Rotten Apple

Quarenta e Um

Quando a última aula daquela sexta feira acabou, Woohyun parecia mais tranquilo. Já não tinha os olhos avermelhados, ou o semblante caído. Eu me sentia melhor por fazê-lo desabafar, tirar das costas o peso que parecia fazê-lo se arrastar por aí. Woohyun não nascera para se sentir assim, vencido pelas circunstancias da vida.

Dongwoo me fitou de soslaio, talvez tentando imaginar o que se passava por minha mente, e eu uni os olhos, mostrando a língua para ele.

“Seu feioso!” Ele disse, batendo em meu braço.

“O que você quer, Jang Dongwoo?”

“Saber por que você anda tão esquisito.” Ele disse, se levantando e sentando-se sobre a carteira de Woohyun.

“Não tenho nada.” Dei de ombros, guardando minhas coisas na mochila.

“E você, Namu-ya, o que vai fazer hoje à noite?”

“Dormir.” Woohyun parecia haver me copiado, e eu ri. Dongwoo chutou meu joelho e Woohyun beliscou o braço dele.

“Vai dormir sim, Namu. Mas vai dormir na casa do Hoya, com a gente!” Dongwoo completou, falando com tanta propriedade que parecia ser dono do futuro dele.

“Nos seus sonhos, não é mesmo?” Woohyun respondeu irritado, e Dongwoo bagunçou seus fios de cabelo.

“Não, nos nossos. Vamos dar um jeito de te pegar na sua casa, nem que tenhamos que pular o muro e te amarrar. Sei lá, você vem pra nossa festa do pijama, está decidido!”

“Se for mesmo…” Eu disse, não querendo parecer tão desesperado, e ele me encarou. “Não precisa levar nada, eu arrumo roupas a mais, assim você pode sair sem nenhum peso.”

“Vocês querem mesmo me colocar em encrenca, não é?” Woohyun fechou a mochila, nos fitando com incerteza. Ele não parecia estar bravo, só estava surpreso.

“Na verdade a gente quer que você viva mais!” Dongwoo bateu em seu ombro, e ele torceu o nariz. “Você só tem dezesseis, Woo-ya, se não viver agora, vai viver depois dos trinta? Aí não vai ter a menor graça arriscar.”

“Mas eu…”

“Sem mas! E… você vai poder dormir com o Gyu Gee Gee…” Dongwoo sussurrou, a mão em concha ao lado dos lábios. “Seremos só nós quatro.”

“Vamos embora.” Eu disse irritado, empurrando Dongwoo e dando espaço para que Woohyun pudesse se levantar. “Não fale mais besteiras, Jang Dongwoo!”

“Se não vier, Nam Woohyun, vou te buscar na sua casa.” Meu melhor amigo apontou para ele, e então eu percebi que Dongwoo realmente tinha tal intenção.

Dongwoo se perdeu entre os corredores, e eu me coloquei atrás de Woohyun, como se quisesse protegê-lo. De quê eu realmente não sabia, eu só adquirira um espírito bastante protetor quando se dizia respeito a ele. Ao sairmos da escola, me pus ao seu lado e ele sorriu para mim.

“Você tá mesmo disposto a levar coisas pra mim?” Ele perguntou, roçando sutilmente os nós de seus dedos nos meus.

“Claro que sim! Seria legal se pudéssemos passar um tempo juntos fora da escola. Na casa do Hoya tudo é tão tranquilo… Dongwoo dorme tanto lá que os pais dele se acostumaram com a presença dele. Sem contar que eles já sabem sobre o namoro deles.”

“Então seria constrangedor dormir lá.”

“Não. Hoya sempre leva gente pra lá. Vamos, eu te ajudo.” Pisquei para ele, e recebi seu sorriso confuso em retorno.

“Ah, não é como se eu não quisesse ir. Eu só não sei como.”

“Nós vamos dar um jeito nisso. A que hora seus pais vão dormir?” Perguntei, desejando entrelaçar meus dedos nos dele. Woohyun estava tão lindo que eu não conseguia resistir.

“Eles costumam se deitar as nove, mas só as dez eu tenho certeza de que eles estão dormindo.”

“Acho que se eu passar na sua casa as onze seria mais seguro. O que acha?”

“Como vou sair de casa?” Woohyun uniu as sobrancelhas, me encarando. Eu toquei a ponta de seu nariz e ele fez uma careta.

“Pela porta, oras! Se seus pais estarão dormindo, não vão notar você sair.”

“Eu vou precisar voltar antes que eles acordem. Kim Sunggyu, você tem que me prometer que estarei lá antes das seis da manhã!” Ele apontou em minha direção, e eu cruzei os dedos, fazendo minha promessa.

“Palavra de escoteiro!”

“Você nem é escoteiro, não vale!” Ele me bateu, segurando meu dedo mínimo em seguida.

Aquela era nossa despedida, discreta e bastante peculiar, eu diria. Estávamos para dobrar a esquina de sua casa, e aquela era minha última chance de dizer algo a ele.

Mas o que eu poderia dizer? Tudo e nada era tão parecido que eu já não conseguia decidir qual seria a melhor opção. Eu já dissera tanto a ele naquele dia, mas nada do que meu coração realmente desejasse dizer. Talvez eu mesmo não soubesse ainda como interpretar meus sentimentos. Respirei fundo e aproximei-me dele, sussurrando ao seu ouvido.

“Eu faria tudo por ter a chance de passar uma noite com você.”

Woohyun sorriu, mordiscando o lábio inferior. Aquela reação me fazia sentir borboletas no estômago, eu não sabia ao certo definir. Nada poderia ser mais especial que aquela sensação.

Durante toda aquela tarde pensei em como agir quando estivesse com ele na casa de Hoya. Como me comportar, o que fazer, o que não fazer. Woohyun me dava todos os motivos para me aproximar cada dia mais dele, mas eu já não conseguia definir com exatidão quais eram seus limites. Não era como se eu tomasse a casa de Howon como um motel ou algo do tipo… Eu só… Passaria uma noite inteira ao lado de Woohyun.

Abri minha mochila e tirei de lá meus cadernos. Escolhi um de meus melhores pijamas e boxers novas, e as coloquei lá, junto com minha escova de dente. Lembrei-me de que deveria comprar uma para ele, já que não acreditava que Woohyun possivelmente levaria uma. Meu perfume, alguns objetos aleatórios que eu não sabia para quê colocava na mochila, e a miniatura da Estátua da Liberdade. Eu também não sabia o porquê, mas acreditava que aquilo me trazia sorte.

Durante a tarde conversei com minha mãe e disse a ela que não voltaria para casa, já que iria jogar vídeo game com Dongwoo e os outros. Ela apenas sorriu, me deu um abraço e beijou o topo de minha cabeça. Passei o restante do dia com Dongwoo, jantei em sua casa e, a caminho da casa de Hoya, eu me sentia tão nervoso que não sabia o que fazer.

“Dongwoo-ah, será que vai dar certo?”

“Trazer o Namu? Claro que vai! Nós vamos conseguir, e você vai poder ficar mais tempo com ele.” Dongwoo me abraçou, encorajando-me. “Eu sei o quanto você quer isso… Foi do Hoya que partiu a ideia, mas eu sabia que precisaria de alguém como eu pra encorajar aquele bocó do Woohyun.”

“Eu me sinto estranho…”

“Por quê?”

“Nós vamos… dormir juntos.”

“Ah, como você é virgem, Kim Sunggyu!” Ele praticamente berrou, me empurrando. Senti o corpo perder o balanço e me assustei, chutando-o em seguida.

“Para de ser idiota!” Resmunguei, vendo-o gargalhar. Dongwoo não era fácil.

“Não sei por que você tá tão nervoso… Não é como se vocês fossem transar, ou algo parecido. Afinal, eu e Hoya estaremos no quarto também. E nós nem pensamos em fazer algo enquanto vocês estiverem lá.”

“Como foi…” Perguntei subitamente, talvez tal questão fosse ainda mais inesperada por mim que por ele.

“O quê?” Dongwoo levantou uma sobrancelha, e eu sabia que ele já imaginava uma sorte de coisas.

“A primeira vez de vocês.”

“Não acredito que tá me perguntando isso, Sunggyu-ah!”

“Me conta!” Puxei seu braço e ele me empurrou outra vez. Dongwoo ficou vermelho, e aquela era uma das únicas vezes em que o via constrangido.

“Ok.” Ele se retesou, relaxando os ombros, e eu o puxei para que continuássemos caminhando. “A gente planejou tudo um zilhão de vezes, mas nenhuma deu certo. Ou ele ficava nervoso demais, ou eu não conseguia convencê-lo de que, como eu sou mais experiente, deveria mostrar como se faz.”

“Com quantos garotos você já transou?” Perguntei perplexo, e ele se enrubesceu outra vez.

“Não te interessa!” Dongwoo bateu em minha cabeça, e gargalhou. “Alguns garotos que você jamais saberá quem são. Importa é que agora eu só tenho o Hoya, e que ele era virgem quando fizemos isso pela primeira vez.”

“Como foi?! Você ainda não disse!” Eu praticamente cantei a pergunta, e Dongwoo me puxou pelo braço, recostando-se ao muro da casa de Howon. Finalmente havíamos chegado.

“Foi meio tenso… Como todas as primeiras vezes são. Bem, não tem um segredo, você só não pode ter medo do que está por fazer. Nunca se sabe se a pessoa está ou não a fim de ser passiva, então é algo que seu corpo diz enquanto vocês se tocam.” Dongwoo elaborou como se fosse professor de educação sexual.

“Quem é o passivo?” Meus olhos praticamente brilharam ao fazer aquela pergunta, e Dongwoo me deu um tapa tão forte no braço, que me deixou marcado.

“Aish Sunggyu! Que tipo de pergunta é essa?”

“Só quero saber, porque aí posso dizer se vou querer ser um ou outro.” Eu disse de forma tão boba, que eu mesmo senti vergonha por aquilo.

“Não é assim tão fácil. Entre eu e Hoya não existe isso, pelo menos. Às vezes ele tem vontade de ser o ativo, então eu o deixo. Sunggyu, eu vou soar tão besta e romântico quanto o Namu, mas… quando se ama alguém, não é a posição que importa. É o fato de que você ama essa pessoa e quer dar prazer a ela. Você sente isso, e é lindo. E gay. Mas nós somos gays, então não importa.”

“Você pareceu a professora de orientação sexual agora.” Minha expressão deveria ser estranha, pois ele mesmo contorcia seu rosto de forma nada comum.

“Relaxa, Gyu… Você e Namu estão proibidos de perderem esse cabaço na casa do meu namorado. Nós pensamos em levar vocês só pra que fiquem mais tempo juntos.”

“Obrigado.”

Eu sorri para ele, e Dongwoo tocou a campainha. Eu sabia que ele e Howon sempre tinham as melhores intenções possíveis, eu é que era idiota o bastante para fantasiar coisas sem cabimento. Não era também como se eu estivesse louco por avançar alguns passos com Woohyun. Eu o desejava, não havia dúvidas quanto a isso. Vez ou outra me tocava pensando nele, mas nunca cheguei a imaginar como seria se estivéssemos assim, a sós em um lugar confortável e só nosso.

Meneei a cabeça, tentando afastar os pensamentos que deixavam meu rosto quente e avermelhado, e entramos na casa de Howon. Sua mãe estava feliz em me ver, perguntou várias vezes por Woohyun e serviu o jantar, falando sobre como era bom receber os amigos do filho mais novo. Eu não sabia que ele tinha outros irmãos, mas eram todos mais velhos e com suas próprias vidas.

Ela nos ajudou a arrumar os futons no quarto de Hoya, e trouxe todas as almofadas da sala para nós. Preparou algo para comermos e disse onde poderíamos encontrar tudo, já que esperava que passássemos a noite jogando. Ela era um amor.

Mas aí chegou a hora. Eu deveria buscar Woohyun em sua casa e, por algum motivo, meu estomago não conseguia parar de me deixar nauseado. Eu estava tão ansioso, que era como se eu houvesse esquecido o caminho para casa. Dongwoo e Hoya decidiram me acompanhar, temerosos de que eu não soubesse mais como voltar.

Quinze minutos depois, estávamos ao lado do portão de Woohyun. Eu olhei para dentro, tentando ao máximo me esconder, e enviei uma mensagem a ele. Não houve resposta, e eu começava a me sentir ainda mais nervoso. Dongwoo tentou me acalmar, mas tal estado de espírito só se fez presente em meu peito, quando vi Woohyun abrir com cuidado o portão.

“Por que não respondeu?” Perguntei assim que ele o trancou de volta, esgueirando-se entre nós. Woohyun entrelaçou nossos dedos e eu senti um frio na barriga tão bom quanto a sensação cálida de suas mãos contra as minhas.

“Eu tava ocupado demais procurando minhas chaves. Tive que trancar meu quarto e esconder a chave mestra, não quero que minha mãe descubra que eu não estou lá.”

“Muito bem, Namu! Estou orgulhoso!” Dongwoo disse, empurrando-o. Me senti irritado, já que sabia que Woohyun não era forte o bastante para aguentar aquele baque repentino.

“Calma aí, Dongwoo!” O repreendi, e ele me bateu novamente. Eu começava a cogitar a possibilidade de hematomas.

“Calma nada, vamos logo que estamos perdendo tempo, e tempo é precioso!”

Apertamos o passo, e logo éramos oito pés correndo pelos cômodos da casa de Hoya, ansiosos pelo que nos esperava naquela noite. Dongwoo decidiu que primeiro deveríamos reforçar o que tínhamos no estômago, e toda a pizza que estava na geladeira se resumiu a farelos e caroços de azeitona.

Mais uma hora, e estávamos os quatro jogados pelo futon, de banho tomado e estômagos forrados. Dongwoo, com sua mania de organização, criou uma forma de indicar a ordem dos jogadores, e o prêmio final seria um dos potes de sorvete inteiro para o vencedor. Woohyun se animou tanto, que até a terceira rodada, ele permanecera invicto – só perdera para Hoya porque, segundo ele, eu o teria distraído quando comecei a falar sobre minhas férias.

“Não é justo! Eu estava quase ganhando do Howonie e você me atrapalhou!” Ele resmungou, batendo em meu braço, já que aquela era minha vez de jogar.

“Para de colocar a culpa em mim, Namu-yah! Você se distraiu e agora sou eu que vou jogar.”

Assim que me sentei ao lado de Hoya e peguei o joystick, senti os joelhos de Woohyun tocarem minhas costas. Ele estava atrás de mim, suas mãos começaram a massagear lentamente meus ombros, e eu senti um arrepio fino percorrer minha coluna. Tencionei os músculos, e ele impôs mais força, me deixando ainda mais desconfortável.

“Namu, você tá me atrapalhando.”

“Não gosta da minha massagem, Gyu Gee Gee?” Ele colou os lábios em meu ouvido, e eu mal podia segurar o controle entre meus dedos.

“Você me distrai desse jeito.” Disse baixinho, e pude ouvir seu riso.

“Podem parar com essa putaria, porque eu quero jogar e vocês não deixam!” Dongwoo resmungou, fazendo Hoya rir.

“Calma, Dongdong, deixa eles curtirem o momento.”

“Que curtir o momento o quê… Me dá esse controle, Gyu-ah!”

Dongwoo me empurrou, roubando o joystick e me fazendo sentar longe deles. Woohyun me fitou satisfeito, e encostou-se na cama de Hoya, me oferecendo uma das mãos. Uni-me a ele e ajeitamos as almofadas em nossas costas. Ele me abraçou, os braços ao redor de meu corpo e sua respiração em minha pele era a sensação mais preciosa que algum dia eu pude provar. Ergui os olhos e o fitei, ele os tinha presos à tela da TV, examinando a performance de Dongwoo e Hoya.

“O que foi?” Ele perguntou assim que percebeu meu olhar.

“Só to te admirando.” Sorri e ele aconchegou-se em mim, seu rosto mais próximo ao meu.

“Assim fica melhor?” Woohyun tocou a ponta de meu nariz com o seu, e eu não podia mais desviar meus olhos dele.

“Bem melhor.” Embrenhei meus dedos por seu cabelo, e ele colou sua testa à minha. “Você fica lindo no meu pijama.”

“Isso é tão clichê, Gyu.”

“Não tem importância, você vai continuar lindo.” Sussurrei, e senti uma mão se chocar contra meu tornozelo. Não me importei em ver quem era, Woohyun era tudo o que eu precisava ver. “To tão feliz que você tenha vindo.”

“Eu também. Valeu a pena me arriscar pra ficar mais tempo contigo.”

Woohyun sorriu, e eu podia vislumbrar as covinhas lindas que se formavam ao lado de seus lábios. Acariciei seu rosto, sentindo-o cálido entre meus dedos, e beijei seus lábios com cuidado. Ainda tinha gosto de creme dental, o frescor de menta e o calor que vinha de si, que se propagava por meu corpo como pequenos choques elétricos que percorriam cada pedacinho de mim.

Ele era tão perfeito quando entre meus braços. Nossa respiração se mesclando, nossas línguas enleadas docemente, meus dedos em seus cabelos, suas mãos em minha pele. De todos os sonhos que eu algum dia embalara, nenhum poderia se comparar à realidade de tê-lo ali comigo. Nenhum sonho poderia ser mais bonito.

Dongwoo então me bateu novamente – e eu já estava começando a me enfezar com aquilo, mas não iria mudar meu foco, não quando eu estava com Woohyun – e resmungou algo que eu não consegui entender, já que Hoya começou a rir descontroladamente, tanto que não só suas orelhas, mas seu rosto estava completamente vermelho.

“Ei! Não fiquem aí se agarrando!” Dongwoo disse, jogando uma das almofadas em nós.

“Foca no jogo, Dinowoo!” Woohyun jogou a almofada de volta, acertando-a em Hoya.

“Esperem aí, eu não tenho nada a ver com isso!” Howon reclamou, devolvendo a almofadada.

“Então não fica no caminho, maknae!”

Eu revidei o ataque e logo éramos um bolo de gente e travesseiros e controle caindo para o lado e game over e gargalhadas. Quando nos demos por vencidos e o cansaço nos pegou em cheio, éramos apenas garotos espalhados pelo futon, com o som do vídeo game ao fundo – nem percebemos que havíamos deixado a TV ligada. Dongwoo rastejou-se até deitar-se sobre o peito de Hoya, e Woohyun recostou-se em minhas pernas. Nos olhávamos ofegantes, sem saber ao certo o que dizer.

“Aish, agora to cansado.” Hoya resmungou, e Dongwoo o deixou respirar, saindo de cima dele.

“Isso porque você é o mais novo.” Woohyun disse e eu me ajeitei sobre o futon, peguei um travesseiro e o abracei.

“A vida não é fácil quando se é namorado de Jang Dongwoo. Preciso de bateria extra.”

“Você fala como se fosse verdade.” Dongwoo reclamou, e eu não resisti em jogar outro travesseiro nele.

“Dongwoo-yah, é muito difícil conviver contigo! Principalmente eu, que te conheço há tanto tempo.”

“Claro Gyu Gee Gee, quando se é você, um velho rabugento e preguiçoso.”

“Pois é, tão velho que não vou nem discutir.”

Nós rimos ainda mais, e ficamos assim, trocando farpas como se fosse a coisa mais normal do mundo – e de fato era. Eu não podia expressar o quão feliz eu me sentia naquele momento. O quão surreal era ter meus dois melhores amigos e a pessoa por quem eu suspirava e desejava ao meu lado. Se eu pudesse escolher congelar qualquer momento da minha vida, certamente seria aquele.

“Acho que vou dormir.” Hoya ajoelhou-se e puxou os cobertores, entregando um deles para nós. “Boa noite pra vocês.”

“Boa noite.” Respondemos em uníssono, e ele se levantou para apagar a luz.

Assim que nos encontramos em pleno breu, meu estomago colou-se às minhas costelas, como se tentasse escapar de meu corpo através de meus ossos. Havia um espaço considerável entre nós e Dongwoo e Hoya, e estes dois fizeram questão de construir uma barreira de travesseiros separando-nos deles.

Woohyun nos cobriu e voltou a se deitar, virando-se para mim. Eu o copiei, mas não adiantava de muito, já que o quarto estava escuro. Ele então puxou o cobertor até o topo de nossas cabeças e colocou seu celular entre nós – eu não fazia ideia de onde ele o tirara, no entanto – e apertou um botão, clareando o local.

“Agora eu posso te ver.” Ele sussurrou, um sorriso lindo brincando em seus lábios.

“Bem melhor assim, não acha?”

“Sim.” Woohyun acariciou meus lábios, e eu cerrei os olhos. “Estou tão feliz por estar aqui com você.” Ele sussurrou, e meu corpo inteiro sorria ao ouvi-lo.

“Eu nem sei como expressar minha felicidade, Namu-ya.” O fitei, e ele sorria. Aquele sorriso que era capaz de iluminar aquele quarto escuro. Que era capaz de iluminar minha vida.

“Gyu…” Ele tocou a ponta de meu nariz com o seu, sua respiração resvalava em meu rosto e aquecia meu corpo, como se pudesse cobri-lo por completo. Eu apenas meneei a cabeça, fitando-o. Seus olhos me consumiam. “De todas as minhas escolhas, você foi a melhor delas.”

Então Woohyun me beijou. Me beijou com seus lábios, com sua língua que vertia água em minha boca, com seus dedos que embrenhavam-se em meus cabelos, seu corpo que tocava o meu e o acendia, como quando o sol nasce e ilumina a vida. Nos tocávamos gentilmente, timidamente. Como se explorássemos um mundo novo, mesmo que tão comum a nós dois.

Sentia sua pele roçar a minha, a extensão de nossos corpos separados apenas pelo tecido fino de nossos pijamas, o calor que nos fazia transpirar levemente sob aquele cobertor. As mãos de Woohyun deslizavam por minhas costas, sutis e macias, descobrindo o calor de minha pele ao invadir calmamente minha camiseta. A ponta de seus dedos acariciava-me, roubava-me arrepios e suspiros, me transportava para um mundo completamente novo. Um mundo onde Nam Woohyun era tudo. Onde éramos perfeitos um para o outro.

Onde éramos um.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD