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Dezenove

Naquela segunda feira, acordei duas horas mais cedo que o comum. Não por falta de sono, ou algo parecido… a verdade é que eu havia ido dormir bem mais cedo que o de costume – um final de semana sem mensagens de texto de Woohyun era tão preguiçoso e chato, que era melhor dormir.

Depois de um longo banho e alguns trinta minutos tentando deixar meu cabelo em pé em um topete superestilizado – o que deixava meus fios ainda mais avermelhados e bonitos, sem querer parecer prepotente ou algo do tipo – meus pés me levaram até a cozinha, como se meu cérebro estivesse ligado apenas a eles. Observei o cômodo, um pouco preguiçoso, e logo vi o cesto de frutas sobre o balcão, todas reluzentes e atrativas – principalmente para alguém que estava faminto.

Me aproximei dela e meus olhos logo foram atraídos pelas maçãs vermelhas e grandes. Peguei uma delas e me sentei à mesa, encarando-a como se pudesse transformá-la em algo que não fosse uma maçã. Como se a pudesse transformar em Woohyun.

Ah, Nam Woohyun… Minha maçã predileta, aquela brilhante sobre o topo da macieira. Sorri ao imaginá-lo, esquecendo-me de todos os pesares que enfrentamos nos últimos dias. Assim como eu tocava aquela maçã entre meus dedos, sentia Woohyun se aproximar de mim – ou seria mais correto dizer que eu me aproximava dele? – era como se eu houvesse encontrado uma forma de subir naquela macieira, como se meus braços se esticassem até que pudessem tocá-lo.

Assim como a ponta de meus dedos analisavam a textura daquela fruta, experimentava o toque, o calor de Woohyun. Para mim aquilo era tão estranho quanto admitir que eu estava apaixonado. Apaixonado por um garoto. Ao mesmo tempo, tal fato me acalmava, me colocava num estado que eu mesmo não sabia reconhecer. Woohyun era minha maçã, vermelha, perfeita, preciosa. Eu o iria proteger do vento, das pestes que poderiam assolá-lo… eu seria uma redoma de cristal ao seu redor, mesmo que ele não notasse tal proteção.

Quando voltei a mim, havia desenhado os olhos de Woohyun naquela maçã, com a ponta de uma faca que estava sobre a mesa. Mesmo que fossem tortos e sem sentido, era como se eu o visse ali, como se eu pudesse conversar com ele, confessar tudo o que confundia e embaralhava todas as minhas ideias, uma a uma.

“Se você soubesse o que me faz sentir… O que você faria?” Disse timidamente, tão baixo que se aquela maçã tivesse ouvidos, provavelmente não ouviria. “Eu gosto tanto de você. E você nem sabe.”

Sorri feito um idiota. Eu era um completo idiota, bem sabia disso. Me levantei e, a passos largos, peguei algumas maçãs e as lavei com cuidado. Sentei-me à mesa de novo, e me pus a descascá-las. Descascar frutas nunca foi uma habilidade que me pertencesse, as primeiras maçãs pareciam tão machucadas e tortas, que tudo o que fiz foi comê-las sem pensar duas vezes. Após a terceira maçã, e quase metade da casca removida de uma vez, consegui deixar duas delas decentes. As cortei em cubos e coloquei em um saco para microondas, esperando que elas não escurecessem. Às cascas dei o mesmo destino, levando-as para o quarto, quando esbarro em minha mãe, no corredor.

Ela me olhou de forma estranha, me examinou por alguns segundos e colocou sua mão em minha testa. “Onde vai com essas maçãs, Sunggyu? Você odeia maçãs descascadas.” Tentei explicar que levaria como lanche para a escola, e ela estranhou, já que eu nunca quis levar comida para lá. Depois começou a fazer um interrogatório, dizendo que as maçãs iam escurecer e o gosto não seria mais o mesmo, que era melhor eu tê-las levado inteiras, mas minha paciência e tempo eram curtos demais para esperar que ela terminasse seu discurso.

Me tranquei no quarto apenas para que pudesse guardar minhas coisas dentro da mochila e correr para o hall – estava atrasado, queria ser pontual o bastante para encontrar Woohyun no portão de sua casa.

A sorte parecia estar ao meu lado, e um frio na boca do estomago denunciou meu medo a despeito das coisas estarem fáceis demais para o meu lado. Woohyun fechava o portão de sua casa assim que atravessei a rua. Ele me fitou imediatamente, como se houvesse sentido minha presença. Nos olhamos rapidamente e ele desviou a atenção, andando com certa pressa na direção oposta. Entendi seus motivos assim que passei diante de sua casa e, olhando de soslaio, vi sua mãe parada na varanda. Mulher maldita.

Quando ele estava longe o suficiente, corri em sua direção e emparelhei meus passos aos seus, vendo-o virar-se em admiração.

“Você anda bastante rápido quando é do seu interesse, Sunggyu-ah!” Debochou, diminuindo a velocidade de seus passos ao notar que eu estava sem fôlego.

“Bom dia pra você também, Woohyun.”

“Por que correu até mim? Você odeia correr.”

“Queria companhia. É chato o fato do meu melhor amigo e do nam… do amigo dele morarem do outro lado do bairro.” Me senti um completo idiota, mas ele não teve uma reação exagerada.

“Pobre Kim Sunggyu, é tão solitário.”

“Cala a boca, Woohyun!” Bati em seu ombro e ele devolveu o tapa, rindo em seguida.

“Não precisa gaguejar quando fala do Dongwoo e do Hoya… Depois do que vi na sexta, não me admira que eles sejam um casal ou algo parecido.”

“Como assim?” O encarei, e ele continuava com sua expressão calma. Como o namoro de Dongwoo com outro garoto não o espantava?

“Eu vi tudo… Se eles não tivessem algo, eu diria que seu amigo é um molestador de menores.” Ele riu, e eu ri junto. Sentia as bochechas esquentarem, mas soaria ridículo se ele notasse, então olhei em outra direção, tentando pensar em algo inteligente a dizer.

“Eles mantém tanto segredo a respeito disso, que eu descobri que eles estavam juntos da mesma forma que você.”

“Como você reagiu?” Woohyun perguntou de forma tão natural, que me deixava nervoso.

“Fiquei sem reação, obvio! Não é todo dia que se vê dois garotos se beijando.”

“É estranho, não é?” Ele franziu o nariz perfeito que tinha, e sorriu, um pouco constrangido. Eu queria poder beijá-lo naquele exato momento.

“Muito. Minha reação depois do susto foi sair dali imediatamente.”

“O mesmo que eu fiz.” Ele disse, um pouco sem graça, e emudeceu-se em seguida. Nos sentíamos um pouco incomodados, como se tudo aquilo fosse constrangedor demais para sabermos como continuar. “Você acha que vamos conseguir ganhar a competição? Faltam duas semanas.” Ele mudou de assunto, e todo o incomodo foi embora.

“Dongwoo e Hoonye são ótimos nadadores. Você também, pelo que vi. Eu… Bem, eu serei o primeiro, então, se eu me atrasar vocês podem nadar mais rápido e acompanhar os outros.”

“Kim Sunggyu é um folgado!”

“Não fala assim… To me esforçando pra conseguir. Nós vamos ganhar!” Tentei parecer animado, mas sabia que bem no fundo, eles estavam perdidos comigo em seu time.

“Acho bom… Minha mãe tá começando a se irritar com esses treinos. Ela disse que não é um castigo se eu continuo indo aos treinos e socializando.”

“Sua mãe devia se sentir orgulhosa do ótimo filho que ela tem.”

Woohyun me fitou por sobre o ombro, e suas bochechas se coraram levemente. Eu ainda não havia presenciado uma cena tão linda em toda minha vida… Nada seria mais lindo que aquele sorriso tímido, tão casto que beirava a inocência. Perdi todo o fio da meada, claro, o que ocasionou a falta de assunto até que chegássemos à porta da escola. Lá, Woohyun se curvou sutilmente e seguiu na frente. Eu o entendia, era melhor que os professores não nos vissem juntos.

Me sentia tão abençoado, que era capaz de acordar mais cedo todos os dias.

No intervalo, acompanhei Dongwoo até a classe de Hoya e o deixei lá com seu pequeno namorado. Eles precisavam de um tempo sozinhos, já que Hoya estava enciumado por toda a amizade que seu namorado desenvolvera com Woohyun em tão pouco tempo – às vezes eu acreditava que aquilo era charme, já que Dongwoo se sentia tão enciumado pela recente amizade de Hoya com Sungjong.

Andei pelos corredores até o refeitório, segurando entre os dedos os sacos que havia preparado de manha, e por sorte, a maçã não havia escurecido tanto. Meus olhos buscavam alguém cujos traços eram tão familiares, que não demoraram muito a encontrar: Woohyun estava sentado em uma das mesas ao canto do refeitório, o que o fazia parecer ainda mais solitário. Andei até ele calmamente, me sentando ao seu lado antes que ele me visse.

“Trouxe pra você.” Disse baixinho em seu ouvido, e coloquei as maçãs descascadas e cortadas em sua frente.

“O que é isso?”

“Maçãs, Nam Woohyun! Você nunca viu uma?” Brinquei e ele deu de ombros.

“Não tão amareladas e cortadas em forma de círculos, triângulos e retângulos.”

“Como você é ingrato, Namu!” Disse, fazendo bico, e ele riu.

“Obrigado, Gyu… Mas não entendo, por que me trouxe maçãs?”

“Faz umas duas semanas que não te vejo trazer maçãs.” Ressonei, me arrependendo no segundo seguinte. Se antes ele desconfiasse que eu o observava, agora ele teria plena certeza.

“Hum.” Ele não teve nenhuma reação ao que eu acabara de dizer, ou talvez o fato de eu o observar não lhe era qualquer novidade. Ele fitou os pedaços de maçã cortados, e seus lábios se uniram, numa expressão que beirava à nostalgia. Eu o observava um pouco confuso, não sabia que tipo de atitude tomar. “É que elas me deixam nostálgico, e eu queria esquecer algumas coisas. Mas obrigado, Sunggyu. Você me surpreendeu.”

Você me surpreendeu. Surpreendeu. Você me surpreendeu. A frase simples de Woohyun ecoava em minha cabeça. Ele então colocou a mão dentro do pequeno saco transparente e pegou um pedaço de maçã em forma de um triangulo. A comeu e sorriu, talvez o gosto estivesse bom. O imitei e peguei uma casca de maçã, comendo-a em seguida.

“Você ficou com as cascas…”

“Não desperdicei nem um pedaço!”

Ri e ele me acompanhou, sem se preocupar com os alunos que nos observavam estarrecidos – afinal, ele era o garoto mudo que não conversava com ninguém. Por mais que ele risse, ainda havia aquele tom amargurado em seus olhos. Como um véu que o impedia de ver o mundo com a ótica de um garoto normal de dezesseis anos.

Nam Woohyun, quando longe dos outros, era um garoto sociável, divertido, fácil de lidar. Mas ainda havia algo em si que o transformava em uma espécie de robô. Ou um pássaro aprisionado em uma gaiola, que faria de tudo por escapar e ser livre. Ou a maçã no topo da macieira, ansiando por que minhas mãos o colhessem.

“Você não se importa que eu me sente ao seu lado? Tá todo mundo olhando.”

“Não… Na verdade eu já não me importo. Os professores já disseram mil e uma vezes aos meus pais que não era bom que eles me isolassem. Minha mãe ficou tão revoltada, que ameaçou me tirar daqui e contratar professores particulares, mas o diretor entrou em contato com o conselho tutelar e agora recebemos visitas de um assistente social toda semana. Muito barulho pra nada. Não é como se eu fosse me comportar mal de novo.”

Woohyun contava aquilo com tanta naturalidade, que eu começava a acreditar no que havia lido em sua pasta. Ele levava aquilo tudo como se fosse algo simples e fácil, mas não o era, eu podia enxergar o quanto aquilo o machucava, como se fosse uma farpa cravada em sua pele, inflamando-o aos poucos. Deixei que ele concluísse, e não pude evitar a curiosidade. A cada dia que passava ao seu lado, Woohyun parecia confiar mais em mim.

“O que você fez de tão complicado, pra deixar seus pais assim?”

“Nada de mais.” Ele claramente mentiu, e eu não precisava conhecê-lo muito para notar. “Eles só acham que eu fui um pequeno delinquente.”

“Não me faça ficar com medo de você.” Woohyun riu novamente, e eu o acompanhei. Era a primeira vez que passávamos o intervalo juntos, sem nos escondermos dos olhos alheios. Eu me sentia tão bem, que desejava que aquele momento durasse para sempre.

Mas o sinal ressoou, e ele se levantou. “Estavam ótimas as maçãs, Gyu Gee Gee.” Ele sorriu, sua voz em um tom doce e melodioso, uma espécie de aegyo que só ele era capaz de fazer. Parecia saber que aquilo me derretia aos poucos. Ah, se ele pudesse ver através de meu coração…

Aquela semana, assim como a em que eu consegui apropriadamente me aproximar de Woohyun pela primeira vez, fora inesquecível. As maçãs que levei para ele foram apenas o começo. Eu havia entendido que elas não fizeram lá muito bem a ele, então resolvi deixá-las de lado – Woohyun não comia mais maçãs, e o fato daquilo lhe ser nostálgico, adicionado a outro em que indica que ele remetia descascá-las a alguém, me fez esquecer a ideia de lhe levar mais algumas.

No entanto, tramamos uma boa maneira de irmos e voltarmos juntos ao colégio. Eu lhe enviava uma sms antes de sair de casa, e ele sabia que eu estaria esperando em sua esquina. Às vezes ficava lá por longos minutos, mas logo ele aparecia sorridente e feliz. Woohyun não era bipolar, talvez um ótimo ator que pode mudar suas expressões de extremamente sério a extremamente feliz em questão de segundos.

Mesmo não tocando novamente no assunto a respeito de Myungsoo e Sungyeol, consegui descobrir mais coisas sobre ele. Conversávamos sobre quase tudo, o que me deixava cada vez mais confortável. Descobri que gostávamos das mesmas séries, que frequentávamos os mesmos lugares quando éramos crianças, que uma tia avó dele é amiga de uma das primas da minha mãe, que moram em Busan e não vêm à capital por medo de pegar a estrada ou um avião.

Nós ríamos, nos divertíamos, passávamos boa parte do tempo falando sobre coisas aleatórias e já não segurávamos os assuntos nem dentro da sala de aula. Woohyun havia conversado com a coordenadora da escola, pedido a ela que lhe permitisse conversar com a psicóloga que atendia na enfermaria, e lhe segredou que sofria crises de ansiedade por não ter amigos, o que fez com que os professores mantivessem segredo a respeito de suas conversas comigo e Dongwoo. Elas não discordaram – quem discordaria?

A única coisa que poderia dizer, é que Nam Woohyun se aproximara de nós com a mesma destreza com que nos desprezara quando chegara a nossa sala de aula, cinco meses atrás. Foi um longo caminho até suas portas, um longo jogo onde nossos esforços e estratégias contaram como tesouro, e lá estávamos nós, cercados da pessoa mais cativante que algum dia já conhecemos – Hoya acabara de perder seu posto, mas ele concordava conosco.

Durante os treinos, ele e Dongwoo pareciam ainda mais impossíveis. Faziam dancinhas toscas, intercambiavam aegyo, riam juntos como se fossem as únicas pessoas da face da Terra. Eu os adorava, tinha que confessar. Embora Hoya torcesse o nariz sempre, e nunca deixasse de ir até o ginásio antes que o treino acabasse, ele também ria das besteiras que aqueles dois faziam. Woohyun me encorajava, me aproximava, me fazia sentir aceito, bem vindo.

Talvez aqueles gestos fossem mal interpretados por mim. Não sei.

No sábado daquela mesma semana, no penúltimo treino de final de semana antes da competição, Woohyun apareceu mais cedo, como na semana anterior. Eu parecia pressentir que ele apareceria mais cedo, pois cheguei alguns minutos antes dele. Sua primeira reação ao me ver sentado à beira da piscina, com minha bermuda posta, foi me empurrar dentro dela e correr em direção ao vestiário.

Não tinha outra reação, a não ser rir daquele infeliz – quem ele pensava que era, para vir com toda essa intimidade? Eu adorava o fato de que ele pensava que podia fazer o que quisesse comigo, no entanto. Ele então correu em direção à piscina, usando sua bermuda favorita, e pulou sobre minha cabeça, criando uma bomba d’água que me deixou um pouco desnorteado. Esse Woohyun… Se parecia cada dia mais com o que eu lera em sua ficha.

“Não vai se aquecer, Nam Woohyun?” Disse, fingindo estar irritado.

“Não precisa, não vou treinar agora!” Ele gritou, jogando água no meu rosto.

“Para com isso, cara!” Revidei o ataque, e ele tentou fugir, nadando o mais rápido que podia. Muito esperto da parte dele, eu nunca conseguiria alcançá-lo. Quando estava perto de tocar sua perna, ele saiu da piscina rapidamente. Claro que o segui, mas tudo o que consegui foi vê-lo se jogar na piscina novamente. “O que sua mãe colocou no seu café hoje de manhã, Namu?” Gritei, e ele riu.

“Você que é um idoso preso no corpo de um adolescente, vovô Gyu!” Ele riu, jogando água mesmo sabendo que eu estava longe demais para ser atingido.

“Quando eu te pegar, você vai se arrepender do que disse, Nam Woohyun, seu infeliz!”

Ele fez um grunhido que eu imaginei ser seu aegyo, e mergulhou. Eu não poderia ficar atrás, não suportaria perder para ele mesmo que eu tivesse um tombo, ou qualquer sentimento que fosse, por ele. Pulei na piscina e, pelos quinze minutos que se deram, perseguimos um ao outro. Até ficarmos cansados. O bastante para que Woohyun saísse exausto da piscina, e se deitasse na borda dela.

O observei por um tempo, cansado de tanto nadar, e flutuei até a borda da piscina. Apoiei meus braços ali, e descansei o queixo sobre eles, aproveitando o fato de que ele estava tão cansado, que fechara os olhos.

Woohyun era tão extremamente bonito. Lindo, para ser mais específico. Desde os ombros, largos e fortes, até a linha do pescoço que se findava nos maxilares perfeitos e delineados que tinha. Eu observava cada pequena curva que levava até seu queixo, os lábios avermelhados, o inferior levemente mais carnudo que o superior. O nariz reto e sem defeitos, os olhos cerrados, como se fossem apenas dois riscos contornando a beleza de suas feições. As sobrancelhas, negras e bem delineadas, como se houvessem sido pintadas à mão, e os fios de cabelo que molhavam a pele branca, deixando-o ainda mais sedutor.

Minha vontade era beijá-lo, tomá-lo em meus braços, realizar cada uma das pequenas fantasias que nutria por ele desde o primeiro dia em que o vi.

Ela era tamanha e tão forte que não notei haver impulsionado meu corpo para fora da piscina, engatinhado até ele, e o fitado de perto. Woohyun mantinha seus olhos fechados, a respiração ainda ofega resvalava em minha fronte, e eu passei a mão sobre os cabelos, jogando-os para trás, para que nenhuma gota caísse sobre ele. Eu sentia o aroma de sua respiração, o gosto dela. Era tão mágico, tão incrivelmente envolvente que eu não podia evitar todos os arrepios que tomavam conta de meu ser.

Mordisquei o lábio inferior, e me permiti olhá-lo uma vez mais. Woohyun não se movia. Meu coração se expandia em meu peito, batendo tão rápido e forte, que chacoalhava cada um de meus ossos. Será que ele percebera minha presença sobre si? Claro que sim, minha respiração aos poucos se mesclava a sua, e talvez os arrepios que percorriam meu corpo se esgueiravam e pulavam em direção à sua pele, compartilhando as mesmas sensações que eu experimentava pela primeira vez. Malditas primeiras vezes que Nam Woohyun me proporcionava.

Ou seriam benditas?

Inspirei profundamente, e curvei meu rosto sobre ele, rápido o bastante para que seus olhos se abrissem em reflexo. Woohyun me encarava, surpresa e curiosidade banhavam-se em suas íris negras e dilatadas. Eu, como era de se esperar, não tive qualquer reação. Apenas nos olhávamos, como se nossas mentes intercambiassem perguntas e respostas que nossas bocas se recusassem a pronunciar.

Tentei me mover, dar um passo à frente, me atrever a tocá-lo com meus lábios, mas logo o barulho de passos e risos vindo em nossa direção me despertou de meu transe. Woohyun arregalou os olhos e eu me joguei de volta dentro da piscina, nadando para a outra ponta como se minha vida dependesse disso. Woohyun provavelmente se levantou, não me atrevi a olhar e me certificar, meu coração batia tão alto que temia que ele ouvisse.

Em pensar que eu estava tão próximo… Em imaginar que Woohyun queria aquele beijo tanto quanto eu.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD