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Vinte e Quatro

Estávamos a postos em nossas raias. Eu e Hoonye de um lado, Dongwoo e Woohyun do outro. Os times dos outros colégios não nos intimidavam, sinceramente. Por mais preguiçoso que eu fosse, os treinamentos ajudaram consideravelmente meu condicionamento físico e, se antes eu queria vencer aquela prova por orgulho, agora eu desejava vencê-la por Woohyun.

Ele estava do outro lado da piscina – o revezamento era de cinquenta metros, então só precisávamos nadar até a outra ponta – pulando e movendo os braços, na sua forma estranha de se aquecer. Ainda acreditava que ele não estava bem, mas se insistia tanto, eu não poderia proibi-lo de competir. Sei bem como é ter orgulho, e feri-lo com suas próprias mãos pode ser pior que vê-lo sendo rasgado por mãos alheias.

Dongwoo moveu os braços em nossa direção e subiu no pequeno trampolim. Woohyun tentou sorrir, mas ele não me convenceu. Quando subi no trampolim diante de mim, observei meus oponentes. Sungyeol estava ali, há um garoto de mim. Eu o fitei, levando totalmente a sério aquela competição. Não perderia para um idiota que se achava no direito de levantar a voz a mim. Eu? Kim Sunggyu, o cara mais popular e cobiçado daquela escola. Pobre Sungyeol…

Quando o juiz da partida anunciou, todos nós pulamos na piscina e nos posicionamos. Ao ouvir o apito que dava inicio à competição, impulsionei o corpo para trás e comecei a nadar. Nado de costas era, sem sombra de dúvida, a melhor opção para mim. Eu ganhava velocidade e podia ouvir o zumbido vindo das arquibancadas. Algo como “Fighting Kim Sunggyu” entoado por vozes femininas histéricas, eu não conseguia ouvir ao certo.

Me concentrei em mim mesmo, ignorando completamente o fato de que Sungyeol estava tão próximo. Quem sabe seu interior estaria borbulhando tanto quanto o meu. Quando a ponta de meus dedos tocou a borda da piscina, vi Dongwoo saltar por sobre mim e começar o nado de peito. Notei que a arquibancada pulava e gritava o nome de Dongwoo com tanta convicção quanto gritavam o meu nome, e saí da piscina. Woohyun já se punha sobre o trampolim e, quando passei por ele, o ouvi dizer.

“Parabéns, Sunggyu… Você foi o primeiro a chegar.”

Não pude esconder meu sorriso ao ouvi-lo, e meus olhos buscaram Dongwoo, que alcançava o outro lado da piscina rapidamente. Ainda estávamos em primeiro lugar e, conhecendo a habilidade de Hoonye com nado borboleta, já tinha a vitória como certa.

Fitei Sungyeol e ele parecia irritado, gritando algo ininteligível ao pé do ouvido de Myungsoo, que o ignorava completamente. Os olhos de Myungsoo buscavam apenas minha silhueta e a de Woohyun. Foi então que percebi que ele nadaria contra Namu e notei que já era tarde demais quando aquele garoto pulou na água e Hoonye saía da piscina. Nosso colega havia chegado primeiro, mas Woohyun estava tão perdido em seus pensamentos, que só caiu na água quando Hoonye o empurrou, gritando “Acorda Woohyun, vamos perder!”.

Woohyun tentava a todo custo alcançar os outros, eu podia ver suas pernas debaterem contra a água em vão. O garoto da primeira raia já alcançava a chegada, e todos nós gritávamos por Woohyun, para encorajá-lo, não deixá-lo desistir. Eu, em desespero, corri até o outro lado da borda, sem me preocupar com o piso molhado e o risco de cair na piscina e desclassificar a prova. Eu apenas queria correr para ele, fazê-lo chegar ao final da prova.

Por mais rápido que tudo fosse, eu via aquela cena como se cada ínfimo segundo durasse uma eternidade. Em câmera lenta, eu corria, o observava dentro de sua raia, movia os braços e gritava para que ele continuasse. Minha comoção era assistida por Dongwoo que, do outro lado, se dividia entre me observar e torcer por ele. Mas, antes mesmo que eu alcançasse meu melhor amigo e ajudasse Woohyun a sair da piscina, o juiz apitou, anunciando a vitória.

Eu não queria ver. Não queria acreditar no que os alunos gritavam ensandecidos. Não conseguia conceber a verdade.

Saindo da piscina, pulando e cantando vitória entre seus amigos, estava Myungsoo. Kim Myungsoo, aquele maldito.

 Woohyun tocou a borda da piscina assim que eu o alcancei, ele chegara em terceiro lugar. Atordoado ele olhou ao redor, como se tentasse entender os motivos que levavam todos os expectadores à loucura, e nós lhe oferecemos nossas mãos, para que ele saísse de lá. Pôs-se em pé, observou o ginásio uma vez mais, deteve seus olhos em Myungsoo e Sungyeol, que ainda faziam festa.

Até que Myungsoo o fitasse de volta.

Eles trocavam olhares e eu não me atrevi a observá-los por muito tempo. Enquanto todos se aproximavam para informar sobre a premiação, ao final da competição de nado, Woohyun ainda tentava se concentrar em ficar em pé. Dongwoo percebeu o quão vulnerável ele estava, e o abraçou pela cintura. Não percebi quando Hoya se aproximou, mas ele nos uniu ao redor de seus braços e parecia não se preocupar em molhar sua roupa.

“Eu…” Woohyun sibilou. Tremia e parecia tão frágil nos braços de Dongwoo, que Hoya tirou sua jaqueta e o envolveu com ela.

“Não se preocupe com isso.” Hoonye removeu a touca de Woohyun e sorriu para ele, tentando acalmá-lo. Isso não funcionou muito bem.

“Eu perdi?”

“Não, não perdeu!” Dongwoo insistiu, batendo nas costas dele, como um incentivo.

“Perdi! Eu perdi! Nós perdemos por minha culpa… Eu fui tão idiota… Eu… Eu…”

“Woohyun-ah, isso é só uma competição, não leve tão a serio.” Hoonye o fitou uma última vez e se afastou. Hoya pôs-se ao lado de Dongwoo e ele soltou Woohyun.

“Hyung, você foi ótimo, não se culpe por isso.”

“Eu não fui ótimo.” Woohyun livrou-se da jaqueta, devolveu a Hoya, se afastou deles e andou até o vestiário. Os garotos correram atrás dele e eu pude ver a forma debochada como Sungyeol o fitava.

“Woohyun, não seja um covarde!” Gritei, já que não me sobravam forças para correr. Ele se deteve e me fitou. Eu, como sempre, não conseguia decifrar seu olhar. “Você foi até o fim. Se esforçou. Por que acha que a culpa é só sua?”

“Sunggyu, você não sabe de nada.”

Suas palavras me atingiram como uma bala a queima roupa. Até quando as pessoas me tomariam por tolo, me ridicularizariam assim, tão facilmente? Se eu nunca havia me enervado com Woohyun, aquela era a primeira vez. Corri até ele e me pus diante de si. Nossos olhos se encontravam uma vez mais. Perdidos, estranhos.

“Eu sei sim.” Disse num tom firme, e ele tencionou os ombros. Não pude me conter e os envolvi, tentando empurrar alguma sanidade para dentro de sua cabeça. Ele parecia tão perdido, tão pequeno. “Eu sei que você se esforçou até o final. Mas ninguém é perfeito, Woohyun. Alguns vencem, outros perdem. Só precisamos saber como encarar.”

“Você realmente não entende, Sunggyu.” Seus olhos estavam tristes. Não como eu os vira outrora. Mais tristes. Profundos, esquecidos, como se sua alma fosse abandonada e ele perecesse. Eu entendia. Havia visto sua cena com Myungsoo no banheiro, sabia que seu orgulho estava mais que apenas ferido.

Eu podia ser só mais um garoto do segundo ano que até aquele momento só havia selado os lábios com uma paixonite platônica. Podia ser um rebelde fajuto que se faz de popular na escola, mas quando chega em casa, pede colo da mãe. Eu podia ser qualquer coisa, mas entendia seu orgulho ferido.

Não sabia o que havia acontecido entre aqueles dois, não fazia ideia do quão machucado Woohyun estava, mas não podia suportar vê-lo daquele jeito por causa de alguns garotos imbecis que cantavam vitória na nossa cara. Eu posso ter agido como um completo idiota, mas, quando Woohyun parecia tão frágil diante de mim, não pude evitar envolvê-lo em meus braços.

Éramos da mesma altura, nossas proporções eram quase idênticas, não fosse o corpo definido de Woohyun e minha falta de músculos. Mas, quando o abracei, sentia como se ele fosse pequeno. Como se ele se perdesse entre meus braços. A carne molhada e fria tocava a minha, e eu não sabia se era grato por aquele contato, ou me sentia culpado por me aproveitar de uma deixa tão triste.

Meus pensamentos se perdiam entre concentrar-me em dizer a ele tudo o que se passava em minha mente, ou guardar aquele momento para sempre. Woohyun era uma inconstante em minha vida, eu nunca sabia quando ele estaria ali, ou quando desapareceria como fumaça. Eu precisava guardá-lo para mim. Seu toque, sua respiração em minha nuca que me fazia arrepiar e provar uma vez mais de primeiras vezes. O perfume que, mesmo depois de haver nadado, ainda estava colado em sua pele.

Quantas vezes eu havia sonhado com um momento como aquele? Eu apenas lamentava o fato dele acontecer de uma forma tão penosa.

Respirei fundo assim que tudo ao meu redor desapareceu, como por mágica. Havia apenas eu e Woohyun… e o chão que nos mantinha em pé. Eu podia sentir seu coração bater de encontro com o meu. Suas batidas reverberavam em meu ser, tomavam tudo de mim e transformava-me em um servo seu. Me lembrava das palavras que Dongwoo dissera a respeito de Hoya. De como era difícil conter seus sentimentos quando se ouvia o coração daquele a quem deseja bater. Eu tentava a todo custo fazê-lo, tentava esquecer a minha vontade de beijá-lo, niná-lo, fazê-lo esquecer daquilo tudo. Mas tudo o que me restava eram palavras.

“Eu entendo como se sente.” Sussurrei em seu ouvido, e o aproximei mais. Woohyun permanecia com os braços caídos na lateral de seu corpo. Não me importava se ele me abraçaria de volta. Fitei Myungsoo, que devolvia o olhar. Sentia cólera neles, e ainda mais ódio vindo do olhar de Sungyeol, que dividia sua atenção conosco. “Mas se seu orgulho já está ferido, não deixe que eles te vejam cabisbaixo. Erga a cabeça, Namu-yah. Mostre a eles que você é muito superior a tudo isso. Muito melhor que eles. Não sei o que aconteceu, mas não gosto da forma como eles te encaram.”

“Pra você é fácil falar.” Ele envolveu meu ombro com uma de suas mãos e inspirou fundo. O toque cálido de sua respiração sobre minha pele fria e molhada me fazia arrepiar. “Sentir o que estou sentindo não é tão simples assim, Sunggyu.”

“Mas eu estou contigo. Não vou sair do seu lado, Woohyun. Acredite em mim, vou te apoiar, não importa como.”

Ele se afastou de mim assim que concluí. Me fitou, um pouco desconfiado, e saiu em direção ao vestiário. Não sabia o que fazer, então me deixei ficar ali. Woohyun estava confuso e eu conseguia o entender por mais que ele dissesse o contrário. O pouco tempo que passamos juntos me serviu para notar pequenos detalhes seus. E, mesmo que ele se afogasse numa solidão infindável, às vezes era necessário estar sozinho consigo mesmo. Eu só sairia dali se Myungsoo ou Sungyeol tentassem algo.

“O que houve com ele, Sunggyu?” Dongwoo se aproximou preocupado e Hoya me fitou como se quisesse que eu transmitisse a informação de uma vez. Não sei como.

“O que você acha? Ele vai se culpar por ter se distraído e perdido.”

“Poxa, deve ser tenso pra ele ver que vocês ficaram em primeiro até ele pular na piscina e acabar em terceiro.” Hoya disse, recebendo meu olhar de repreensão. Ele estava certo, no entanto.

“Eu acho que estaria tudo bem se não tivesse sido aqueles idiotas os vencedores.” Dei de ombros, fitando o grupo que ia em direção oposta ao vestiário. “Woohyun ficou péssimo depois que viu o Myungsoo. Foi por culpa daquele escroto que ele ficou assim. Mas tudo bem, vamos receber esse prêmio de cabeça erguida.”

“Isso aí!” Hoya se animou, abraçando Dongwoo.

“Você vai molhar ainda mais sua roupa, Hoya!”

“Parem com isso na frente de todo mundo, to ficando com vergonha!” Impliquei, e Dongwoo bateu em minha cabeça, me empurrando em direção ao vestiário.

Nós precisávamos mesmo nos vestir, ou, pior que um bronze, pegaríamos um resfriado.

Woohyun se recusou a sair do vestiário até que a professora viesse nos buscar para subirmos ao pódio. Naquela altura, Hoya já havia feito de tudo para reanimá-lo, inclusive fazer piadas a respeito da forma como Dongwoo ridiculamente pulou na piscina, perdendo o ritmo assim que caiu na água. Woohyun riu timidamente, provavelmente tentando afastar os maus pensamentos. Mas eu ainda sentia uma aura negra em volta dele.

Já estávamos secos, vestidos e devidamente preparados para receber a medalha. Eu não me importava com o bronze, mesmo que no ano anterior nosso time tivesse alcançado o ouro. Uma medalha não era nada diante da dádiva de passar um mês junto de Woohyun. A cor que reluzia dela não era tão brilhante quanto os meus olhos ao fitar Woohyun depois de nosso primeiro beijo. Seria eu egoísta em achar que aquele não era o reconhecimento de nosso esforço e que, depois de tudo, eu que saíra como o verdadeiro vencedor?

Se eu fosse mesmo vencedor, minha medalha era feita de ouro de tolo. Desde quando aquele beijo fora algo a se considerar? Eu provavelmente não fizera diferença alguma para Woohyun, e eu não estava me lamentando. Se o fizesse ele jamais choraria aos pés de Myungsoo. Ele jamais teria perdido. No final, eu era o maior perdedor.

Eu não tinha Woohyun. Não tinha o ouro na competição. Não tinha nada.

A pequena síntese me deixara cabisbaixo até o momento em que estávamos diante do terceiro pódio. Me deixei ficar longe de Woohyun, que era abraçado por Dongwoo e Hoonye. Eu o fitava discretamente, tentando de alguma forma não passar a impressão de que eu o examinava minuciosamente. Meus olhos logo se desviaram à professora que se aproximava com uma bandeja prateada com todas as medalhas. O juiz da competição anunciou o terceiro lugar, e nós subimos ali. As alunas de nossa escola ainda gritavam nosso nome, como se não houvesse qualquer importância qual era a posição em que chegamos.

Woohyun sorria sem mostrar os dentes – Dongwoo mostrava os seus pelos quatro, não havia qualquer necessidade que nos esforçássemos mais. Hoonye batia em seu ombro, tentando mantê-lo animado, e eu sentia orgulho de meus amigos.

O segundo lugar foi para um colégio público. Nesse ano o diretor decidira convidar colégios que nunca participaram das competições por não serem do mesmo porte que o nosso. Eu não era egoísta quanto a esse segundo lugar, aqueles garotos se esforçaram para mostrarem seu valor a um bando de riquinhos, depois de tudo.

Mas, quando o primeiro lugar fora anunciado e Myungsoo subiu ao pódio, notei Dongwoo segurar Woohyun. Ele se recusava a olhar na direção deles, e minha vontade era estar ali com ele. Myungsoo olhou de relance em nossa direção, mas não havia deboche em seus olhos – diferente dos de Sungyeol. Ele parecia triste. Como se a indiferença de Woohyun o incomodasse.

Quando a premiação teve seu fim, nós fomos até nossa sala. Lá não havia ninguém que pudesse nos incomodar ou rir de nós por termos perdido. Entre os quatro, ninguém se culpava – à exceção de Woohyun, que continuava se desculpando. Hoya se uniu a nós minutos depois, após seu grupo apresentar um numero na cerimônia de encerramento da competição. Hoonye foi embora primeiro, e Dongwoo logo percebeu que ele e Howon estavam sobrando, e se foram também.

Como era de se esperar, ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu já não podia suportar.

“Você tá melhor?”

“Um pouco.” Woohyun virou-se de frente para mim e apoiou o rosto no encosto da cadeira. “Acho que fiz papel de bobo.”

“Não fez, te garanto. É normal fazermos algumas coisas assim quando estamos estressados.”

“Pois é.” Ele colocou o braço no encosto e apoiou o queixo. Me fitava de forma confusa, como sempre o fazia. “Eu me senti confuso, acho que era a responsabilidade de ser o último a saltar e vencer.”

“Você não queria perder praqueles caras, não é?” Me enchi de coragem e fiz a pergunta. Eu não podia voltar atrás, desistir quando ele estava à minha frente. Quando estávamos a sós.

“Não. Mas é questão de orgulho mesmo, Gyu-ah. Eu não queria perder pra eles, porque eles são uns perdedores. Essa derrota meio que me fez pensar que eu sou o maior perdedor de todos.”

“Por que você não muda de pensamento, e começa a acreditar que essa derrota foi, na verdade, uma vitória?” Sorri para ele e copiei sua posição, sem descolar meus olhos dos dele.

“Uma vitória? Como? Eles estão felizes sem mim, e eu aqui, sozinho…”

“Eles eram seus amigos no outro colégio?”

“Sim, mas não quero falar sobre isso.” Ele deu de ombros e observou os próprios tênis.

“Ok.” Eu meneei a cabeça e tentei conter minha curiosidade. Respeitar Woohyun e seu espaço era mais importante naquele momento. “Mas você não está mais sozinho.”

Se eu algum dia eu pensei que houvesse oportunidade melhor que aquela, certamente não a teria aproveitado. Assim que sibilei a palavra ‘sozinho’, aproximei-me dele. Eu sabia bem que aquela frase teria impacto sobre ele, e concluí meu raciocínio quando Woohyun ergueu seus olhos até os meus, me fitando surpreso.

Não era a primeira vez que eu lhe prometia amizade, companhia ou qualquer coisa que envolvesse minha presença. Por que ele ainda me encarava admirado quando eu voltava a mencionar tal promessa?  Woohyun apenas entreabriu os lábios, como quem não espera por ouvir algo como aquilo.

Ele não tinha resposta, e eu… ah eu não sabia o que dizer. Não queria dizer nada, embora minha boca sentisse a necessidade de expressar o que explodia em meu peito.

Nossos olhos se encontraram, e os seus pareciam chamar pelos meus. Lentamente, como se o mundo deixasse de girar, eu me aproximei dele. Desviei minhas íris até seus lábios, mas elas se mantiveram atentas somente até que eu os tocasse com os meus.

Sentia novamente o calor de sua pele contra a minha, o sabor adocicado dos lábios vermelhos e lindos sobre os meus. Era outro roçar, não tão breve quanto o primeiro. Eu sentia a necessidade de avançar, aprofundar o beijo, fazer qualquer coisa que não envolvesse somente aquele selar. Pressionei meus lábios contra os dele, deslizando-os até que minha boca envolvesse seu lábio inferior e, por minha notória falta de experiência, acabei por sugá-lo com mais força que a necessária.

Woohyun se empertigou para não separar o beijo. Ele não desaprovava aquele toque. Pelo contrário, ele roçou os seus sobre os meus, deslizando a ponta de seu nariz no meu. Sentia sua respiração se misturar à minha, a boca entreabrir lentamente e umedecer o beijo. A saliva fria contrastava com os lábios quentes. Meu coração tentava de alguma forma escapar de minhas mãos e, antes que elas fizessem algo errado, as mantive sobre minhas pernas.

A temperatura de meu corpo subia aos poucos, me deixava alto, extasiado. Sentia-me como provavelmente Dongwoo se sentia ao beijar Hoya, e já não o invejava. Não precisava alimentar minhas platonices quando eu tinha os lábios de Woohyun contra os meus. Eu sorria entre o beijo, suspirava, me sentia ainda mais apaixonado. Meu coração já não me pertencia, eu lhe entregava tudo o que havia em mim através daquele toque.

E então lhe pedi passagem com a ponta de minha língua. Woohyun a tocou com a sua e, assim que ele a deslizou para dentro de minha boca, ele separou o beijo e provavelmente me encarou. Eu não sabia, já que não me permitia abrir os olhos. Meus lábios ainda estavam entreabertos, as maçãs de meu rosto quentes – certamente avermelhadas – e tímidas, meu coração prestes a saltar de minha boca.

Reuni a coragem necessária para encará-lo, e abri meus olhos devagar. Woohyun estava tão corado quanto eu estava. Seus olhos brilhavam, mas eu novamente não sabia definir tal esplendor.

Woohyun nada disse, apenas levantou-se e andou até a porta, sem olhar para trás. Meneei minha cabeça, mordisquei o lábio inferior e ainda podia sentir seu gosto sobre ele. Estava atordoado, como quem acorda com ressaca, ou algo do tipo.

O que acabara de acontecer? Eu o havia beijado outra vez!

E, uma vez mais, Woohyun fugiu de mim. Me perguntava se eu não tinha forças suficientes para mantê-lo ali. Talvez a força não dependesse somente de mim. Não me esquecera de que ainda havia o maldito sonso Myungsoo. Ficar sentado pensando tampouco me adiantaria de algo, então corri em direção à porta, louco por encontrá-lo e dizer algumas palavras.

O cheiro de Woohyun estava tão profundamente impregnado em mim que não demorou até que eu o encontrasse entrando no ginásio. Corri até ele e quando já estava na porta, meu coração que já havia batido mais que o suficiente por aquele dia, deixara de funcionar.

Nam Woohyun se aproximava dos professores, os passos iam diminuindo sua velocidade até que ele balançou o corpo, detendo-se imediatamente, tocando a própria fronte, como se se sentisse tonto. Eu cria ser o único que o observava, que corria em desespero em sua direção, como se pudesse prever o que estava por vir.

Mas, antes que eu o alcançasse, Woohyun desfaleceu.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD