Rotten Apple

É tão estranho colocar notas de início aqui xD Não sei por quê.

Enfim, com todo esse bapho sobre a exclusão da fic, acabei por querer escrever logo o próximo capítulo e atualizar.

Sei que faz quase uma semana desde o último, mas aqui está um capítulo novo e mais felizinho pra vocês.

Muito obrigada pelo apoio e carinho, não fosse por vocês, essa fic não existira.

Boa leitura!

 

Sessenta e Quatro

Woohyun não pedira apenas com os lábios ou a ponta de seus dedos. Ele me pedira com os olhos, a alma. Eu podia ver, lá no fundo, que ele não queria que eu cortasse meus cabelos. Deixei que ele os tocasse e bagunçasse os fios de raízes negras e pontas castanhas. Senti suas mãos embrenharem-se entre meus cabelos como se fossem seus, como se o pertencessem. Tudo em mim seria dele, Woohyun precisava apenas pedir.

“Por favor.” Ele sussurrou enfraquecido, tentando ao máximo segurar o choro por trás de um sorriso torto.

“Ok, não vou cortar.”

Ele sorriu para mim e se levantou da cadeira, segurando meu braço com certa força. Pagou a recepcionista do salão e se despediu das senhoras que provavelmente conhecia. Sentou-se novamente em sua cadeira de rodas e voltou a pôr-se em silêncio.

Se ao menos ele soubesse o quanto aquela situação me machucava… Não por seu silêncio. Este eu respeitaria, esperaria seu tempo. O problema estava justamente em não saber ao certo o que se passava em sua mente. Woohyun sempre guardara tudo para si. Mesmo que contasse algo por livre e espontânea vontade, havia sempre algo em seu interior que nunca era expressado. Ao menos não compartilhado da forma certa.

Exceto pela vez em que ele me contou tudo sobre seus pais, no ginásio da escola.

Sorri ao me lembrar daquela época e tomei coragem para iniciar uma conversa. Se dependesse dele, talvez nunca mais conversaríamos.

“Sabe quando vai poder voltar pra escola?” Perguntei animado, tentando distraí-lo.

“Não sei ainda… Estou muito fraco e acho que minha mãe não vai deixar tão cedo.” Ele moveu o pescoço, como se quisesse olhar para trás. “Tenho tanta saudade… De tudo. Dos caras, da Hyunhee, da professora chata de matemática…”

“Mas a Hyunhee e os outros você vê todos os dias.” Disse, sem evitar tocar o ombro dele.

“Não na escola. Lá tudo parece diferente. Era tão mais divertido… Até do Hoonye eu sinto falta.” Woohyun tocou meus dedos e eu pude notar um meio sorriso em seu rosto, mesmo que não o visse de frente.

“Ele tá namorando a Hyeonjin… Achei que nunca iria ver isso, mas eles se dão super bem.”

“Hyeonjin? Bang Hyeonjin? Não acredito! Ela não faz o tipo dele!” Woohyun gargalhou ao lembrar-se de que Bang era uma das garotas mais populares da escola, enquanto Hoonye era apenas um cara super na dele.

“Eles formam um belo casal.”

“É… Pensei que ele namoraria a Hyunhee, ou algo do tipo. Mas ela acabou com o Hyung…” Woohyun passou as mãos pelos cabelos curtos e eu não soube ao certo o que fazer.

“Eles estão realmente juntos?”

“Não oficialmente. Mamãe não pode desconfiar que depois de repassar a matéria, Boohyun hyung vai pro meu quarto e eu os deixo a sós. Não é como se eles estivessem transando na minha cama, até porque meu irmão respeita o fato de que a Hyun é só uma garota e ele é muito mais velho… Mas a mãe não imagina que ele vai terminar o noivado por causa dela.”

“Oi?” Disse mais alto do que pretendia, assustando-o. “Boohyun hyung vai largar a noiva por causa da Hyun? Minha Hyun?!”

“Nossa Hyun… Agora com mais chances de ser minha que sua.” Ele brincou, gargalhando baixo. Ah, quando ele ria… Era como se um dia nublado se abrisse e desse lugar ao sol. “Quando tudo estiver certo, ele vai anunciar pra todo mundo. E quem sabe assim ele não assume logo a Hyunhee. Fico tão feliz por ela!”

“Eu também! Ela merece ser feliz.”

“Todos nós merecemos…” Woohyun disse nostálgico, entristecido. Como se falar sobre felicidade lhe trouxesse tristeza.

Depois daquela frase, ele nada dissera. Pensei em convidá-lo para comer algo na padaria perto da escola, mas talvez aquela não era uma boa ideia. O levei até sua casa e sua mãe me cumprimentou com um abraço. Me sentia estranho quando estava perto dela, como se ela fosse descobrir sobre nós dois a cada ínfimo instante ou oportunidade. Mas suas atitudes eram diferentes de desconfiança. Vê-la mudar por Woohyun era algo que me preenchia o peito de forma diferente. Como se finalmente pudesse notar que ele conquistou o que tanto almejava.

Antes de ir embora, apertei a mão dele. Estava fria, mas eu podia sentir algo vindo dele. Como se, mesmo com o toque gélido de sua palma, eu sentisse meu coração se aquecer.

Quando sua mãe me levou até o portão, me fez um convite irrecusável.

“Quer dormir aqui esta noite, Sunggyu? Boohyun precisa viajar e não tem ninguém para ajudar o Woohyun.”

O que eu poderia dizer diante daquilo?

Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi procurar minha mãe. Como era de se esperar, ela estava em seu quarto, lendo um livro. O avental ainda em sua cintura, manchas de molho bulgogi me faziam pensar que talvez o jantar fosse meu favorito, mas eu já tinha um convite para aquela noite. Não me contive e corri até ela, me jogando sobre o colchão e a fazendo soltar o livro. Ela acariciou meu rosto e beijou minha testa, aconchegando-me em seu peito.

“Tudo bem filho? Você parece estranho…”

“Acho que sim, mãe.” Abracei sua cintura e ela secou a primeira lágrima que caiu de meus olhos.

“Acha mesmo? Por que está chorando?”

“Ah, mãe… São tantas coisas… Hoje Boohyun hyung me chamou para levar o Namu até o hospital, pra receber a quimio. Depois fomos até aquele salão perto do hospital e ele cortou o cabelo. Ele estava tão triste… Sei que ele gosta muito da aparencia dele e isso só  o deixa pior.”

“Meu amor…” Ela afagou meus cabelos e eu me senti ainda pior. “Isso faz parte do tratamento. Mesmo que ele não precisasse, uma hora ia ter que ficar sem cabelo por um tempo. Mas logo ele vai melhorar e vai crescer tudo de novo. E ele vai voltar a ser aquele garoto lindo que eu conheci.”

“Será, mãe? Às vezes eu fico sem esperanças.” Deixei um suspiro escapar de meus lábios e ela beijou meu rosto novamente.

“Você realmente gosta desse seu amigo, né?”

“Sim…” Foi tudo o que eu pude dizer.

“Então por que não fazemos algo?”

Ela sorriu para mim com aqueles olhos de menina que nunca a abandonaram. Minha mãe sempre tinha as melhores ideias, e aquela não fora diferente. Levantou-se e segurou meu braço, me levando em direção ao banheiro. Me empurrou para dentro e fechou a porta, dizendo que eu só poderia sair dali quando estivesse brilhando – achei que ficaria ali para sempre.

Quando finalmente terminei meu banho e me vesti, a procurei pela casa toda e a encontrei na cozinha, acompanhada de Hyunhee. Ou minha melhor amiga era extremamente rápida, ou meu banho fora realmente demorado.

Hyunhee correu até mim sorridente e pendurou-se em meus ombros, abraçando-me apertado. Eu podia sentir a felicidade estampada no rosto dela e, de certa forma, aquilo me deixava feliz. Ela finalmente conseguira o que sempre almejara, e eu não seria egoísta e a repreenderia. Minha mãe talvez não ficasse feliz ao saber que ela não chegaria a ser sua nora.

“O que a senhorita tá fazendo aqui?” Perguntei afastando a longa franja de seus olhos.

“Sua mãe me chamou pra fazer alguma coisa gostosa…”

“Mas mãe, eu não disse… Mas a mãe do Namu pediu pra eu dormir na casa dele hoje a noite.”

“Eu sei disso, Kim Sunggyu! Ela ligou pra mim assim que você saiu daqui, depois do almoço.” Minha mãe sorriu e deu uma panela para Hyunhee. “Por isso chamei minha garota favorita aqui. Ela vai me ajudar a preparar algo saudável e delicioso para o Woohyun!”

“Mãe!” Disse surpreso, vendo-a rir com Hyunhee.

“Sem essa, Gyu! Agora vai arrumar suas coisas que vamos cuidar disso tudo, ok?” Ela disse, empurrando-me para fora da cozinha. “E só volte aqui quando eu chamar!”

Sem querer contrariar, as deixei a sós e fui para meu quarto. Ver minha mãe e meus amigos animados e pró-ativos quando o assunto era o bem estar de Woohyun me deixava aliviado. Como se um peso imenso fosse tirado de minhas costas.

Naquele momento não havia câncer ou Kim Myungsoo que me tirasse do sério. Havia apenas aquela pontinha de esperança que aquecia meu coração.

Enquanto aquelas loucas faziam barulho na cozinha, me deixei relaxar. Li um pouco dos livros para a prova de geografia que se aproximava, liguei para Dongwoo e aproveitei para conversar com Hoya também, já que eles não se largavam. Contei sobre o que havia acontecido e Dongwoo lamentou saber que Woohyun havia definitivamente cortado os cabelos. Hoya disse que ele ficaria lindo de qualquer jeito, e meu melhor amigo gargalhou irritado, com ciúmes.

Também liguei para Sungjong, pois me senti um hyung muito mau por não haver lhe dado a devida atenção na escola. Ele disse que entendia, que sempre entendia, e que qualquer dia desses viria em casa para dormir. Com a condição de que Hyunhee também fosse e dormisse abraçada a ele. Talvez Boohyun hyung não goste disso, mesmo sabendo que Sungjong não está fisicamente interessado nela.

Falamos sobre coisas idiotas e sem sentido, e ele me fez rir. Pensei por um instante no quão preconceituoso eu fora com Lee Sungjong antes de conhecê-lo. Às vezes penso que, se não houvesse dado o braço a torcer, jamais o teria em minha vida para a alegrar. E a melhor parte de tudo era saber que agora ele também podia alegrar Woohyun.

Perguntei sobre Sungyeol e comentei que o havia visto em frente ao hospital, mas que guardasse segredo. Sungjong praticamente estourou meus ouvidos ao gritar do outro lado da linha que ele jamais contaria algo do tipo para seu hyung, com a pena de perder tudo o que conseguira recuperar com tanto custo. Eu ri, percebendo o quão bobo eu sou.

Contei sobre Myungsoo e o início dos testes de compatibilidade, e ele disse que ao menos uma vez ao dia seu cunhado liga para ele e fala sobre isso. Pois Myungsoo mesmo sendo o mistério em pessoa, não sabe guardar as coisas para si. Sungjong alertou que Sungyeol nada sabe a respeito, e que é melhor que seja assim.

Se Sungyeol não sabe, por que estava na frente do hospital?

Sungjongie disse que ele anda perseguindo o namorado, já que desconfia que Myungsoo ainda doa sangue para Woohyun. Disse aos quatro ventos que não quer que o sangue azul do namoradinho corra pelas veias de alguém tão podre quanto Woohyun. Naquele momento segurei meu celular com tanta força, que pensei haver quebrado parte dele. Quem Lee Sungyeol pensava que era para dizer algo do tipo a respeito de Woohyun?

Desliguei antes que me irritasse, e Sungjong pediu que eu ficasse tranquilo, pois ele sabia de todos os passos daqueles dois imbecis. Com alguém como o maknae como espião eu sabia que não haveria qualquer problema.

Me deitei em minha cama e vi a foto que estava desde sempre em meu display. O sorriso de Woohyun me fazia ter certeza de que aquela situação toda mudaria, mesmo que às vezes tudo parecesse perdido. Então eu vi sua estrela colada na cabeceira de minha cama.

Lembrei-me de que eu fizera tantas promessas para ele. Para mim mesmo.

Assumi para aquela estrela e para Woohyun que eu jamais abandonaria aquele barco. Que cortaria fora a parte apodrecida de minha maçã e a manteria a salvo. Que seria parte de sua cura. Que nem o tempo, nem a dor, nem as circunstâncias seriam capazes de descascá-la e deixá-la escurecer. Que eu o amaria mesmo que aquilo significasse amar sozinho.

Eu o amaria mesmo que precisasse deixá-lo.

Quando Hyunhee se jogou sobre mim em minha cama e eu acordei assustado, sabia que elas haviam terminado o que começaram. Não havia percebido que pegara no sono, mesmo que fosse um mero cochilo. Ela me levou até a cozinha e me mostrou o que preparara com mamãe. Caldos que Woohyun gostava e chá verde. Tinha também um bolo de chocolate e alguns biscoitos. Elas riram da minha expressão e eu perguntei onde estava o bulgogi, porque senti o cheiro de longe.

“O bulgogi é nosso, Kim Sunggyu. Já que você vai abandonar a mamãe, Hyunhee vai dormir aqui e passar a noite comigo.” Minha mãe disse, colocando todos os potes em uma bolsa térmica.

“Não fique com ciúme, Gyu… Eu não vou dormir na sua cama. A omma e eu vamos dormir juntas na dela.” Hyunhee apertou minha bochecha e riu divertida.

“Mas e o pai?”

“Ele que fique na sua cama! Hoje nessa casa quem manda são as garotas!” Mamãe disse animada, como se tivesse quinze anos, e bateu a mão contra a de Hyunhee em uma espécie estranha de high five.

“Ok então…” Eu disse, procurando um garfo para beliscar o refogado. “Acho que já vou para a casa dele…”

“Tá, filho. Só não se esqueça das suas coisas. Sua vitamina tá na primeira gaveta do armário do banheiro.”

“Obrigado.” Disse, indo em direção ao corredor. Antes que a ideia sumisse de minha cabeça, me virei e as vi colocando a louça suja sobre a pia. “Mãe, antes de ir, você pode me fazer um favor?”

“Sim, meu amor. Qual?” Ela perguntou curiosa e Hyunhee me encarou como se já soubesse o que eu estava por pedir.

“Corta meu cabelo?”