era um charme, e Hyunhee concordou, o que me deixou mais aliviado.

Passamos o resto da tarde conversando, nos divertindo, atacando o bolo maravilhoso que sua mãe fizera para nós, e eu me sentia mais confiante a cada vez que eles me encorajavam a correr em busca de Woohyun. Aquilo era tudo o que eu precisava. Saber que, apesar das circunstancias, eu tinha o apoio condicional daqueles dois novos e preciosos amigos.

Eu sabia que não estaria sozinho.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD