Rotten Apple

Dez

Dongwoo saiu primeiro, a fim de encontrar Hoya e ver se havia alguém no ginásio. O esperei em minha carteira, não estava nem um pouco interessado em gastar minhas energias andando por aquela escola. A verdade era única: eu queria continuar ali, para estar mais tempo ao lado dele.
Woohyun, por sua vez, não se moveu. A professora ainda estava na sala, eu entendia que ele jamais se viraria para mim e me perguntaria que horas eram ou falaria sobre como o dia estava quente. Ele acotovelou a mesa, inclinou-se para frente e pôs-se a observar a janela, como sempre fazia. Logo meu celular vibrou, anunciando a mensagem de Dongwoo, dizendo que a área estava limpa – aposto que ele e Hoya se beijaram assim que ele apertou o botão de enviar. Escrevi um recado curto no papel, levantei-me e deixei-o cair sobre a mesa de Woohyun, sutilmente.
Saí da sala, andando lentamente, esperando ouvir os passos dele atrás de mim. Não o ouvi. Talvez ele fosse esperar um pouco mais, deixar a professora sair dali, não sei. Eu esperava mesmo que Woohyun fosse sério quando o assunto eram suas palavras, mas aposto que ele estava fervilhando de ansiedade por passar um tempo com outros caras de sua idade… Na verdade, eu estava ansioso por passar algum tempo com ele.
Por um segundo, as palavras de Dongwoo martelaram em minha mente. Eu realmente vinha me comportando de forma anormal quando o assunto era aquele garoto. Sempre acreditei que esse papo de opção sexual era besteira, que chegaria o dia em que eu me apaixonaria por alguém e que ela seria a garota perfeita. Nunca me interessei por uma. Na verdade, eu sou tão rodeado por garotas que gritam meu nome e choram por minha atenção, que nunca tive a ambição de ter alguma delas. Não gosto de coisas fáceis.
Nam Woohyun, por sua vez, é minha maçã no topo da macieira. Uma maçã dourada, reluzente, linda. Ainda assim, eu não conseguia aceitar a suposição de Dongwoo. Eu não estava interessado nele. Não romanticamente falando. Eu não era o tipo romântico, nem o seria. Não por um cara que não deixa sequer o nó da gravata se desalinhar.
Abri a porta do ginásio e andei calmamente até a parte de trás da arquibancada – nosso esconderijo secreto. Por mais que Dongwoo e Hoya fossem barulhentos, aquele lugar estava silencioso demais… aqui é onde entra minha teoria de que aqueles dois estavam se agarrando.
Dito e feito. Dongwoo abraçava Hoya pela cintura, os dedos afundando-se na parte de trás da calça do garoto. Os lábios colados, enleados em um beijo tão intenso que, só de olhar, eu perdia o fôlego. Parei por um instante, deixando que aquela sensação fosse transmitida a mim. Eu não sabia o que era tão prazeroso em ver meu melhor amigo beijar seu namorado, mas não conseguia desviar meus olhos deles. Eles pareciam um só, e isso eu já havia notado da outra vez, mas, a cada vez que os via juntos, maior era minha vontade de experimentar tal sensação.
Pigarreei ao me aproximar mais, e logo Dongwoo gargalhou, sentando-se rapidamente. As orelhas de Hoya estavam tão ou mais vermelhas do que no dia em que os vi na cama, e eu ri dele. Pobres garotos, entregues a uma paixão que os obriga a ficarem juntos às escondidas… Dongwoo certamente já havia contado que eu sabia sobre eles, mas Hoya continuava constrangido.
“E aí, Gyu… Disse pra ele que ficamos atrás da arquibancada?”
“Não. Ele só vai descobrir se vier. Quando chegar, eu vou até lá buscá-lo.”
“Hyung, tudo bem?!” Hoya perguntou com um sorriso inocente. Nem parecia o mesmo Howon que agarrava meu amigo.
“Estou sim, Hoya… E você?”
“Ótimo… Estou ótimo!” Ele engasgou-se nas próprias palavras e minha vontade era dizer: claro que você está ótimo!
Ficamos ali por alguns segundos, ouvindo o silêncio constrangedor que se instalou após a resposta do garoto. Eu não tinha muito a dizer, ainda estava inquieto pelas sensações que ver aqueles dois colados em um beijo intenso me causavam. Dongwoo e Hoya provavelmente compartilhavam do mesmo pensamento, mas, no caso deles, o constrangimento de terem sido pegos em flagrante.
Não demorou até que ouvíssemos passos entrando na quadra. Levantei-me e espreitei, sentindo o coração acelerar ao notar Woohyun andando em minha direção. Suas mãos em seus bolsos, o olhar perdido, procurando por alguém que o guiasse. Eu acenei para Dongwoo, e saí, indo em sua direção.
Diferente do que imaginei, Woohyun não sorriu ao me ver. Seu olhar fora triste, na verdade. Uma tristeza sufocada, se é que podia haver uma interpretação para ela. Acenei e forcei um sorriso, e ele correu em minha direção. Ele manteve certa distância, seguindo meus passos.
“Que bom que veio!” Disse, tentando parecer menos desesperado a respeito de sua presença ali.
“Eu precisava mesmo vir. Não aguento mais essa escola.” Ele deu de ombros, acenando para Dongwoo e Hoya assim que os vimos.
“Estes são Dongwoo e Hoya. Dongwoo você já conhece, não é mesmo?”
“Olá.” Ele se limitou a dizer isso e sentar-se ao lado de Hoya.
“Que legal que você está aqui, cara!” Dongwoo começou, quebrando o clima com seu riso.
“Valeu. Eu não me sinto muito confortável, pra ser sincero… Vocês devem me achar um louco.”
“Não é verdade!” Hoya adiantou-se e, não fosse por eu beliscar o braço de Dongwoo, ele riria descontroladamente.
“Nós só achamos estranho o fato de você não falar com ninguém…” Dongwoo disse. Mais como se apenas quisesse informar, que desejando uma resposta.
“Eu tenho meus motivos. Mas não é algo sobre o qual eu queira falar.”
Eu o encarei, meu cérebro dando um nó por causa de sua formalidade ao falar. Me perguntava se ele fora transferido de um colégio adventista ou militar. Nunca se sabe.
“Aliás, eu vi a apresentação de vocês… Foi ótima, por sinal! Não costumávamos ter esse tipo de apresentação no meu outro colégio… Achei bastante interessante.”
“Obrigado!” Eles responderam em uníssono, as orelhas de Hoya ainda avermelhadas. Esse garoto se constrange por tudo!
“Que tipo de apresentações vocês faziam, Woohyun?” Perguntei, talvez um pouco afobado, e ele sorriu sem mostrar os dentes.
“Nós também cantávamos. Um pouco de tudo, mas como era um colégio adventista, a maioria eram hinos.”
“Legal…” Respondi, tentando não parecer tão ansioso.
“Você canta, hyung?!” Hoya perguntou animado, colocando-se sobre os joelhos para que pudesse ouvir melhor.
“Canto sim. Eu gosto de cantar, acho que essa é a única coisa que me deixa feliz ultimamente.” Ele respondeu com um olhar sonhador e eu sorri. Imaginava sua voz, o timbre grave cantando docemente. Quando se tratava dele, minha imaginação ganhava asas.
“Canta pra gente, hyung!”
“Melhor não…” Woohyun se negou, afastando-se um pouco.
“Hoya, não seja tão inconveniente.” O repreendi, deixando Woohyun menos acuado. “Woohyun não precisa fazer isso, se não te faz bem.”
“Cantar em frente a outras pessoas me faz lembrar de coisas que prefiro esquecer.” Ele ressonou, e, por um ínfimo instante, senti o coração formigar. Era como se o que o incomodava surtisse efeito em mim.
“Vamos falar de coisas boas!” Dongwoo começou, levantando-se. “Semana que vem começamos os treinamentos pra competição intercolegial!”
“Aish… Não me venha com essa, Dongwoo!” Reclamei, deitando-me sobre o piso amadeirado.
“Você odeia as competições porque é um péssimo corredor, Sunggyu!” Dongwoo riu, apontando para mim.
“E competidor também, hyung… Você não sabe perder.”
“Até você, Howon?” Indaguei, me irritando com aqueles dois.
“Mas é verdade, Gyu. E bem, nessa ninguém pode escapar. Nossa classe está toda inscrita na prova de natação.”
“Não entendo por que os nadadores precisam correr… Odeio correr!”
“Mas correr é o de menos…” Woohyun disse, e eu me senti estranho ao vê-lo interagindo conosco.
“Você corre, hyung?” Hoya voltou sua atenção a ele, interessado.
“Eu costumava correr. Tínhamos uma equipe de triátlon na outra escola. Eu era o líder.”
“Oh!” Nós três ressonamos em surpresa, e eu tinha mais um motivo para admirá-lo. “E você vai participar da nossa competição, não é mesmo?”
“Claro que vou, não tenho escolha… Eu prefiro, assim eu posso vir até a escola depois das aulas pra treinar.”
“E se não houvesse isso, não poderia, hyung?”
“Nã-não…”
Woohyun vacilou por um momento. Os olhos se perderam entre nós e o piso, e meu coração conteve uma batida uma vez mais. Por que eu me sentia assim quando ele parecia triste? Era algo que minha razão não podia explicar, era difícil até pensar sobre isso. Como se com um estalar de dedos, Woohyun tivesse o poder de mudar meus sentimentos.
“Hoya…” Dongwoo o reprimiu, notando o constrangimento do novo colega. “Você não precisa falar sobre o que não quer, Woohyun.”
“Não tem problema. Eu sei que as pessoas são curiosas ao meu respeito. Isso já se tornou normal pra mim.”
“Então por que não conversa?” Hoya insistiu, recebendo um beliscão de Dongwoo.
“A questão é que não posso conversar. Não posso nem estar aqui. Espero que entendam se algum dia eu passar por vocês e não olhar de volta.”
“Tudo bem.” Consentimos, vendo-o se levantar.
“Acho melhor eu ir. Logo começa a outra aula e não quero que os professores me encontrem aqui. Quero poder passar outro intervalo com vocês.” Sorriu para nós, e eu senti meu estomago revirar, como se milhares de borboletas se debatessem dentro dele. “Obrigado por me aceitarem.” Ele se curvou, deixando-nos a sós, e voltei a me sentar, por reflexo.
Nam Woohyun caminhava em direção à saída do ginásio. Meus olhos acompanhavam cada passo, cada pequeno movimento que vinha dele. Eu não saberia dizer que meu queixo estava caído, se não fosse Dongwoo a levantá-lo bruscamente com sua mão. Eu o vislumbrava como se fosse algo único, brilhante, perfeito. Nam Woohyun era de fato perfeito aos meus olhos. Tanto que meus muitos defeitos me deixavam envergonhado diante dele.
“Para de babar, Sunggyunie.”
“Não estou babando!” Irritei-me, levantando-me rapidamente. “Você é tão implicante, Jang Dongwoo!”
“Não sou eu o implicante, é você o apaixonado!” Dongwoo provocou, seguido pelos risos de Hoya. “Admita, Gyu… Você sente algo por ele.”
“É só admiração… Não é como se eu me apaixonasse por um cara. Deixo essa tarefa contigo.”
“Uau!” Hoya ficou boquiaberto, até que se levantou e abraçou a mim e meu amigo, nos empurrando em direção à saída. “Isso não importa, hyung… Importa é que agora ele fala com a gente.”
De certa forma, ele tinha razão. Eu nunca imaginei que poderia passar um intervalo ao lado de Woohyun. Aquele certamente era o momento mais feliz de minha vida.

 

Quando a última aula chegou ao fim, Dongwoo despediu-se rapidamente, e correu em direção à sala de Hoya. Aqueles dois já não me causavam ciúme ou coisa parecida. Eu até gostava quando os dois estavam juntos. Gostava quando os via juntos, especialmente quando sozinhos. Eu via Dongwoo e Hoya como um casal – um casal apaixonado – e eu me sentia como se fosse o padrinho deles.
Fitei Woohyun sutilmente; ele guardava os cadernos dentro da mochila, com uma calma que só pertencia a ele. Em seu rosto, permanecia o olhar distante e triste. Não havia nada em mim que pudesse decifrar ou imaginar quais eram as causas de seu temperamento. Sempre que o via daquela forma, me lembrava da descrição que vira em sua ficha. Quando estávamos juntos, mais cedo, mesmo que ele parecesse frio, ainda podia notar sua simpatia e a forma como socializava.
Deixei que ele terminasse de guardar as coisas, e me levantei, jogando um bilhete que havia escrito minutos antes sobre sua mesa.
“Foi bom ter você conosco na hora do intervalo. Se quiser conversar, mesmo que seja por mensagem, pode falar comigo. 687-2566.”
Fingi me despreguiçar e olhei por cima do ombro. Ele leu o bilhete e o guardou dentro do bolso do paletó. Ele guardara meu número. Só me bastava esperar a que me mandasse uma mensagem.
Recostei-me no muro da escola e esperei que ele saísse. Não demorou até que ele aparecesse entre os outros alunos e, ainda assim, vinha tão solitário quanto costuma ser. Dessa vez, havia um sorriso em seu rosto. Um sorriso fino, não cheio de dentes, mas ainda podia ver as belas covinhas ao canto de seus lábios. Não pude evitar sorrir também. Um sorriso bobo, diferente.
Um sorriso que se parecia com o de Dongwoo, quando seus olhos encontravam os de Hoya.
Ele me notou, e pôs-se sério em um instante. Olhou-me fixamente, como se quisesse dizer algo que eu não sabia interpretar. Deixei que ele passasse por mim, e desencostei-me, seguindo em sua direção. Nossas casas ficavam no mesmo caminho; não seria perseguição, depois de tudo.
Quando estávamos já perto um do outro, cadenciei meus passos com os seus, e falei, alto o bastante para que ele ouvisse.
“Espero que venha mais vezes. Eu gostei bastante.”
Ele continuou andando, emudecido. As mãos no bolso, os fios levemente bagunçados se moviam a cada passo que ele dava. E meus dedos desejavam tanto tocá-lo que formigavam. Woohyun coçou a cabeça, os olhos espiando por cima do ombro. Quando voltou sua atenção à frente, disse no mesmo tom, como se não falasse comigo.
“Se a companhia não fosse boa, eu não teria pedido.”
Sorri, apenas porque ele não veria, e respirei fundo antes de dizer: “Pois saiba que, se a sua também não fosse, nós não o chamaríamos outra vez”.
“Eu vou aparecer de novo. Espero que os professores não descubram.”
Ele respondeu uma última vez, apertando o passo. Entendi quando notei que dobraríamos a esquina de sua casa, e eu decidi andar um pouco mais devagar, para que ninguém notasse nossa aproximação.
Não me importava o fato de que estávamos nos escondendo do mundo. Ou que Woohyun não me olhasse diretamente quando havia alguém por perto. Ele não mais me ignorava. Ele respondia ao que eu dizia, parecia receptivo, com vontade de interagir. E eu seria capaz de andar em seu encalço sempre que possível. Falar com ele por pedaços de papel jogados aleatoriamente durante a aula. Qualquer momento que compartilhava com ele me era suficiente.
Woohyun alcançou seu portão e segurou o trinco, olhando fixamente em minha direção. Ele sorria com os olhos. Um sorriso tão lindo e intenso que parecia tocar cada pequeno centímetro de meu corpo. Aquecê-lo. Eu me detive por um segundo, não sabendo exatamente o que fazer. Talvez eu lhe sorrisse de volta, um sorriso reto em que não podia se ver meus olhos, como Dongwoo diria.
Notei que havia parado bruscamente e voltei a andar. Meus olhos fixos nele enquanto ele abria aquele portão. Ele me olhou novamente, mas sua expressão era séria. Eu o entendia, havia uma mulher diante da entrada da casa, e eu não me demorei fitando-a. Passei por ele, e sussurrei para que apenas ele ouvisse.
“Se quiser, me mande mensagem. Te vejo amanhã.”
Não esperei resposta. Seria demais exigir algo dele quando ele havia dado tudo de si para socializar um pouco. Segui meu caminho, com um sorriso maior que o normal em meus lábios. Woohyun me fazia sorrir e eu nem notava isso. Não percebia que aquela era a primeira vez que sentia o coração aquecer, as pernas estremecerem diante da presença de alguém.
Quando voltei minha atenção a minha frente, esbarrei em um garoto. Afastei-me um pouco, e o olhei para que pudesse pedir desculpas. Ele me ignorou, empurrando-me e seguindo apressadamente na direção oposta. Quando voltei a mim e me dei conta de quem se tratava, ele estava diante do portão de Woohyun, com a mesma expressão triste que meu colega de classe sempre trajava. Era o garoto que havia visto no dia anterior.
E por algum motivo, meu coração doeu ao vê-lo ali.

Uma opinião sobre “Rotten Apple

  1. NAM WOOHYUN SOCIALIZOU MINHA GENTE!! *pula* Ah esse foi o capítulo mais perfeito que eu li Woo se deu uma chance de socializar com os meninos espero que a amizade deles cresçam lindamente ♥ Ainda amo o jeito que eles escolheram pra conversar Gyu tá tendo alta idéias mirabolantes pra ficar perto no Woo se isso não for paixonite agudissima eu não sei o que é ~ Adorei o cap porque finalmente Gyu tá caindo na real que gosta do Woo “A maçã linda e brilhante e perfeita “ sério eu arrepio quando ele descreve o Namu assim ~ me dá coisas ~ Vou indo pq tem outro cap pra amar lindamente obrigada pela dedicação com essa fic que eu estou amando de paixão bjos
    AMEI O CAPÍTULO OBRIGADA DIVA ♥

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD