Rotten Apple

Quarenta e Dois

Movi-me sobre o futon, minha mão deslizando pelo lençol, notando o vazio ao meu lado. Entreabri os olhos, e fitei o travesseiro, puxando-o para perto de mim. Inspirei, e o perfume de Woohyun ainda estava ali. Ainda havia o vestígio de que ele havia dormido ao meu lado. Abracei o travesseiro, um pouco sonolento, ainda não estava totalmente desperto, e fechei os olhos.

Ainda podia sentir a presença dele. Lembrava-me aos poucos do que acontecera, como quando despertamos de um sonho bom e ele ainda está fresco em nossa memória, e sorri. Eu podia me lembrar com perfeição de seus beijos, do calor de sua pele que se propagava até a minha, e me tirava o fôlego. De como ele entrelaçou seus dedos nos meus, e guiou nossas mãos até que eu pudesse sentir o sulco entre os nós de seus dedos roçar em meu membro, dificultar minha respiração, me provocar uma das sensações mais incríveis que já provara.

E assim como ele me tocava, eu experimentava seu corpo como se fossemos apenas um. A sensação de dividir cada pequeno arrepio, cada grunhido que abafávamos com nossos lábios colados um ao outro, e eu suspirei, sentindo-me absoluto.

Mas então me lembrei de que aquele era só o travesseiro que ainda tinha seu perfume, o deixei ao lado de meu corpo, e me sentei, esfregando os olhos com cuidado. Nada passara daquele pequeno toque, estávamos vidrados demais com o fato de que éramos nós dois ao lado de Dongwoo e Hoya, e nos contivemos com aquilo. Eu me lembrava de tudo.

Hoya ainda estava deitado em seu lugar, sem Dongwoo ao seu lado. Ajoelhei-me e me arrastei até o raque, pegando meu celular. Eram nove e meia da manhã, bastante cedo para quem foi dormir depois das três, bastante tarde para quem precisava estar em casa antes que seus pais acordassem. Na tela de meu celular, no entanto, havia uma mensagem.

Achei que você ficava lindo depois que eu te beijava, mas definitivamente você é perfeito enquanto dorme ao meu lado.

Me deixei ler, reler, decorar cada um dos caracteres contidos naquela mensagem, e voltei a me deitar, sorrindo feito um idiota. Todas as vezes em que idealizei uma paixão, elas eram vagas e bobas, nada parecia real ou tão perfeito quanto o que eu sentia naquele momento. Woohyun me incitara, me instigara, desprezara meus feitos, me deixara para baixo, ferido… Mas, aos poucos, ele pegava meu coração entre seus dedos e o reconfortava, remodelava, soprava um sentimento nunca antes percebido por mim. Eu definitivamente me apaixonava ainda mais por ele, por seus intentos ao me corresponder, pela forma como me fazia sentir.

Dongwoo entrou no quarto enquanto eu ainda admirava a mensagem, e trazia em mãos uma bandeja com três copos de leite e algumas torradas. Me sentei e o ajudei a colocá-la ali sem fazer bagunça, e ele tirou as pantufas. Ele não estava de pijama, logo notei.

“Onde estava?” Perguntei, pegando logo uma das torradas.

“Ajudando a mãe do Hoya com o café.”

“E Woohyun?”

“Ah, eu o acompanhei até a casa dele… Saímos daqui cinco e meia.”

“Tão cedo! Por que não me acordaram?” Bati em seu ombro, e ele reclamou, pegando um dos copos.

“Ele não deixou. Disse que você parecia um anjinho enquanto dormia, e que seria um pecado te acordar. Ah, ele te beijou antes de sair… Namu é tão romântico que me dá carie nos dentes.” Dongwoo disse como se não agisse de forma boba com Hoya. Mas eu não lhe dei ouvidos, apenas toquei meus lábios, como se ainda pudesse sentir o beijo de Woohyun.

“Ele é perfeito.” Respondi com um sorriso sonhador, e Dongwoo não foi capaz de me ridicularizar.

“É tão bom te ver assim, Gyu-ah…” Ele tomou do leite e aproximou-se, falando baixo para que não acordasse Hoya. “Você parece tão feliz.”

“Acho que eu não sabia o que era felicidade antes dele chegar… Talvez Woohyun signifique a felicidade.”

“Calma, garoto. Firme esses pés no chão, porque você nunca sabe quando ele pode mudar de novo. Não é como se Namu fosse bipolar, mas você conhece as condições dele.”

“Eu sei, Dongwoonie, eu sei. Eu só estou aproveitando cada dia como se fosse o último.”

“Isso mesmo. Agora precisamos de outro plano pra fugir com o Namu. Agora pra que vocês fujam sozinhos.” Ele sorriu malicioso, e eu bati em sua perna.

“Pra ser sincero, eu não estou tão ansioso. Quero que tudo aconteça da forma que deve acontecer.” As palavras simplesmente dançaram enamoradas para fora de minha boca, e eu olhei para a tela do celular novamente.

Não era como se eu fosse me iludir, ou algo do tipo. Eu me deixava levar pela maré, mesmo que isso significasse as possíveis tormentas e ressacas que ela impõe ao seu bel prazer. A vida era como o mar, se eu pudesse estender tal metáfora e fazê-la mais significativa.

Eu era apenas um garoto de dezesseis anos, vivendo seu primeiro amor e se deixando levar pelas sensações que isso me causava. Não precisava de muito mais.

Não demorou até que Hoya acordasse e que terminássemos de comer. Fizemos nossa higiene matinal e jogamos mais algumas partidas, mesmo que eu estivesse totalmente imerso naquela mensagem, pensando nas mil e uma possíveis respostas que poderia lhe dar – nenhuma à altura.

Depois do almoço, aproveitei a proximidade da casa de Hoya e Hyunhee, e passei para vê-la. Estava linda como sempre, com um sorriso tão inspirado quanto o meu, brincando em seus lábios. Sungjong estava com ela.

“Sunggyunie!” Ela me abraçou animada assim que me viu, e me empurrou para o banco em sua varanda. “É tão bom quando você vem aqui sem eu te chamar!”

“Fala como se eu nunca viesse… Oi, Sungjongie.” Acenei para ele, e recebi um sorriso de volta.

“Olá hyung, que cara animada é essa?” Ele me olhou incisivo, e eu sabia que não poderia esconder nada daqueles dois.

“Nada de especial… Eu e Woohyun estamos juntos, acho.”

“Como assim nada de especial, hyung?” Sungjong saltou do banco, com uma expressão tão surpresa e feliz quanto a de Hyunhee.

“Isso é algo que a gente espera, não é? Eu gosto dele, ele sabe disso… Nada mais normal.” Dei de ombros e os entreolhei. “Espera, nada normal é ver Sungjong toda vez que venho aqui.” Hyunhee e Sungjong gargalharam como quem guarda um segredo.

“Sungjong é mais meu amigo que todas as minhas melhores amigas da escola juntas, Gyu.”

“Noona é mais divertida, mais legal e melhor companhia que meu irmão e Myungsoo hyung. Sem contar que dela eu não sinto ciúme.” Os dois se abraçaram, e eu os ignorei. Sungjong era mais moça que Hyunhee, e eu me sentia nauseado com aquilo.

“Tudo bem, eu aceito sua explicação. Mas vejam bem, passei pra contar as novidades!”

“Conte, conte!” Os dois disseram, e eu ri deles.

Quando comecei a contar, nos mínimos detalhes – exigência dos dois – tudo o que aconteceu desde minha confissão até o momento em que Woohyun me beijou e foi para sua casa, naquela manhã, percebi que de fato aquilo era realidade. Era verdade que eu fantasiava sobre muitas coisas, mas tudo o que saíra de minha boca não se tratava de nenhuma mentira ou fantasia boba.

Eu sorria enquanto contava, e eles sorriam comigo, como se compartilhassem minha alegria. Sungjong e Hyunhee não eram nada diferentes de mim quando os conheci. Ambos sabiam da dor de gostar de alguém e não serem correspondidos, de esperarem que algum dia um milagre acontecesse, e eles fossem abençoados com um amor como o de Dongwoo e Hoya. Mas eles sabiam bem que sonhos são apenas aqueles que temos enquanto dormimos, que as pessoas pelas quais eles eram apaixonados jamais corresponderiam às suas expectativas. Embora Hyunhee não soubesse – talvez desconfiasse – que Hoya era a pessoa na vida de Dongwoo, ela bem sabia que não havia chances.

Ainda assim, eles não me invejavam, eles sorriam e torciam por mim. Eu talvez não encontrasse mais amigos como eles.

Enquanto eu falava sobre o que eu ouvira de Woohyun, Sungjong parecia consternado, incomodado com o que eu dizia. Ele parecia saber bem sobre o que eu contava, e aquilo me deixava intrigado. Eu não poderia segurar a curiosidade. Não quando ele estava ali. Quando ele estava presente, vendo tudo o que de fato aconteceu, no passado.

“Jongie, tem algo que você saiba sobre isso?” Ele mordiscou o lábio inferior, e eu compreendi que ia além do que eu poderia esperar.

“Na verdade eu sei demais, hyung, só não sei se é bom te contar tudo.”

“Mas eu quero saber… Eu prometo não contar ao Namu.” Insisti, e ele fitou Hyunhee. Eu sentia que até ela conhecia a história, menos eu.

“Se insiste…” Ele deu de ombros, vencido pela minha insistência. Ok, nem tanta insistência assim. “Eu só acho que isso pode afastar a única e última oportunidade de eu me aproximar do Nam hyung… E eu gosto tanto dele! Como gosto de todo mundo… Queria muito poder me reaproximar dele, ser amigo outra vez. Eu nunca deixei de ser amigo dele, mas tudo aconteceu tão de repente… Se ele descobrir isso, aí sim é que nunca mais olha pra mim.”

“Ok, Sungjongie, desembucha!” Eu olhei sério para ele, e o garoto se sentou diante de mim.

“Eu sempre gostei do Myungsoo hyung…” Hyunhee revirou os olhos, talvez tentando imaginar o que levava aquele garoto a gostar de outro garoto. Algum dia ela iria se acostumar a estar cercada por eles. “Mesmo antes de me aproximar dele, por causa do Sungyeol hyung, eu o observava, notava seu humor, suas companhias, com quem ele andava e deixava de andar. Eu não tinha escolha a não ser guardar o que eu sentia, já que, quando eu finalmente tive coragem de me declarar, descobri que ele estava com Woohyun hyung.” Ele disse pesaroso, e eu podia entender como ele se sentia. Eu era coberto por ciúme, mesmo que soubesse que aquela história já estava terminada. “Na mesma época, descobri que Sungyeol hyung também gostava do L hyung, então decidi cuidar do meu amor platônico.”

“Isso é tão eu…” Hyunhee disse, parecendo tão desconcertada quanto Sungjong. “Eu fazia o mesmo com Dongwoo, mas ele sempre escapava das minhas mãos.”

“Assim como vocês se escondem no banheiro feminino, nós fugimos pro vestiário, noona.” Ele disse, e eu quase engasguei. Mas era melhor fingir que nada acontecera. “Enfim, eu tentei proteger Myungsoo e Woohyun hyungs, porque conheço Sungyeol e sei que ele é um louco de pedra. Só que eu não consegui… Um belo dia, ele pegou os dois deitados no gramado da escola. Diferente do que eu imaginava, Sungyeollie hyung não fez nada. Eu o segui, porque eu realmente tentava proteger Myungsoo, e o vi tocar a campainha da casa do Nam hyung. Ele contou tudo pra mãe dele. Foi meu irmão quem separou os dois.”

“E como você sabe que Woohyun não sabe?”

“Porque nem Myungsoo hyung sabe. Quando o escândalo todo aconteceu, Sungyeollie ofereceu apoio a ele, e uns dias depois, eles começaram a namorar. Por isso acho que esse relacionamento é uma farsa. No fundo, Myungsoo hyung ainda deve gostar do Nam hyung.”

“Eu não quero nem pensar nessa possibilidade.” Pensei alto, e Sungjong tocou meu joelho.

“Não se preocupe, hyung, eles não vão se separar. Sungyeol hyung é capaz de matar ele antes que isso aconteça.”

“Esse garoto é louco!” Hyunhee disse espantada, e Sungjong riu.

“Dá pra acreditar que ele é meu irmão? Espero que Daeyeol cresça como um garoto normal e hetero, porque eu não suportaria mais outro histérico na família.”

“Fica tranquilo, Jong, não vou contar ao Namu.” Sorri para ele, e sua expressão era mais leve.

“Obrigado, hyung. Se ele descobre, talvez até nossa amizade acabe.”

“Não vou deixar que isso aconteça!”

“Aish, vamos entrar e comer, e falar sobre coisas felizes.” Hyunhee se levantou, puxando-nos pela mão. Nós sempre entendemos que, independente do que acontecesse, era ela quem mandava na gente.

Por mais que aquela tarde fosse agradável e aqueles dois me fizessem rir, saber sobre a verdade por trás de Myungsoo e Woohyun me tomava a paz. Por mais que eu agradecesse – mesmo admitindo ser egoísta por ter tal pensamento – eu sentia que não havia sido nada justa a forma como eles se separaram. Mesmo que me doesse, eu entendia que eles deveriam conversar, pôr tudo em pratos limpos. Woohyun deveria perdoar Myungsoo para finalmente conseguir seguir em frente.

Eu só temia que seu perdão o trouxesse de volta para si. Eu não permitira que Woohyun se perdesse de mim. Não quando eu o puxava delicadamente. Não quando eu finalmente o colhia.

Voltei para casa antes do jantar, já que minha mãe começava a reclamar de minha ausência. “Onde já se viu, jantar e almoçar na casa dos outros sempre… Meu filho precisa da minha comida.” Ela estava com tanto ciúme, que fizera minha comida favorita. Depois do jantar a ajudei a lavar a louça, coloquei minha roupa no cesto e tomei um banho demorado. Ela havia preparado milk-shake e pipoca, e fomos assistir a um filme qualquer. Até meu pai se animou, e eu me senti um bebê no meio deles, abandonados no sofá.

Quando o filme estava pela metade, e meu pai pendeu para o lado e caiu no sono, minha mãe me aconchegou em seu peito e me fez cafuné. Eu era tão mimado, que às vezes me sentia culpado por aquilo. Culpado porque sabia que Woohyun não tinha aquilo. E, se algum dia eu duvidei da força de meus pensamentos, naquele exato momento eu passei a ter certeza absoluta a respeito deles. Notei meu celular vibrar sobre a mesa de centro, e me apressei a atendê-lo, vendo minha mãe me fitar chateada.

“Espere aí, mamãe, vou atender. É um amigo.” Disse a ela e fui para a cozinha, sorrindo feito um bobo por receber uma ligação de Woohyun. A primeira ligação dele. “Alô?!”

“Gyu-ah.” Sua voz soou rouca e reverberou dentro de mim. Conseguia ser ainda mais linda ao telefone. “Eu sei que você mora nessa rua, mas você nunca me contou qual é o numero da sua casa.” Ele disse rapidamente, e eu ouvi o barulho de carro e movimentação. Seria mesmo…?

“Calma, onde você está? Por que tá perguntando isso?”

“To tentando te achar.”

“Vo-Você tá na rua?” Perguntei perplexo e Woohyun riu.

“Vai me dizer qual dessas é a sua casa, ou vai me deixar no relento?”

“Ok.” Disse em desespero, meu cérebro aos poucos voltava a oxigenar. Voltei à sala e fiz sinal para minha mãe, avisando-a que sairia até o portão. Assim que abri a porta e encarei a rua, vi Woohyun em frente ao meu portão. Como se ele já soubesse. Desliguei o celular e corri em sua direção. “Hey, aqui.”

“Gyu-ah!” Ele sorriu, colocando as mãos nas grades. Eu não sabia o que fazer assim que me aproximei dele. Woohyun estava tão lindo que meus olhos não podiam suportar. “Vai me deixar aqui, do lado de fora?”

“Não, não!” Abri o portão, tentando esconder o tremor em minhas mãos, e ele entrou. Tinha a mochila nas costas e o celular em mãos. Assim que o fechei, Woohyun me puxou para trás de um dos arbustos que adornava a entrada de minha casa, e me abraçou. O abraço mais gostoso de toda minha vida.

“Como é bom te ver!” Ele disse, o queixo em meu ombro e os braços espalhados em minhas costas, me pressionando contra ele.

“Também é bom te ver! Eu só não esperava…”

“Que eu viesse até aqui?”

“É! Eu nunca imaginei que…” Ele desfez o abraço e acariciou meu rosto. Sorria tão abertamente, que era capaz de me aquecer com aquele gesto.

“Mas eu to aqui. Não podia ficar mais um dia longe de você.” Woohyun roçou seu nariz sobre o meu, e selou nossos lábios. “Você me faz sentir livre, Gyu-ah.”

“To tão feliz que esteja aqui…”

O segurei em meus braços, sentindo o calor de seu corpo contra o meu. Woohyun encaixava-se perfeitamente entre eles, me levava a outra dimensão, a um mundo onde éramos apenas nós dois. Então eu ouvi minha mãe gritar “Sunggyu-yah, entre já ou vai pegar um resfriado!” e nos separamos.

“Seus pais estão acordados?”

“Sim, a gente tava vendo um filme. Vamos entrar…”

“Mas… eu…” Woohyun parecia inseguro, e eu já podia imaginar que ele escapara enquanto seus pais dormiam, mesmo que fosse nove e meia da noite.

“Minha mãe vai adorar te conhecer.”

“Ela não vai achar estranho eu aparecer a essa hora?!”

“Dongwoo já chegou mais tarde… Sem contar que…” Por um segundo, quase entreguei o fato de que Sungjong já havia dormido em minha casa. “Vamos logo.”

“Mas…”

“Você não confia em mim?” Perguntei, e ele apenas meneou em afirmação. Apertei sua mão entre a minha, e o puxei para dentro de minha casa.

Tentei passar em silêncio pela sala, mas minha mãe logo nos notou, me encarando com uma grande interrogação em seu rosto. Era melhor eu não dar muito motivo para perguntas.

“Sunggyunie, não vai terminar de ver o filme? Quem é esse?” Ela se moveu no sofá, falando num tom baixo para que não acordasse meu pai.

“Ah, ele é meu amigo, Nam Woohyun… acho que não te apresentei ele antes.” Eu disse, sentindo-o estremecer em minha mão, e o soltei antes que ela questionasse.

“Claro que não, eu me lembraria desse nariz se o visse antes.” Ela se levantou, fechou o hobby e veio em nossa direção. “Que garoto lindo você é, Woohyunnie!” Minha mãe disse, acariciando o rosto dele. Woohyun sorriu em agradecimento, e eu comecei a temer por sua sanidade. “Por que não deixa essa mochila no quarto do Gyunie, coloca um pijama e vem ver filme com a gente? Vou preparar um copo de leite pra você.”

“Nã-Não precisa, senhora.”

“Nada de não precisa, senhora para mim! Agora leve ele, Gyu, e só volte quando estiverem prontos!” Mamãe passou os dedos pelos fios de cabelo de Woohyun e, mesmo que ele fosse bem mais alto que ela, aquela cena era fofa, como se ele fosse filho dela ou algo do tipo.

“Ok, mãe.”

Indiquei o caminho pelo corredor, e logo estávamos em meu quarto. Me envergonhei pela bagunça em que ele se encontrava, mas Woohyun simplesmente jogou a mochila no chão, sentando-se em minha cama.

“Gostei do seu quarto!” Ele disse, tirando o pijama da mochila e tirando a camiseta em seguida. “É bem a sua cara.”

“Obrigado.” Me senti estranho quando ele se levantou e desabotoou a calça. Eu o havia tocado na noite anterior, mas a sensação era totalmente diferente com as luzes acesas e Woohyun se despindo. “Eu tento deixar ele arrumado, mas é impossível.”

“O meu também é assim.” Ele se endireitou assim que o elástico do pijama circundou sua cintura, e se aproximou de minha escrivaninha. Observava as fotos que tinha sobre ela, e sorria. Ele certamente viu minha foto entre Sungjong e Hyunhee, mas a ignorou completamente. “Só acho injusto que não tenha uma foto comigo, além da foto do dia da competição.”

“É, não tivemos outra chance.”

“Não gosto dessa foto, ela me faz lembrar um dia triste.” Ele foi até sua mochila e sacou de lá seu celular. Veio até mim, com seu sorriso, e me abraçou. “Acho que merecemos uma foto mais feliz, concorda?”

“Si-sim…” Ele tirou uma foto, e em seguida a transferiu para o meu através do Bluetooth.

“Eu tenho uma coisa pra você…” Ele sussurrou, me beijando em seguida. “Aqui…”

Fitei sua mão e, entre ela e o celular, havia uma das estrelas fosforescentes que ele tinha no teto de seu quarto. Eu não sabia se sorria, se dizia algo, se simplesmente agradecia ou faria qualquer outra coisa. Me sentia em conflito. Peguei a estrela e colei meus lábios sobre os dele. O beijei profundamente, como se tal gesto pudesse servir de agradecimento por aquele pequeno detalhe. Quando separamos o beijo, ele aproximou os lábios de meu ouvido, e me senti arrepiar.

“É pra você se lembrar de mim antes de dormir.”

“Como se eu pudesse, em qualquer momento, te esquecer.”

“Se isso acontecer, eu volto aqui só pra te fazer lembrar.” Ele sussurrou, selando nossos lábios outra vez.

“Melhor irmos, antes que minha mãe venha até aqui e me veja beijar você.”

Woohyun riu, e pegou a estrela, colocando-a juntamente com seu celular sobre minha escrivaninha. Na sala, meu pai já não cochilava no sofá, e minha mãe havia deixado três copos cheios de leite com achocolatado sobre a mesinha de centro. Eu e ele nos sentamos, e ela se colocou entre nós, pegando um dos copos.

“Se quiser, Woohyun, eu posso voltar o filme e nós assistimos desde o começo.”

“Não se preocupe, eu já vi esse filme.” Ele disse timidamente, e pegou um dos copos.

“Então podemos ver outro!” Ela respondeu, e eu já começava a notar que ela havia gostado dele. Mamãe adorava mimar meus amigos, mas se não gostava de algum deles, não fazia muita questão de demonstrar isso.

“Mãe, eu não vi… Vamos terminar de assistir ele.”

“Ok, Sunggyunie.” Ela disse, apertando o play. Mamãe era uma pessoa extremamente afeiçoada às pessoas, principalmente às pessoas próximas a mim. Não estranho que ela tenha trazido Hoya e Sungjong à nossa casa, que tenha ajudado papai a nos dar banho e nos por para dormir. Eu realmente não estranhava tal comportamento da parte dela. Mas Woohyun parecia tímido demais ao notar que ela me fazia cafuné, e não demorou muito até que ela alcançasse seus fios de cabelo e o acariciasse também.

Ele me olhou sutilmente, e eu dizia com os olhos que ele não deveria se sentir envergonhado. Eu não sabia se o carinho de minha mãe poderia o ferir mais, já que eu não conhecia sua relação com ela, mas o sorriso em seus lábios me tranquilizava aos poucos. E, aos poucos, ele se sentia confortável ao lado dela. Minha mãe, que de tão remoída pelo remorso me mimava, acabava por amenizar, ao menos um pouco, a carência que Woohyun não fazia muita questão de esconder.

Se eu nunca fosse bem vindo em sua casa, não era um grande problema. Eu estava feliz em saber que, ao menos em minha casa, ele se sentiria bem.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD