Rotten Apple

Sete

Playlist

Despreocupadamente segui em direção ao quarto de Dongwoo. Sempre que ia até sua casa, ele estava enfurnado naquele lugar, jogando vídeo game. Era de se esperar de alguém como ele. Também era normal encontrá-lo acompanhado de alguém jogando consigo – este patife nunca me chamava para jogar, alegando que estava cansado de perder para mim.

Diferente do que estava acostumado, não ouvi o barulho do vídeo game, só podia identificar a melodia de um rap, o volume tão baixo que mal podia dizer qual era a música. Girei a maçaneta e abri sutilmente a porta, meus olhos procurando pela figura de meu melhor amigo naquele quarto mal iluminado.

Meus membros se retesaram assim que meus olhos se prenderam àquela imagem. Eu não podia sequer piscar, não conseguia respirar ou me mover, tudo o que eu fazia era mirar com espanto aquela cena.

Esfreguei os olhos, tentando de alguma forma acordar, apagar tal cena da minha mente. Hoya estava deitado na cama de Dongwoo, e meu melhor amigo estava sobre ele. As mãos de Dongwoo perdiam-se dentro da regata do garoto, pareciam acariciá-lo lentamente. Seus corpos estavam tão colados, que já não podia identificar quem era quem. Hoya, por sua vez, tinha a mão direita dentro do moletom de Dongwoo, movendo-a tão vagarosamente quanto a mão de meu amigo sob sua blusa.

E eles se beijavam. Lentamente, tão apaixonados quanto os protagonistas de um filme de amor. Os lábios se perdiam, sugavam, mordiam, e eles pareciam não querer apartar-se um do outro. Dongwoo então retirou sua mão do garoto, levantando com calma a regata que ele usava. Os dedos puxavam os cabelos de Hoya para trás, seus lábios em um caminho pelo pescoço do outro.

De repente, sentia que precisava respirar novamente. Meu coração batia tão depressa que não podia me concentrar num ponto só. Coloquei a mão sobre o peito, quando na verdade desejava tirar meus olhos daqueles dois.

Hoya deixou um gemido baixo escapar e, assim que eu o ouvi, senti a pele eriçar. Dongwoo apoiou-se nos próprios cotovelos, movendo seu corpo sobre o garoto. Beijava-lhe o pescoço, como se a pele de Hoya fosse seus lábios, e movia-se sobre ele enquanto era acariciado. Dongwoo era acariciado por outro garoto. Eu podia ver sua ereção, o suor escorrendo na lateral de seu rosto, os gemidos contidos de Lee Howon.

E, quanto mais os via, mais desejava ver. Aquela era a primeira vez em que via algo assim, a primeira vez que me sentia quente, como se todo o sangue em minhas veias borbulhasse. Eu desejava sair dali, deixá-los em paz, entrar e perguntar que merda estava acontecendo ali, gritar, chamar a mãe de Dongwoo, gravar aquilo com meu celular para assistir depois, me tocar, beijar alguém como eles se beijavam. Eu nunca havia beijado alguém. Não sabia como era ter os lábios de outra pessoa colados aos meus. Não sabia que sabor tinha um beijo.

E, por um momento, não me era estranho que dois garotos fizessem aquilo. Eles pareciam desejar tanto um ao outro que não me soava asqueroso como eu algum dia pensei que fosse. Ao mesmo tempo, sentia-me confuso com todas as peças do quebra-cabeça se encaixando à minha frente.

Finalmente eu entendera o motivo da alegria infindável de Dongwoo. Entendia seus sorrisos, a forma como olhava para Hoya. Tudo se fazia tão claro quanto a luz do dia, inclusive o porquê de ele se sentir tão inseguro e não me contar seu segredo.

Jang Dongwoo estava apaixonado por Lee Howon. Dois garotos. Dois caras apaixonados um pelo outro.

Meneei a cabeça em negação assim que notei Hoya puxar o elástico da calça de Dongwoo, e encostei a porta. Não era normal que eu visse tudo aquilo. Estava tão confuso que mal podia mover meu corpo.

Recostei-me à batente, tentando organizar os pensamentos, parecer menos confuso, menos perdido. A única coisa que me era clara era o fato de meu melhor amigo estar com o garoto do primeiro ano. Seriam eles namorados? Essa era a resposta mais plausível, o motivo mais aceitável para o fato de que Dongwoo preferia estar com ele do que comigo. E eu sentia ciúme… Claro que eles tinham razão, meu ciúme era completamente em vão.

Dei a volta e andei rapidamente em direção à sala, pensando em como seria se sua mãe me visse naquele estado. Baguncei os fios e voltei ao quarto, tentando pensar em uma forma menos constrangedora de entrar naquele lugar. A melhor forma seria uma entrada barulhenta.

“Jang Dongwoo, seu verme, onde você está?!” Gritei, indo lentamente em direção à porta.

“Sunggyu-ah, estamos aqui!” Ouvi Dongwoo dizer, e logo a abri.

Ambos estavam sentados ao chão, Hoya com as orelhas vermelhas feito pimenta, e Dongwoo tinha uma almofada em seu colo – e ele ainda acha que poderia disfarçar uma ereção com aquilo. Me senti um pouco constrangido, os olhos de meu amigo não conseguiam esconder o que estavam fazendo, tampouco diriam de fato que estava prestes a transar com aquele moleque.

Sentei-me no sofá e os encarei, podia ver o suor escorrer das têmporas de meu melhor amigo. Eu me sentia inquieto, nervoso. Ainda podia ouvir o gemido de Hoya reverberar em minha mente. Ainda sentia a pele arrepiar ao me lembrar daquilo. Tentei pensar em algo que os descontraísse e que fizesse Dongwoo largar aquela almofada e voltar ao normal.

“Então, vocês estavam ensaiando?” Perguntei, tentando parecer despreocupado, e me deitei no sofá, jogando uma das almofadas na cabeça de Dongwoo.

“Sim!” Ambos responderam em uníssono, visivelmente tensos.

“To atrapalhando?”

“Não!” Dongwoo disse, coçando a nuca. Riu constrangido, tentando arrumar alguma desculpa. “Estávamos ensaiando o rap que vamos cantar.”

“Legal… Eu vim porque achei que seria interessante ver o ensaio de vocês. Não conseguia ficar em casa.”

“Não tem problema…” Dongwoo disse, mas seus olhos negavam cada pequena sílaba que saía de sua boca.

“Aconteceu algo, hyung?”

“Bem…”

Antes que pudesse começar, a mãe de Dongwoo bateu à porta e entrou com uma bandeja com lanche – ela parecia querer nos engordar a qualquer custo. Ambos a fitaram, um pouco desconcertados, o constrangimento naquele quarto era quase palpável. Eu sorri para ela e me levantei para pegar a bandeja de suas mãos, não deixaria que aqueles moleques se levantassem e se envergonhassem ainda mais.

Quando ela se foi, ainda em silêncio, Dongwoo pegou o copo de suco e o bebeu em uma golada só. Ele não conseguia esconder sua tensão.

“O que você ia dizer, hyung?”

“Ah.” Peguei o outro copo e tentei pensar no que havia visto mais cedo. A verdade era que eu não conseguia pensar em nada mais que a mão de Hoya dentro da calça de Dongwoo. Sua mão provavelmente ainda tinha o cheiro dele. Cheiro de sexo. Não deixei de observá-lo, deveria evitar todos os biscoitos próximos aos que ele tocaria.

Me lembrei então dos garotos diante do portão de Woohyun. Dos olhos tristes que fitavam o nada. As imagens angustiantes e confusas faziam desvanecer a cena que eu acabara de ver, me fazendo relaxar os ombros.

“Eu estava voltando pra casa quando passei pela rua do Woohyun. Tinha um garoto lá, observando o portão.”

“O mesmo garoto? O que esses caras querem com ele?”

“Não, era outro.” Respondi a Dongwoo, meus olhos atentos às mãos de Hoya que se moveram em direção aos biscoitos. Mais que depressa, peguei alguns, garantindo os que eu iria comer. “Outro garoto. Era diferente, o olhar era diferente. Não sei, esse parecia ter raiva do Woohyun. Eu não entendo mais nada.”

“Será que aconteceu algo entre eles antes que o Nam mudasse de escola?” Dongwoo perguntou, apanhando um bocado de biscoitos.

“Sei lá… Depois o garoto do outro dia apareceu. Eles brigaram e o cara novo saiu correndo. Foi muito estranho.”

“Você quer investigar isso também, Sunggyu hyung?” Hoya me fitou com um brilho diferente nos olhos. O brilho de alguém que parecia feliz com minha súbita curiosidade a respeito de Nam Woohyun.

“Eu não sei. Não sei! Estou curioso, mas acho que, quanto mais eu fuçar nessa história, mais vou ficar assim.” Dei de ombros, comendo um dos biscoitos.

“Você não era assim, Sunggyu… Acho que já passou muito tempo sozinho, isso é falta de ter alguém a quem cuidar.” Dongwoo disse tão seguro de si que eu só pude unir minhas sobrancelhas e o encarar incrédulo. Ele era tão óbvio quanto a estar com alguém, evitar Hyunhee, parecer alguém interessado, e eu não havia percebido. Eu era um completo idiota! Agora sua fuga daquela garota fazia sentido.

“Eu não posso ficar curioso a respeito de comportamentos duvidosos dos outros? Isso é algum tipo de crime por acaso?” Enfezei-me e ele arregalou os olhos, tomando minhas palavras como indiretas. Eram realmente indiretas.

“Claro que pode… Mas já pensou que, se esse cara descobrir, ele não vai gostar nada?”

“Como ele vai descobrir que eu stalkeio ele?”

“Quantas vezes ele te viu no portão da casa dele?” Hoya perguntou, devolvendo os biscoitos que havia pegado no prato. Por sorte eu já havia separado os meus.

“Acho que só ontem. Quem me viu na verdade foi um dos caras de hoje.”

“E esses caras de hoje também te viram?” Dongwoo perguntou, me julgando com os olhos.

“Claro, ainda não sou transparente.”

“Se continuar desse jeito, eles vão acabar achando que você vai lá só pra bisbilhotar.”

“Dongwoo, não tenho culpa se é o caminho da minha casa.”

“Mude seu rumo…”

“Ok, Dongwoo… Já estou farto dessa conversa. Vim pra ver vocês ensaiarem.”

Eles se entreolharam e sorriram constrangidos. Eu sabia que isso aconteceria em algum momento. Dongwoo se levantou, – por sorte nossa breve discussão servira para algo – e foi até o aparelho de som, mudando a música que tocava.

Foi a vez de Hoya se levantar. Eles se aproximaram, evitando ao máximo o contato físico. Eu podia sentir a tensão daqueles dois, e não era nada agradável. Hoya começou o rap, seus trejeitos e expressões eram dignos de um rapper americano. Dongwoo se uniu a ele algumas linhas depois. Ambos se olhavam, gesticulavam, cantavam e sorriam como se fossem um só.

Se eu não tivesse visto aquela cena mais cedo, julgaria aqueles gestos como os de melhores amigos que conseguiam finalmente realizar um sonho juntos. Mas não era o que eu via. Eu notava cumplicidade nos olhos deles. Um carinho que meu melhor amigo jamais demonstrara por mim e que, de certa forma, não cabia na nossa amizade.

Dongwoo e Hoya pareciam estar sozinhos ali. Sua letra contava a história de um amor proibido, incompreendido. Quem sabe não se tratasse do amor deles? Eu podia ver o sentimento de ambos transbordando através de suas vozes, do sincronismo, da perfeição que era seu rap quando cantavam juntos. Eu não via dois garotos. Eu via duas pessoas que pareciam se amar, querer estar uma com a outra.

Enquanto me perdia em devaneios, me sentia confuso. Me era muito estranho aceitar aquela relação com tanta facilidade. Eu mal sabia o que havia entre eles e já supunha que eram namorados apaixonados um pelo outro.

Logo Dongwoo e Hoya eram apenas uma voz em minha cabeça. Uma voz que me remetia àquele garoto calado e tristonho. E a história que narravam me apertava o coração.

O que estava acontecendo comigo? Eu nunca havia parado para pensar sobre tal assunto antes. Nunca havia me interessado por ninguém, como o próprio Dongwoo havia dito. Estava mesmo na hora? Como eu poderia saber, se tudo o que me vinha à mente eram os olhos tristes de Woohyun?

Aqueles olhos que me faziam sentir coisas que eu jamais provara antes. Uma sensação estranha de vazio que só era preenchido quando eu o via por perto. Eu não sabia identificar o que sentia, não conseguia dar nome a cada uma daquelas sensações que me invadiam sem pedir licença. Mal sabia que estava encarando um caminho que já não tinha volta.

O final de semana se arrastava. Passava tão lentamente que me fazia sentir pesado. Num outro momento, eu agradeceria por isso, por poder passar mais tempo em casa e menos tempo na escola.

Vários eram os motivos que me deixavam nervoso, angustiado. Na segunda-feira nós apresentaríamos nosso trabalho. Eu veria Dongwoo e Hoya com outros olhos. Eu me encontraria com Nam Woohyun.

Nam Woohyun…

Quando pensava nele, o imaginava naquela mesa, no pátio da escola, cortando maçãs. O via com o uniforme desalinhado, brincos espalhados por sua orelha, o cabelo tingido e uma tatuagem no antebraço. E ele continuava descascando maçãs. As maçãs que me remetiam a algo proibido. Proibido para mim.

Nam Woohyun era a maçã no topo de uma macieira, em algum penhasco difícil de escalar. E eu tentava a todo custo escalar seus muros altos, subir até o topo, e colhê-lo. Eu o acolheria, mostraria a ele que não há o que temer, que não existe motivos para se esconder do mundo.

Se eu pudesse me ver, notaria meu sorriso ao pensar nele. Mas eu só conseguia imaginar como seria um sorriso seu. Pensava no que poderia dizer a ele que o fizesse sorrir. Eu me jogaria no chão, faria papel de ridículo, estragaria algo importante só para vê-lo sorrir.

Era tão bom pensar sobre isso. Imaginar as mais variadas formas de chamar sua atenção. Eu estava vidrado naquele garoto, imaginando como seria se fôssemos próximos, se fôssemos amigos… Se fôssemos como Dongwoo era com Hoya.

Deixei de pensar a seu respeito assim que aquela imagem se formara novamente diante dos meus olhos. A imagem de duas pessoas se entregando uma à outra, como se fossem uma só. A imagem que meus olhos desejavam negar, mas meu coração insistia em manter viva.

Talvez meu coração não me permitisse enxergar, mas meu melhor amigo e seu amante secreto haviam plantado algo em mim. Algo que mudaria minha vida completamente.

2 opiniões sobre “Rotten Apple

  1. OMO, SungGyu… Fecha os olhos, você é inocente menino…

    Yadong, para de ser saliente… Eu sabia que esses dois tinham alguma coisa além de amizade , deu sabia… Nao, deixa eu falar, que pegada foi essa minha gente??? Amei, amei amei… Gyu é Yadong shipper e voyeur…

    E gente só ele que ainda nao descobriu que ele esta apaixonado????

    Tao lindo, tao delicado… Eu sou simplesmente apaixonada por RA.

  2. Suz SOCORROOOO SURTANDO NO TRABALHO, NO TWITTER, NA VIDA

    AI AIAIAIAIAI O QUE FOI ESSE COMEÇO DONGYA  MEU SHISHUS SOS! GYU FDP PORQUE TÃO EMPATA FODA E PIOR CINICO ESSE PUTO!

    Ahh eu Amei Amei  Amei  finalmente ele vai parar de ciúmes e vai dar valor ao amigo e parar de besteira com o Hoya neah., finalmente ele entendeu que Dong e Hoya são um só se compreendem se completam ♥ muito amor.

     o que é isso que eu estou percebendo do Gyu pensando no  Woo… será?? será…?  SIM SIM SIM SIM é isso mesmo! Gyu tu ta percebendo cara  Sim você tá prá lá de apaixonado pelo Woo

    AHHHHHHHHHHH

    terminei surtando a vida agora quero gritar mais como fazer isso no trabalho?? Suz sua linda meu tu é muito perfeita pra fazer  eu surtar lindamente e loucamente  aiaiai só com esse cap revelador DongYa eu estou assim imagina quando o trem acontecer com o Gyu  não quero nem pensar vou viver a vida lindamente enlouquecendo a cada cap.  pq você merece isso sua linda

    obrigada pelo capitulo divinamente perfeito

    pera i….

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH  DONGYA *Corre em círculos*  Muito perfeito Ai to surtando com o gemido do Hoya seríssimo isso meu Deus isso tá ecoando no  meu cérebro vou ficar com esse cap.DIAS   aiaia 

    ~♥.♥~

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD