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Sessenta e Um

Não consegui me mover da cama no dia seguinte. Era como se parte de mim estivesse tão pesada que eu simplesmente não conseguisse respirar. Tudo doía. Tudo rescendia a medo. Talvez meu corpo só estivesse se preparando pelo que estaria por vir. Se é que algo estaria por vir.

Na segunda feira tentei de todas as formas me recompor. Assisti às aulas como se pudesse de alguma forma absorver o conteúdo, mas tudo o que me vinha à mente era Nam Woohyun. Como quando ele ainda me era uma incógnita e eu não sabia como agir. Naquele momento eu tampouco sabia, ou tentava descobrir uma forma rápida e indolor de dizer tudo o que era necessário dizer. Tudo parecia confuso demais.

Eu observava sua carteira, ainda vazia e ao meu lado, e tentava de todas as formas manter as lágrimas dentro de mim. Por que eu estava tão sensível? Por que tudo me fazia lembrar-me de coisas dolorosas e confusas do passado? Quando me dei por mim, o sinal soou, avisando-nos que era hora do intervalo. Dongwoo passou a mão por meu ombro e eu me levantei, arrastando-me em direção à porta. Hyunhee me sorriu, mas seus lábios logo enrijeceram ao notar minha expressão.

“Aconteceu algo, Gyu?” Ela perguntou, abraçando-me a cintura. Dongwoo passou seu braço por meu ombro e aquele gesto parecia me sensibilizar ainda mais.

“Eu… Eu acho que preciso conversar.” Respondi cabisbaixo e Dongwoo sacou seu celular.

“Ok. Vou falar pro Hoya passar o intervalo com o Sungjong. Vamos pro ginásio. Tudo bem?”

“Sim.” Respondi sem emoção e Hyunhee recostou sua cabeça em meu ombro. Eu não tinha forças para sequer abraçar meus melhores amigos.

Passamos pelo refeitório e Hyunhee se afastou de nós, a fim de buscar algo para comermos. Dongwoo se manteve em silêncio até que chegássemos à porta do ginásio. Eu vi Sungjong sentado em uma das mesas, ao lado de Hoya, e aos poucos desistia de tentar conversar.

Nos sentamos na arquibancada e não demorou muito até que Hyunhee chegasse com três sanduíches e suco. Eu não conseguiria comer, de qualquer forma. De todos os lugares daquela escola, o ginásio era o que mais me fazia lembrar-me de Woohyun.

“O que houve, Gyu Gee Gee?”

“É o Woohyun… E Myungsoo… E o fato de que tudo agora parece tão normal, que eu sinto como se tudo fosse ser destruído a qualquer segundo. Não sei como agir diante do Namu, e eu preciso falar com ele sobre o Myungsoo antes que comecem a fazer os testes pro transplante. Eu queria ser diferente… Parecer menos bobo e inseguro… Confiar no Woohyun e saber que o que nós temos é especial. Mas tudo o que eu consigo sentir é medo.” Disse de uma vez enquanto estalava os dedos, num torpor de sentimentos confusos e estranhos. Dongwoo tocou meu ombro e Hyunhee segurou minha mão. Eu não me sentia mais tranquilo com aqueles gestos.

“Calma, Gyu… Eu sei que você tem passado por estresse e que não é nada fácil ter de enfrentar algumas coisas, mas eu não acho que o Namu vá mudar só porque o Myungsoo quer ajudar. Você não confia em você mesmo?” Hyunhee disse calmamente, mas eu podia ver em seu olhar que ela não estava tão calma assim.

“Ela tem razão. Woohyun passou por muitas coisas… Ele sabe que você é um lugar seguro, enquanto o Myungsoo significa apenas pesar. Não acredito que ele seria capaz de mudar de ideia num momento como este.”

Inspirei profundamente e tomei um pouco do suco que Hyunhee havia trazido. Eles tinham razão, depois de tudo. Mas o que eu poderia fazer contra o aperto que insistia em sufocar meu peito? Confiar em Woohyun não era tudo. Confiar em Myungsoo é o que me fazia ter calafrios.

“Eu sei de tudo isso. Mas como eu posso contar tudo ao Woohyun sem me sentir um saco de merda? O pior é que eu já disse pra ele mais de uma vez que precisava conversar. Não quero deixá-lo ansioso.”

“Há quanto tempo você está ansioso, Kim Sunggyu?” Dongwoo me repreendeu e Hyunhee soltou minha mão.

“Desde muito antes do nosso primeiro beijo. Aliás, eu vivo encarcerado por ansiedade desde que o vi entrar naquela sala de aula. Mas agora é diferente. Agora nós estamos juntos. Tudo parece diferente, como se algo fosse se partir ao meio a qualquer segundo.”

“Não se sinta assim, Gyu. Você sabe muito bem pelo que passei por muito tempo. E agora estou aqui, não estou? Inteira. Conversando contigo e com o Dongwoo. Não foi fácil, mas eu consegui. Não estou dizendo que você vá se desapaixonar pelo Woohyun, ou algo do tipo. Só quero dizer que em algum momento você vai ter confiança. Você vai conseguir. E nós estaremos aqui pra te apoiar no que for preciso, ok? Não é verdade, Dongwoo?” Ela sorriu para o meu melhor amigo, e era um sorriso tão confiante que eu não pude evitar dar um meio riso.

“E não se esqueça de que eu e o Hoya ainda podemos quebrar a cara daquele idiota se ele tentar alguma gracinha.” Dongwoo gargalhou, empurrando seu punho contra meu queixo.

“O que eu faria sem vocês?” Perguntei, abraçando-os.

“Ficaria choramingando pelos cantos, sozinho… Emo.” Dongwoo brincou e Hyunhee deu-lhe um tapa no braço.

“É… Mas agora vamos voltar, porque daqui a pouco o sinal toca e eu quero abraçar o Sungjong!” Hyunhee se levantou e puxou nossas mãos.

“Ok… Obrigado.”

Eles voltaram a me abraçar e nos aproximamos da porta do ginásio. Eu não me sentia completamente melhor, mas falar sobre meus medos era como se eu tirasse um peso enorme de minhas costas. Eu não poderia fugir por muito tempo, e de tanto tentar ser forte, meus braços aos poucos perdiam a força.

Eu, no entanto, não deixaria de tentar.

A caminho de casa, enquanto me distraía com as lembranças da conversa que tivera com meus amigos mais cedo, passei diante da casa de Woohyun. Me deixei ficar ali, observando a fachada bonita e imponente. Talvez meu pensamento estivesse tão focado em imaginar em que parte daquele lugar Woohyun estava que não notei a mão de Boohyun hyung tocar meu ombro. O fitei brevemente e ele sorriu, dando-me dois tapas leves, abrindo o pequeno portão com uma paciência que apenas ele possuía. Eu estava tão longe de mim mesmo que não lhe ofereci ajuda.

“Quer entrar, Sunggyu?” Ele ofereceu com um sorriso. “Aproveita que mamãe não está, assim você pode ficar mais à vontade.”

“Tem certeza, hyung?” Titubeei e ele me puxou pelo braço.

“Entra logo e deixa de ser bobo! Antes de sair, eu deixei o Woohyun na sala. Acho que ele vai ficar feliz em te ver. Quem sabe vocês não dão uma saidinha.”

Respirei fundo e tentei não pensar muito. Às vezes isso acaba atrapalhando, principalmente quando se trata de mim e da minha eterna confusão interna. Andei rapidamente até a entrada da casa e, assim que abri a porta, pude ver o topo da cabeça de Woohyun recostado sobre o sofá. Tirei meu tênis e andei lentamente até ele, deixando minha mochila atrás do estofado. Ele parecia haver reconhecido meu cheiro, pois assim que ouviu o som dos cadernos se movendo dentro da bolsa, virou-se para mim e me abriu aquele sorriso que pertencia apenas a ele e era direcionado somente a mim.

Voltar para casa lhe fizera-lhe realmente bem. Woohyun tinha as bochechas coradas e pareciam mais cheias, como se a comida de sua mãe realmente fosse capaz de fazê-lo recuperar um pouco da aparência que outrora tivera. Ele segurou minha mão antes mesmo que eu pudesse dar a volta e, assim que Boohyun entrou e trancou a porta, indo em direção à cozinha, eu me sentei ao lado daquele a quem eu tanto amava.

“Senti tanto sua falta!” Woohyun disse, acariciando meu rosto, embrenhando os dedos por meus fios de cabelo. “Não parece que te vi há dois dias…”

“Eu também senti a sua!” O abracei com cuidado e Woohyun selou seus lábios sobre os meus. Tinham um sabor adocicado, como maçãs recém colhidas, e meu coração se apertou timidamente em meu peito. Beijava-o como se não houvesse ninguém mais ao nosso redor. Como se os lábios de Woohyun fossem a única fonte que pudesse saciar minha sede. E assim que ele se viu sem fôlego, selou seus lábios sobre os meus e inspirou profundamente, como se desejasse roubar meu ar para si.

“Não via a hora de poder te beijar assim. De te tocar assim…” Ele acariciou meus braços, descendo lentamente as mãos e as apoiando em minhas pernas. Segurei-as e voltei a colocá-las em meu rosto. Woohyun estava tão cálido que o frio em meu estômago parecia se dissipar aos poucos.

“Você faz tanta falta, Namu! Todos no colégio estão esperando por você! Já sabe quando pode voltar às aulas?”

“Talvez daqui a duas semanas. Ainda estou esperando a Dra Cho me dar a liberação. Por enquanto você vai ter que vir até aqui repassar a matéria.” Ele sorriu, roubando-me outro beijo.

“Eu virei aqui todos os dias te buscar. Vamos voltar a ir juntos todos os dias.” Disse esperançoso, tomando-o em meus braços embriagando-me em seu perfume. “Não vou te deixar por um segundo sequer.”

“Mal posso esperar!”

Woohyun afundou seu rosto em meu pescoço e automaticamente acariciei seus cabelos. Estavam ressecados e quebradiços, mas não me importei com a textura. Continuei a afagá-los e ele respirava pesadamente contra minha pele. Era como nos velhos tempos, como quando dormimos juntos. Sentia meu corpo se aquecer a cada vez que a ponta de seu nariz roçava em meu maxilar, e, sem perceber, puxei um pouco seus cabelos.

Assustei-me ao notar que alguns fios ficaram presos aos meus dedos, e com cuidado soltei-me dele, tentando tirar seus cabelos de minhas falanges sem que ele percebesse. Boohyun hyung apareceu com um copo de vitamina em mãos e eu me afastei de Woohyun, tentando não parecer tão surpreso.

“Nam Woohyun, ta na hora do seu lanchinho.” Ele sorriu, entregando o copo a Woohyun. “Beba devagar, não quero que se engasgue de novo.

“Ok, hyung!” Woohyun deu de ombros e eu abracei uma almofada.

“O que é isso?” Perguntei curioso. Parecia saboroso, já que Woohyun bebia com tanto gosto.

“É uma vitamina de frutas e um coquetel de remédios que a doutora passou pra ele. Tem que tomar essa coisa horrível todo dia.” Boohyun deu de ombros, ligando a TV em seguida.

“É mesmo ruim?” Perguntei a Woohyun, e ele meneou afirmativamente.

“Tem gosto de peixe.” Ele respondeu, arrotando assim que terminou sua bebida. “Desculpa.”

“Tudo bem…” Dei de ombros e coloquei o copo sobre a mesa de centro, oferecendo-lhe minha mão.

Assistimos ao programa bobo enquanto acariciávamos as palmas de nossas mãos por baixo da almofada. Quando eu estava ao lado de Woohyun, parecia esquecer-me de todos os problemas, de todos os medos e ansiedades que me envolviam e me cegavam.

Mas ele não se esquecia de nada.

Subitamente, Woohyun roçou a ponta de seu nariz por minha orelha, e sussurrou a pergunta que eu desejava não existir, em meu ouvido.

“O que você tinha pra me contar?”

“Er… Eu queria falar sobre isso a sós.”

“Acho que minha mãe ainda demora a chegar, Sunggyu… Por que não leva ele pro quarto?” Boohyun acenou sem tirar os olhos da TV. Levantei-me e abri a cadeira de rodas, ajudando Woohyun a se sentar. Ele logo indicou o caminho até o corredor, apontando para uma porta ao final dele.

“Estou aqui enquanto não consigo subir as escadas…” Ele disse como se nada disso o afetasse. “É quase igual ao outro, a diferença é que não entra tanta luz assim.”

Realmente o quarto não havia mudado muito. Os móveis e as estrelas no teto pareciam as mesmas, a diferença estava na forma como foram dispostos. Abri a janela e ajudei Woohyun a se sentar em sua cama. Ele acomodou-se junto à cabeceira e me puxou pelo braço para que eu me sentasse ao seu lado.

“Vem aqui… Ainda não matei minha saudade.” Ele sorriu, acariciando meus cabelos como se fossem fios de ouro, ou algo parecido.

Woohyun me abraçou e tocou meus lábios com os seus. Era um beijo sensual, intenso, que me tirava o fôlego. Ele não parecia o mesmo garoto debilitado de antes. Parecia-se com o Woohyun que me tomou em meu quarto, meses atrás… Que me tocou tão intimamente que sentia como se meu corpo pertencesse a ele, não a mim.

Separei o beijo ao notar que aquilo não funcionaria se eu continuasse a ser tocado daquela forma, e Woohyun deitou minha cabeça em seu peito. Eu podia ouvir seu coração saltar rapidamente e era tão reconfortante, como se eu me assegurasse de que ele realmente existisse. Que ele estava ali, comigo, só nós dois.

“Namu… Eu não sei como começar.” Suspirei um pouco frustrado e ele acariciou meu rosto.

“Apenas comece.” O fitei e ele sorria. Aquele sorriso que dificultava tudo.

“Vou tentar.” Sorri amarelo e endireitei-me. Desejava dizer tudo aquilo olhando em seus olhos. Assistindo atentamente às suas reações. Tentando não perder nenhum detalhe. “Tem a ver com seu passado. Com seu futuro… Com tudo o que está em jogo desde que descobrimos o que você tem.”

“O que quer dizer?” Ele franziu o cenho, suas mãos coladas às minhas, como se não quisesse que eu saísse dali nunca mais.

“Nam Woohyun…” Inspirei, tentando não lhe demonstrar medo ou insegurança. Eu precisava estar no controle, lhe dizer tudo sem titubear. “Não importa o que aconteça, para mim sua recuperação é a coisa mais importante. Saber que você vai se curar, que vai seguir sua vida e ser feliz como merece. Você já conseguiu tantas coisas, não é mesmo? Seus pais já não te proíbem de ter amigos e receber visitas. Eles até mesmo te tratam melhor que antes. Eu fico muito feliz por saber disso, por saber que logo você não vai mais precisar passar por essas coisas…” Disse de uma vez, como sempre faço, e a expressão confusa de Woohyun continuava a moldar seu rosto.

“Sim, Gyu-ah. E você faz parte disso tudo. Foi graças a você e aos outros, que nunca desistiram de mim, que estou aqui, lutando contra essa droga de câncer.”

“E nunca vamos te deixar.” Sorri e o beijei brevemente, sentindo seus lábios estremecerem sobre os meus. “Mas não somos apenas nós que queremos te ajudar.”

“Como assim? Tem mais alguém no colégio que quer me ajudar?” Ele disse surpreso, sorrindo abertamente à menor suposição de ser querido entre nossos colegas.

“Na verdade não…” Naquele momento, eu estremeci. Era como se meus ossos desaparecessem e só me restasse a carne mole, indefesa, inútil. O sorriso dele não havia mudado, mas talvez minha expressão se tornasse meio retorcida e sombria. Meu estômago subia até minha cabeça, e esta, não parava de girar. Eu precisava continuar.

“Então quem mais seria? Não consigo pensar em mais ninguém…”

“Woohyun…” Eu respirei profundamente e fitei suas mãos. Elas se apertavam contra as minhas com todas as forças que ainda restavam nele. Eu podia senti-lo antecipar minha resposta, mas ela simplesmente não queria sair. Uma vez mais notei que precisava ser forte. “Eu tentei te contar isso tantas vezes, mas acho que é ainda mais difícil depois de tudo o que passamos. Mas nós confiamos um no outro, não confiamos?”

“Claro que sim, Gyunie.”

“Uma pessoa me procurou assim que soube sobre você. Eu não queria que isso acontecesse dessa forma, mas se existe alguma forma de te salvar, nós vamos tentar. Vamos passar por tudo isso e, quando olharmos para trás, vamos perceber que isso não foi tão importante assim. Você vai conseguir, e vai seguir sua vida… Vai fazer suas escolhas e…” Atropelei-me em minhas palavras e sua expressão confusa não abandonava o sorriso em seus lábios.

“Do que você ta falando, Gyu? Não to entendendo nada… Quem te procurou?”

Inspirei profundamente e segurei o ar em meus pulmões. Eu precisava de mais oxigênio em meu cérebro do que precisei ao vê-lo chorar por aquele cara. Mais que quando soube que ele estava internado em um hospital. Bem mais que quando descobri sua leucemia. Aquele nome inflava meus pulmões e fazia com que o ar fosse algo insuportável de se segurar. Meus lábios formigaram antes mesmo que eu pudesse pronunciá-lo.

“Kim Myungsoo…”

Um silêncio insuportável se fez naquele quarto. Eu podia jurar ouvir meu coração bater bem ao pé dos meus ouvidos. Ou talvez fosse o coração de Woohyun, já que o meu parecia haver parado assim que seu sorriso se desfez.

Ele soltou minhas mãos, franziu o cenho e desviou seus olhos dos meus. Era como se o mundo se desintegrasse aos poucos, como uma câmera lenta e torturante. Woohyun cobriu os lábios com a ponta dos dedos finos, os olhos perdidos tentavam de alguma forma não derramar lágrimas. Talvez ele soubesse que aquilo não seria nada bom. Sua reação não fora a melhor, tampouco a menos esperada.

“Myung… Myungsoo?” Ele engoliu aquele nome a seco. Podia ver seu pomo subir e descer amargamente em sua garganta. “Co-como ele soube?”

“Sungjong fez uma campanha de doação de sangue. Sungyeol e Myungsoo são compatíveis… Eles doaram sangue pra você. Mas no começo não sabiam que era pra você. Só achavam que alguém precisava de sangue… O problema é que Myungsoo descobriu que você está com leucemia e quer doar a medula pra você.”

“E por que me contou isso só agora?” O olhar dele era diferente. Como se me julgasse, esperasse algo de mim que eu não era capaz de oferecer.

“Ele não queria que você soubesse. Mas sabemos que quando os testes de compatibilidade começarem, vão precisar registrar o nome dos doadores. Myungsoo me disse que essa é a única coisa que ele pode fazer por você, depois de tudo o que ele fez no passado.”

Woohyun mordiscou o lábio inferior e moveu-se sobre a cama. Parecia incomodado com algo, e esse algo certamente atendia pelo nome de Kim Myungsoo. Ou talvez, Kim Sunggyu.

“Me desculpa por dizer isso só agora. Eu estava nervoso, não sabia como agir ou o que dizer. Sei que não tenho o direito de decidir nada a respeito da sua vida, mas não posso evitar me preocupar contigo. Ou com quem se aproxima de você… Só quero o melhor pra você, Namu. Você sabe disso.”

“Ok, Sunggyu… Eu entendi.” Ele respondeu friamente, puxando a colcha para que se cobrisse. Levantei-me da cama para que ele pudesse se sentir mais confortável, mas ele não voltou a me fitar. “Você pode… Me deixar sozinho um pouco?” Woohyun pediu com a voz entrecortada, como se não desejasse dizer aquilo. Mas eu sentia sua insatisfação em cada pequeno gesto seu.

“Tudo bem.” Engoli a seco e me curvei diante dele. Acredito ter ficado ali mais tempo que o necessário. Talvez aquele gesto fosse a única coisa que eu tinha a lhe oferecer. Ao menos era o que eu pensava enquanto sentia meu interior se esfarelar em mil pedaços.

Saí de seu quarto e tentei ao menos suprimir a vontade de chorar. Não queria preocupar Boohyun hyung, tampouco dar de cara com sua mãe e parecer uma garotinha. Para minha surpresa, Hyunhee estava sentada ao lado dele enquanto ele a acariciava os fios de cabelo. Quando notaram minha presença, Hyunhee levantou-se de um salto e sorriu para mim. Minha melhor amiga notou minha expressão, mas não se atreveu a dizer nada.

“Hyunhee… veio repassar a lição para o Woohyun?” Perguntei surpreso e Boohyun deitou-se no sofá.

“Sim… Boohyun oppa disse que vocês estavam conversando, então decidi esperar.”

“Que bom. Eu vou indo…” Disse sem emoção, pegando minha mochila atrás do sofá.

“Não quer ficar e fazer o dever junto com a gente?” Ela ofereceu, mas tudo o que pude fazer foi acenar negativamente, calçar meus tênis e sair dali.

Desaparecer.

Tentar controlar meu coração que batia desesperado, esperando que de alguma forma, eu pudesse reverter toda aquela situação.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD