Rotten Apple

Nove

Dongwoo desviou seu olhar do meu, observando a pedrinha ser atingida por seu pé, e logo deu de ombros. Ele mesmo sabia que não havia mais como fugir, que eu já sabia sobre o que ele tanto queria falar, e aquele era o momento perfeito para confessar ao melhor amigo que ele e Lee Howon não eram apenas bons amigos.

Afastei-me um pouco, tentando enxergar mais de sua alma e menos de seu cenho franzido, confuso e irritadiço. Dongwoo não sabia como começar, e eu bem tinha conhecimento disso.

“Como sabe disso?” Perguntou, tão transparente como uma grande vidraça. Os olhos perdidos entre eu e o portão da casa atrás de mim.

“Eu… Eu fui aquele dia na sua casa, e vi tudo. Nunca imaginei que me depararia com uma cena dessas, mas eu vi. Fiquei sem jeito, mas o que eu poderia fazer?”

“Que droga…”

“Pois é.”

Dongwoo chutou outra pedra, e eu coloquei as mãos nos bolsos, tentando ser menos idiota. O silêncio me incomodava, mesmo que eu não soubesse como quebrá-lo. Eu acreditava que não havia segredos entre mim e ele, mas, dadas as circunstâncias deste segredo, eu não poderia culpá-lo. Dongwoo jamais saberia qual seria minha reação, já que eu nunca me interessara por ninguém. Ele ao menos desejava me contar.

“Eu queria te contar, Sunggyu…” Dongwoo respirou fundo, seus olhos ainda não conseguiam se fixar em mim. Sentei-me no meio fio e ele se uniu a mim. “Eu sempre quis te contar, desde que o conheci. Mas eu não podia… Você sempre teve tanto ciúme dele, achei que atrapalharia ainda mais saber disso.”

“Talvez não.” Concluí, mesmo em dúvida sobre minha aceitação. “Eu achava que ele queria roubar sua amizade… Sei lá. Pra mim ele era uma ameaça. Não imaginava que seria totalmente o contrário.”

“Eu achei estranho você deixar de ser ciumento da noite pro dia, mas nunca desconfiei que você soubesse.”

“Na verdade eu fiquei chocado com o que eu vi… Vocês estavam…”

“É…” Dongwoo sorriu, ruborizado. Aquele mesmo sorriso que dava a Hoya quando se entreolhavam.

“Como isso foi acontecer, Dongwoonie? Eu sempre achei que você gostasse de meninas.”

“Eu?” Dongwoo gargalhou, sua timidez parecia se esvair aos poucos. “Nunca gostei de meninas, Sunggyunie. Elas não me surtem efeito, não consigo me ver com elas.”

“E com Hoya?” Adiantei, ansioso.

“Na verdade, eu costumava sair com um amigo dele antes de conhecê-lo. Eu sei que gosto de meninos desde que te conheci, Gyu… Só que você sempre foi meu brother, não rolava.”

“Não to nem pedindo pra você se justificar, Dongwoo.” Afastei-me dele e ele riu novamente, abraçando-me.

“Deixa de ser bobo, Gyu. O que quero dizer é: nem todo garoto me atrai. Mas com o Hoya foi amor à primeira vista.” Ele sorriu uma vez mais, deixando um suspiro escapar por entre seus lábios. “Quando o vi, eu sabia que ele seria meu.”

“E como pôde ter tanta certeza?” O fitei e podia ver a resposta em seus olhos. Dongwoo era mesmo claro e transparente como um cristal.

“Eu me encantei pelo sorriso do Howon. Ele é ingênuo e ao mesmo tempo esperto. É vivo… É o meu tipo. Nós começamos a nos falar por causa do grupo de hip-hop e desse amigo em comum. Fiz de tudo pra me aproximar dele, é claro. Fui reparando os gostos, o comportamento, a forma como ele me tratava e como tratava os outros caras… E, num belo dia, quando estávamos a sós, ele roubou um beijo meu.”

“Mas isso faz um ano, Jang Dongwoo! Como pôde guardar esse segredo por tanto tempo?!”

“No começo ele ficou um pouco atordoado… Ele não sabia ainda que gostava de garotos. Demorou um tempo até ele aceitar, até ver que nós tínhamos que estar juntos.” Dongwoo mordiscou o lábio inferior e me fitou, rindo-se da minha expressão de espanto. “Ele quem pediu pra que eu guardasse segredo. Por isso não contei. Hoje ele já não se importa com isso. Aliás, ele vai ficar feliz em saber que você já sabe! Hoya te adora!”

“E eu tratando mal o garoto…”

“Nós te entendemos, Gyunie… Fique tranquilo.”

“Mas… e como é?” Movi as mãos, como se quisesse demonstrar como era quando eles estavam sozinhos juntos.

 “Quer saber como é a atração?” Dongwoo apoiou os cotovelos sobre os joelhos, e uniu seus dedos. Os olhos buscando as pessoas na rua, como se desejasse manter seu segredo a salvo.

“Sim, conte logo!”

“Eu amo o Hoya, Sunggyu. Eu gosto da personalidade dele, de como ele sabe acompanhar minhas tiradas, de como nosso rap sempre flui e temos harmonia na dança. Adoro cantar com ele, passar o tempo com ele. Mesmo que você sinta ciúme, eu sempre quero ficar ao lado dele. É algo que vem de dentro.” Tocou o peito com a ponta dos dedos, e voltou a balançar as mãos como se fosse um pêndulo. “Mas eu também gosto do corpo dele. Daquele sorriso, daquelas mãos… Da forma como meu corpo fica aceso quando eu o abraço. De como ele corresponde a mim… Adoro cada pedaço dele, Gyu, e não precisa ficar vermelho… Um dia você vai se encantar por alguém e vai notar isso. Vai perceber que existe alguém perfeito pra você, e que não importa se é um garoto ou uma garota, você vai amar e desejar e vocês não vão querer estar longe um do outro.”

“Uau!” Eu não sabia o que dizer. Dongwoo estava mesmo apaixonado por Hoya, e, por mais que eu ainda me sentisse confuso quanto àquilo, não havia nada que eu pudesse dizer a respeito. Meu amigo estava feliz, se podia notar sua alegria escorrer por seus poros. Sorri para ele recebendo seu riso de volta. “Eu não imaginava tanto… Meu melhor amigo apaixonado!”

“Apaixonado é pouco, Gyunie… Eu amo aquele garoto. E acho que você deveria abrir seu coração também!”

“Como assim?”

“Abra seus olhos, Kim Sunggyu… A paixão está batendo na sua porta… Que tal abrir e deixar ela entrar?”

Dongwoo deu-me dois tapas no ombro, e se levantou. Tomou o rumo de sua casa e eu corri em sua direção, tentando alcançá-lo.

“Sobre o que está falando?”

“Você um dia vai notar… Com seus próprios olhos.”

Ao chegarmos à casa de Dongwoo, notei sua mãe na cozinha, cortando o bolo que, aparentemente, acabara de tirar do forno. Acenei para ela, e ela me sorriu, o mesmo sorriso que não fugia dos lábios de seu filho. Dongwoo por sua vez, agarrou-me pelo braço e puxou-me até seu quarto, fechando-nos nele.

“Sua mãe…”

“O que tem minha mãe?” Deu de ombros, tirando o uniforme da escola e jogando-o em algum canto do quarto.

“Ela não desconfia?”

Dongwoo me ignorou, dando a volta em sua cama e abrindo uma das gavetas de seu armário. Tirou dela uma bermuda e, assim que a vestiu, jogou-se sobre a cama. Me sentei em seu sofá, deixando a mochila de lado. Dongwoo parecia perdido, como se não desejasse responder.

“Ela viu…”

“Como assim ela viu?” Levantei-me em um salto, e corri até a beirada de sua cama, ajoelhando-me ao lado dele.

“Nós estávamos aqui, na mesma posição que eu e você.” Ele apontou para mim, e virou-se, apoiando o rosto em seu braço. “Hoya só estava acariciando meu rosto… E eu não resisto quando ele faz isso. Nos beijamos. Foi só um beijo… Mas ouvi a bandeja cair no chão. Era claro que era minha mãe.”

“Mas ela disse algo?”

“Nada. Ela simplesmente limpou o chão e voltou com outra bandeja, como se não tivesse visto nada. Abriu as cortinas, disse que éramos muito novos pra vivermos feito morcegos, escondidos no escuro. Minha mãe nunca maltratou o Hoya, nunca o olhou de outra forma… Nunca me disse nada sobre isso, nem o proibiu de vir aqui. Ela até parece feliz quando o vê, o abraça, o mima… Mas, quando ele vai embora, eu a vejo chorar.”

“Isso é triste, Dongwoo…”

“Sim, mas eu não posso fazer nada. Ele me faz tão feliz, mas eu acabo por fazer minha mãe triste. E eu sei que ela nunca vai dizer nada… por medo, vergonha, não sei.”

“Por isso ela sempre trás coisas?”

“Deve ser… Ela deve achar que se trouxer, não vamos fazer nada aqui. Mas eu e ele nunca fazemos nada aqui.”

“Naquele dia vocês estavam prestes a…”

“Nós nunca transamos aqui. Não quando meus pais estão em casa… É meio desrespeitoso.” Dongwoo escondeu o rosto entre as mãos, deitando as costas sobre o colchão.

“O Hoya estava com a mão dentro da sua calça!” Cochichei, e Dongwoo colocou ambas as mãos sobre o estomago, gargalhando como se não houvesse amanhã.

“Você já beijou alguém, Sunggyu? Quando a pessoa que você mais deseja está tão perto que você pode ouvir o coração dela bater, não tem como segurar.”

“Não!” Respondi irritado, afastando-me dele. “Nunca beijei ninguém… Senhor sexualmente ativo.”

“Deixa de ser bobo, Gyu… Não quis rir de você ou algo do tipo. Eu só acho que chegou o momento de você experimentar. Tenho certeza de que deve existir alguém que desperte isso em você.”

“Ninguém!”

“Certeza?!”

“Absoluta!”

“E Nam Woohyun?”

Dongwoo dissera aquilo com tanta naturalidade, que me sentia um completo idiota. Eu sabia que meu melhor amigo me conhecia bem, que me observava sempre, mas não estava ciente de que ele havia desenvolvido uma espécie de habilidade leitora de mentes.

Não era como se eu estivesse apaixonado por Woohyun, eu de fato não estava. Mas Dongwoo interpretara meu interesse como paixão e aquilo estava errado. Eu não estava apaixonado por Nam Woohyun. Não estava! Não é porque eu vivo confuso e intrigado sobre sua vida, que eu tenha algum tipo de sentimento por ele. Não esse tipo de sentimento.

Até sinto algo aproximado à curiosidade extrema e piedade, mas não é tão forte quanto o que ele descreveu a respeito de Hoya. Eu não estava apaixonado por um garoto. Não! Nam Woohyun não era meu primeiro amor.

“O que quer dizer com isso?”

“Você está tão interessado nesse cara, que até sua sombra te denuncia, Gyu-ah!”

“Não estou, não!”

“Um dia você vai entender…” Dongwoo deu de ombros, agarrando um de seus travesseiros.

“Eu não estou apaixonado por um garoto!” Sussurrei a ultima palavra, assustando-me ao ver a mãe de Dongwoo entrar no quarto – com uma bandeja em mãos.

Está sim!” Dongwoo sussurrou de volta, levantando-se para ajudá-la.

Eu nunca saberia se ele estava certo ou errado. Eu mal podia me aproximar daquele garoto.

Na manhã seguinte, as palavras de Dongwoo continuavam martelando em minha mente. Elas não deixaram de fazer seu papel em nenhum momento, desde o instante em que foram ditas, até o exato átimo em que minhas mãos abriam o caderno de artes e se punham a escrever.

Eu não havia deixado de considerar as hipóteses de meu amigo, mas ainda não acreditava estar apaixonado por Woohyun. Era só uma curiosidade, uma vontade que mais era como um desafio para reaver meu orgulho – ainda não perdoara aquele cara por me ignorar em seu primeiro dia de aula. Eu não nutria esse tipo de sentimento por ele. Não imaginava nossos corpos colados. Não imaginava sua mão dentro de minha calça… Ou seus lábios nos meus. Ou imaginava? Imaginava. Me recusava a imaginar!

Meneei a cabeça em negação e encarei Dongwoo. Ele ria debochado, enquanto eu podia apenas franzir o nariz e mostrar-lhe os dentes, como se fosse um cão rosnando. Dongwoo, em sua maior demonstração de desprezo, uniu os dedos no canto dos olhos, puxando-os até que fossem dois riscos – uma ofensa ao tamanho dos meus, ele bem sabia.

O ignorei, não estava com ânimo suficiente para suas piadas, e voltei-me ao enunciado do trabalho de artes. Eu gostava daquela aula, certamente me sairia bem e, mesmo que fosse um trabalho individual, me esforçaria para manter a imagem que eu havia criado após aquele trabalho de história – eu estava a um passo de me tornar um aluno exemplar, só me faltava alinhar o uniforme; isso que não.

Fiz um traço sobre a folha branca, formando o que seria o desenho que escolhera, quando notei um pedaço de papel cair sobre ela. O agarrei, como se não desejasse que ninguém o visse e, antes que pudesse desviar meus olhos dali, o abri.

‘Sunggyu-ah, o que pretende fazer no intervalo? Não quero ficar sozinho.’

Meus olhos correram pelo pequeno recado uma vez mais. Novamente. De novo. Minha respiração recusava-se a se normalizar, meu coração não desejava bater. Pensei que poderia haver morrido, ou ter sido abduzido por alguma nave alienígena. Eu não sabia ao certo o que acontecia. Eu conhecia aquela letra – a havia decorado, de tantas vezes que a lera. Era a grafia de Woohyun.

Desviei meu olhar em sua direção, e notei que ele me fitava. Quando nossos olhos se encontraram, os dele se desviaram em direção à professora. Ele, por algum motivo que eu ainda não havia descoberto, não podia conversar com ninguém. Mas minha ideia sobre mensagens no papel era mesmo brilhante. Peguei a caneta e, tentando não tremer, respondi o bilhete.

“Hoje eu vou para o intervalo com Dongwoo e o Hoya, nosso amigo do primeiro ano. Se quiser, pode vir com a gente.”

Tentei não transparecer meu conhecimento sobre sua condição, e joguei sutilmente o bilhete em sua mesa. Dongwoo me fitou de soslaio, rindo de escárnio por talvez imaginar que sua teoria estava certa. Woohyun rapidamente respondeu, me deixando nervoso uma vez mais.

“Não posso deixar que me vejam com vocês. Mas não aguento mais ficar sozinho nessa escola.”

Mais que depressa, respondi: “Não se preocupe, vamos para o ginásio. Lá nunca tem ninguém, estaremos a salvo”.

Woohyun sorriu ao ler minha mensagem. Eu o via desdobrar o papel, seus olhos se colarem ao que eu havia escrito, e pequenas covinhas se formarem ao lado de seus lábios, no primeiro sorriso que presenciara. O sorriso mais adorável que eu havia visto em toda minha vida.

2 opiniões sobre “Rotten Apple

  1. Que capítulo amor finalmente DongWoo contou pro Gyunnie e minha nossa ele era afim do Gyu ooooo revelação pra mim:))) e eu amei isso “Eu sabia que ele ia ser meu“ sangramento nasal com isso ♥ Ele descrevendo como é a relação com o Hoya foi uma das minhas partes preferidas li pelo menos umas 3x pra absorver e amar e adorar (ando muito assim ultimamente ) Ah tenho que comentar deixa  do Dino que colocou os sentimenos do Gyu em Xeque Cara tu tá apaixonado pelo Nam e até tua sombra sabe menos você! eu ri ele deve ter ficado com uma cara de Bobo! Espero que ele não demore pra descobrir o que anda no coração dele apesar dele saber só deve aceitar neah. Amei o método de comunicação dos dois NamGyu finalmente o Namu não vai mais ser solitário.
    AMEI O CAPÍTULO OBRIGADA DIVA ♥

  2. Capítulos de Rotten Apple, wae curtos?? Dá uma dorzinha quando acaba, sempre quero mais >–<
    Suz unnie, a vejo falando com tanto carinho sobre esta fanfic que resolvi ler. Até pq é uma fanfic sua, e nunca seria um desperdício lê-la.
    Adoro esse ambiente colegial, torna tudo mais divertido e gostoso de ler, principalmente com sua escrita. A cada capítulo me apaixono cada vez mais pelo personagens. <3 Quero morder o Woohyun e colocá-lo em um potinho, de preferência junto com o Sunggyu. =p Estou amando Dongwoo e Hoya, eles parecem tão apaixonados e o jeito que Dongwoo falou do Hoya foi lindo demais. <3
    Estou louca para saber mais sobre o Woohyun e ver mais sorrisos desses, e necessito do Sunggyu dando uns beijos nele D: haha
    Não conheço nada de Infinite, mas ler Rotten Apple me faz querer conhecê-los. ^^
    Estarei aqui acompanhando sempre ansiosa por mais!
    Beijos, Suz unnie :*

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD