Rotten Apple

Quinze

Playlist

Segui Dongwoo por entre os adolescentes naquele lugar, enquanto ele ia facilmente ganhando distância. Quando estava irritado, meu melhor amigo parecia um raio, alguma espécie de máquina veloz que desaparece de vista imediatamente. Eu já não me importava se Hoya continuava a conversar com Sungjong para descobrir coisas ou se Myungsoo e Sungyeol ainda jogavam: eu só queria acalmar Jang Dongwoo.
Ele parou diante do balcão, sentou-se, acotovelou a superfície de mármore e coçou o couro cabeludo. Parecia haver sentido minha presença. Me sentei ao seu lado e pedi dois sucos para a balconista. Abracei o ombro de Dongwoo, e ele virou o rosto; eu sabia que seria difícil fazê-lo falar.
“Dongwoo, relaxa… Hoya só está conversando com o garoto.”
“Aham.” Tirou minha mão de seu ombro e me encarou. Se ele tivesse laser nos olhos, eu estaria aniquilado. “Você viu o jeito que aquele moleque olha pra ele?”
“Sungjong olha daquele jeito pra todo mundo. Pra mim, pra você. Aposto que até se a balconista noona for falar com ele, ele vai olhar assim pra ela.” Disse, entregando o dinheiro para a moça.
“Aquele garoto gosta de morder fronha, Sunggyu. Ou você não reparou?” Deu de ombros, pegando o suco e o bebendo.
“Eu já disse pra relaxar. Por que o Hoya trocaria alguém como você por um carinha tão oferecido quanto aquele?”
“Status. Sei lá que merda faria alguém trocar uma pessoa por outra.”
“Tá vendo só? Duvido que o Hoya seria capaz de fazer isso. Ele te ama, Dongwoo… Ele mesmo me disse isso.”
“Vamos ver até onde isso vai, Sunggyu. Se acontecer algo com meu namorado, você me paga.”
Dongwoo me fitou como nunca fizera antes. Seus olhos pareciam perdidos, tristes e ao mesmo tempo extremamente mortais. Senti um arrepio percorrer a espinha e, não fosse pelo simples motivo de sermos amigos desde que nos entendemos por gente, eu levaria aquilo como algo totalmente proposital. Entendia o ciúme de Dongwoo, a forma como ele encarava a disposição de Hoya ao me ajudar, mas eu realmente acreditava que nada poderia acontecer ao relacionamento deles.
Meu amigo então deixou o copo vazio sobre o balcão e saiu. Eu não me atreveria a correr atrás dele, para o que quer que fosse. Numa situação como aquela, era melhor que eu ficasse ali e prestasse atenção ao movimento. Eu tiraria Howon de qualquer roubada que ele se metesse.
Voltei ao lugar onde os dois dongsaengs conversavam animadamente e me sentei ao lado deles. Hoya sorriu aliviado, e eu podia perceber a tensão em seus ombros – não queria imaginar o que poderia ter acontecido no meio daquela conversa.
“Vocês ainda estão conversando?”
“Sim, hyung.” Hoya disse, um pouco sem jeito, olhando ao redor. “Onde está Dongwoo hyung?”
“Ah, ele disse que tinha que ir. Parece que tem muita coisa pra ele fazer.”
“Como assim? Ele disse que íamos…” Quando notou que estava prestes a entregar seu relacionamento, Howon se calou. Seu semblante era tão desapontado quanto o de Dongwoo. “Ah, deixa pra lá…”
“Depois podemos ir até a casa dele.” Ofereci, vendo Sungjong nos encarar de forma confusa.
“Onde mora esse tal Dongwoo?” Perguntou, sorrindo daquela forma estranha para mim. Eu me sentia esquisito toda vez que isso acontecia.
“Ele mora perto da nossa escola. Por quê?”
“Podíamos todos fazer uma visita para ele.”
“Melhor não.” Disse bruscamente, levantando-me assim que concluí. Sungjong não poderia ser oferecido a ponto de querer ir até a casa de Dongwoo.
“Ah, que pena. Bem, já que estamos aqui, por que não jogamos?” Disse, levantando-se e puxando Hoya pela mão.
“Vamos lá!” Eu disse, trazendo Hoya para o meu lado. Não queria aquele moleque cheio de dedos para cima do namorado do meu melhor amigo.
Sungjong nos sorriu uma vez mais; seus olhos brilhavam, assim como seu cabelo, sua pele, suas roupas, tudo ao seu redor. Eu não sabia diferenciar meus sentimentos. Raiva, estupefação, admiração. Nenhum deles conseguia explicar bem o que acontecia comigo quando estava perto daquele garoto.
Fomos até a pista ao lado da que Myungsoo e Sungyeol estavam, e o mais alto era quem jogava daquela vez. Sungjong escolheu uma bola lilás e a entregou a Hoya, sorrindo e incentivando que ele jogasse primeiro. Deixei que os dois interagissem e encostei-me à prateleira de bolas, observando os dois do outro lado.
Myungsoo torcia por Sungyeol e, daquela vez, a torcida parecia menos animada. Ele gritava, dizia algumas coisas que eu não conseguia entender – talvez algum tipo de gíria que usavam apenas entre si. Cruzei os braços e me deixei ficar, demorando-me em observá-los ao ponto em que Myungsoo percebera meus olhares.
Não me intimidei. Pelo contrário, apertei os olhos e franzi o cenho, como faria se alguém estivesse prestes a me intimidar na escola. Eles eram desconhecidos, mas eu não me deixaria levar por alguns garotos que não faziam nada além de tirar minha paz. Sungyeol continuava a jogar a bola, vez ou outra conseguindo derrubar todos os pinos. Myungsoo desviava seu olhar na minha direção, como se eu fosse algum tipo de estorvo. Eu adorava provocá-lo daquela maneira.
Sungjong não notara a tensão entre mim e seu amigo, já que a única coisa que conseguia fazer era correr para Hoya toda vez que ele conseguia um strike – por sorte Dongwoo não estava ali, ou tudo seria ainda pior. Quando voltei minha atenção aos dois mais velhos, Myungsoo vinha em minha direção. Os passos tão confiantes quanto sua expressão, os braços cruzados diante do peito, que faltava explodir, de tão cheio. Tudo estava apenas começando.
“Qual é a tua, cara.” Ele disse, pondo-se a poucos centímetros de mim. Eu podia sentir seu perfume cítrico invadir minhas narinas, assim como o hálito quente e penetrante.
“Quê?” Fingi não dar a mínima. Eu não o deixaria pensar que realmente estava ali por sua causa.
“Parece que onde quer que eu vá, tenho que ver a sua cara. Qual é a tua?”
“E agora você é dono de todas as ruas e lugares de Seul, ou é impressão minha?” Revidei, desencostando-me da prateleira, fazendo-o dar um passo para trás.
“Você não me é estranho. Por que fica de papinho com o Sungjongie?”
“Dono dos lugares e dono do garoto. Não sabia que eu estou falando com alguém tão importante.” Levantei os braços, ironizando a fim de deixá-lo ainda mais irritado. Depois de ver meu melhor amigo tão decepcionado, eu pouco me importava com o que poderia acontecer.
“Se você não quer que eu faça seus olhos ficarem ainda menores, vai calar a sua boca, pegar seu amiguinho e dar o fora daqui.” Myungsoo disse, como se tudo o que quisesse fosse me amedrontar. Eu ri da cara dele, claro.
“Cara, quem você pensa que é? Eu não vou sair daqui, não vou chamar meu amiguinho e você vai voltar pro lugar de onde saiu, por que aquele cara ali tá te encarando.” Apontei para Sungyeol, que deixou a bola cair assim que viu meu indicador em riste em sua direção.
“Haha. Você acha mesmo que coloca medo em alguém?”
“Posso não colocar medo em um merdinha como você. Mas eu acho que você não vai querer ser expulso desse lugar, diante de todos esses caras que provavelmente são da sua escola. Vai manchar sua reputação, engomadinho?”
“Não tenho medo de você.”
Myungsoo deu um passo à frente, como se fosse possível aproximar-se ainda mais de mim. Nossa altura não era muito diferente, seus olhos consumiam os meus, enquanto sua testa estava prestes a chocar-se contra a minha. Eu não me desviaria dele. Jamais. Meu nome não era Kim Sunggyu por acaso, tampouco deixaria que minha imagem se desintegrasse daquela forma. Não por aquele cara que parecia haver feito tanto mal a Woohyun.
Ah, Woohyun…
Quando via as pupilas de Myungsoo se dilatando, crescendo como um buraco negro prestes a engolir sem piedade tudo o que existia ao seu redor, era como se eu visse Woohyun dentro delas. Como se ele o houvesse engolido, não sei. Em minha imaginação, Nam Woohyun estendia-me o braço, pedia por socorro, gritava meu nome com todas as forças em seus pulmões. Aquela imagem se repetia dentro da minha cabeça, deixando-me confuso, atordoado. Tão longe de mim mesmo que voltei a mim apenas quando nossas testas se colaram, a respiração de Myungsoo presa ao meu rosto, impregnando-me com seu cheiro.
Sungyeol, Sungjong e Hoya de repente estavam ao nosso lado. Digo de repente, pois não notei quando se aproximaram, apenas os vi quando Sungyeol espalmou as mãos sobre o peito de Myungsoo, afastando-o de mim.
“O que foi, Myungsoo? Por que está falando com esse cara?” Sungyeol perguntou, sendo meticulosamente analisado por Sungjong.
“Esse esquisito aí metido a roqueiro fica encarando a gente.” Debochou, deixando-me ainda mais irritado.
“Ah. Você…” O maior se aproximou, olhando-me de cima a baixo. “Eu já te vi tantas vezes que já decorei sua cara de coitado.”
“Agora me vem o outro e acha que, porque tem quase dois metros de altura, pode me insultar.” Cuspi as palavras, vendo Sungyeol se aproximar de mim com tanta ira em seus olhos quanto havia nos de Myungsoo.
“Eu não quero brigar, então fica na sua, seu… esquisito.”
“Haha!” Gargalhei, apontando para os dois como se aquilo fosse algum stand up ou algo parecido. “Olha aqui, eu não vou mover um dedo por causa de vocês. Então acho bom que sumam da minha frente antes que eu tenha que fazer algo!”
“Como se eu tivesse medo de você.” Myungsoo respondeu, empurrando-me. Como era repetitivo aquele garoto! Parecia querer certificar-se de que eu soubesse que ele não me temia.
“Chega!” Sungjong se colocou entre eu e Myungsoo, pondo-se à minha frente. “Hyung, eu conheço o Sunggyu hyung. Ele não tem culpa de morar perto de você, deve ser por isso que vocês se encontram eventualmente. Não fique tão aborrecido por isso.”
“Cala a boca, Lee Sungjong!” Sungyeol disse, puxando-o para seu lado. “Não se intrometa em assunto que não foi chamado! Você tem que parar de arrastar asa pro primeiro que passa na sua frente!” Quando o irmão mais velho disse aquilo, confirmei todas as minhas dúvidas. Era óbvio que aquele garoto gostava de outros garotos.
“Hyung! Não fale assim, ele não vai mais falar comigo…” Sungjong sibilou, mas eu podia ouvir sua voz aguda reclamar.
“Eu vou levar Myungsoo, Sunggyu.” Sungyeol meteu o dedo nas minhas fuças, como se quisesse afundá-lo em meu rosto. “Mas se ele se incomodar contigo de novo, eu não vou parar briga nenhuma.”
“Ai que medo!” Ironizei, empurrando o indicador do garoto. “Não dou a mínima pra vocês.”
Sungjong tentava empurrar os dois, enquanto Hoya nos observava sem nenhuma reação. Eu realmente não sabia ou entendia o que havia acontecido, mas aquilo era estranho demais, intenso demais para que houvesse alguma explicação. Howon me levou até a entrada do boliche, sempre olhando para trás, como se esperasse que fôssemos atacados a qualquer instante.
“Hyung, você tá bem?”
“Não, Hoya! Claro que não! Eu queria ter arrebentado a cara daquele imbecil.”
“Mas o que aconteceu pra vocês começarem a discutir do nada?” Hoya me encarou assustado, vez ou outra olhando o movimento dentro do local.
“Não sei. Eu tava observando aqueles caras jogando e esse tal Myungsoo veio me intimidar. É um idiota mesmo… achando que poderia contra mim. Haha!”
“Se vocês brigassem, ia ser feia a coisa.”
“Eu sei disso.”
“Hyung, será que ele desconfia de algo?” Hoya tocou o próprio queixo, como fazia sempre que parava para pensar.
“Desconfiar do quê? Impossível.” Dei de ombros, e andamos até a calçada. Hoya se sentou no meio fio e eu o acompanhei. “Se bem que… Sobre o que você e Sungjong conversaram?”
“Não deu pra tirar tanta coisa dele. Parece que Sungyeol, Myungsoo e Woohyun eram muito amigos, mas o Sungyeol brigou com Woohyun e depois disso o transferiram para o nosso colégio.”
“Como você conseguiu tirar isso daquele garoto? Não é algo que se consegue assim tão fácil.” Encarei Hoya e suas orelhas ficaram vermelhas tão rápido que se Dongwoo estivesse ali o mataria.
“Bem, eu dei atenção a ele, não é, hyung? Parece que esses garotos gostam de ser o centro das atenções. Eu só fiz uma pergunta, e foi: ‘como são as coisas no seu colégio’? Ele contou quase tudo sobre quase tudo. Só não entrou muito em detalhes sobre o Woohyun hyung.”
“Como foi que eles se conheceram? Você soube? Ele contou?” Adiantei-me, tão ansioso e curioso que Hoya riu.
“Calma, hyung! Bem, Sungjong disse que estuda nesse colégio adventista desde que começou a ir pra escola. Sungyeol também, como é de se esperar. Woohyun hyung e Myungsoo entraram um pouco depois, mas eles sempre foram amigos.”
“Então esse Woohyun gosta de fazer amizade com gente nova, mas me desprezou assim que eu falei com ele.” Pensei, um pouco mais alto do que queria, e Hoya riu.
“Aí eu já não sei, hyung. Mas os três eram como você e o Dong.” Ele sorriu quando mencionou o namorado, e eu me segurei para não sorrir com ele. Seria extremamente gay se eu o fizesse. “Eles faziam parte do coral da escola, mas aí o Sungyeol começou a se desentender com o Woohyun. Parece que quando eles estavam no auge das brigas, o Woohyun saiu.”
“Será que é por isso que ele fica tão quieto?”
“Não sei. Acho que isso é uma coisa que tiraremos dele com o tempo.”
“Como assim tiraremos, Howon? Acha que já tá investigando um caso, como se fosse da polícia?”
“Eu me enfio no meio das conversas daquele garoto, meu namorado me deixa pra trás quando eu ia passar o dia com ele, e é assim que o hyung me trata?”
“Foi mal.” Disse sério, realmente me sentindo mal por aquilo.
“Falando nisso, cadê ele?”
“Foi pra casa. Ele tava morrendo de ciúme.”
“Ele é um idiota mesmo. Até parece que eu deixaria ele por alguém como esse garoto.” Hoya abriu mais o sorriso. Parecia haver gostado de saber que Dongwoo estava com ciúmes.
“Foi o que eu disse pra ele, mas ninguém me escuta.”
“Hyung, eu vou pra casa dele. Tenho que conversar e passar a tarde com meu hyung, não é mesmo? Boa sorte pra você, e não vá causar confusão.”
“Não vou.”
Hoya chocou sua mão contra a minha, e logo acenou, afastando-se. Não demorou para que ele fosse só um ponto em meio àquela rua, que desapareceu em alguma esquina por aí. Eu esperava, sinceramente, que Dongwoo não fizesse muito caso por aquilo.
Esperava que Sungjong dissesse a verdade, que aquilo pudesse ajudar a descobrir o que de fato ocorrera. Saber que eles haviam sido amigos antes era uma informação muito vaga, muito pequena diante de tudo o que corroía meu ser.
Myungsoo me vira algumas vezes passando diante do portão de Woohyun. Inclusive me notara observando-o. Nos esbarramos tantas vezes que quiçá ele desconfiasse de algo. Ou talvez aquilo fosse coisa da minha cabeça. A única coisa da qual eu tinha certeza era da minha vontade de descobrir o que acontecia ali. O que havia de tão forte entre aqueles garotos, a ponto de fazer Woohyun sair de sua escola.

Durante toda a aula, Woohyun não desviou os olhos em minha direção. Eu havia perdido todas as aulas, já que não conseguia prestar atenção em nenhuma, e ele sequer me dava essa atenção de volta. Escrevi ‘bom dia’ em um pedaço de papel e joguei para ele, mas ele sequer o abriu. Dongwoo estava em uma situação parecida, a diferença é que meu melhor amigo ainda respondia ao que eu dizia.
Me senti estranho por um momento, como se eles soubessem de tudo o que houvera no dia anterior. Dongwoo com certeza sabia, Hoya não deixaria de contar a ele que quase entramos numa briga com os caras dos quais queríamos nos aproximar. Eu começava a acreditar que meu tiro sairia pela culatra.
No intervalo, Woohyun não veio. Eu já não o esperava, até porque ele só viera uma vez. Aquela vez memorável em que nos escondemos atrás das arquibancadas. Eu, Dongwoo e Hoya corremos para lá, fofocamos e contamos a Dongwoo, nos mínimos detalhes, como fora minha discussão com Myungsoo. Aos poucos meu amigo deixava de lado a irritação e voltava a conversar normalmente comigo.
Quando as aulas acabaram e fomos ao vestiário nos trocar para o treinamento, decidi que não deixaria que Woohyun me evitasse mais. Me sentei ao seu lado enquanto ele calçava seus tênis e não pude evitar observá-lo abaixado, tentando alcançar os cadarços. Sua regata subiu um pouco, mostrando a pele alva e bonita, aquela pele que chamava por meus dedos, que pedia que eu a tocasse. Cocei a nuca, um pouco constrangido, tentando voltar minha atenção a qualquer outra coisa, quando notei uma quantidade absurda de tiras ortopédicas em sua lombar.
Woohyun sempre as levava consigo, tinha tantas em sua bolsa que chegava a ser assustador, mas eu nunca reparei que de fato ele usava tantas. Ele percebeu que meu olhar se demorou, e puxou a regata para baixo, tentando esconder o que eu via. Me encarou, ainda dobrado diante dos joelhos, com as mãos formando o laço que amarrava o tênis, e eu sorri constrangido, tentando esconder minha cara de tacho.
“O que foi, Sunggyu?” Perguntou, as sobrancelhas estreitas e os lábios apertados, formando as covinhas que eu tanto adorava.
“Nada.” Desviei meus olhos até Dongwoo, que me fuzilava com o olhar.
“Nada mesmo? Você tá esquisito.”
“Sim. Estou bem… Você que está calado hoje, não acha?” Me adiantei, vendo-o dar de ombros, como sempre fazia.
“Acho que não quero conversa hoje.”
“Mas você nunca conversa. Falar é bom às vezes.”
“Nem sempre. Hoje eu queria silêncio.” Ele se levantou e começou a se alongar.
“Aposto que você deve estar louco pra contar algo!” Levantei-me e me aproximei dele, cochichando em seu ouvido. Pude ver os pelos de sua nuca se arrepiarem, e me senti satisfeito.
“Se eu te contar tudo o que sei, você vai enlouquecer e morrer!” Ele me fitou por sobre o ombro, o hálito fresco de menta resvalou em meu rosto. Eu nunca sentira tanta vontade de beijar alguém como senti naquele instante. Tamanha era minha vontade que sentia meus lábios formigarem.
“Eu sou forte, acredite em mim!”
“Duvido.”
“Por que duvida de alguém como eu? Sério, Namu-ya! Me conta por que tá tão sério hoje.”
“Até você me chamando de Namu?” Woohyun se virou para mim, agarrou minhas mãos e me empurrou até que a parte inferior de meus joelhos se chocasse contra o banco. “Até você, Gyu Gee Gee?”
“Não vale! Não me chame por esse apelido ridículo!” Eu tentava parecer menos afetado, mas tudo o que eu mais queria era que aquele momento durasse para sempre.
“Mais ridículo que Namu? Não existe nada mais ridículo que isso!” Ele continuava a me empurrar, até que caí sentado sobre o banco. Seu perfume impregnava-se em mim.
“Ya!” Dongwoo gritou, do outro lado do vestiário. “Meus apelidos são incríveis! Parem de reclamar e vão se aquecer!”
“O líder aqui sou eu, Dinowoo!” Woohyun disse, correndo em direção a Dongwoo e rindo feito um louco.
Eu os via brincar como se fossem duas crianças. Woohyun tentava bater em Dongwoo, enquanto meu melhor amigo fazia de tudo para desviar das palmadas e socos que Namu desferia nele. Como se fossem bons amigos. Como se nunca houvesse nada estranho entre eles. Quando estávamos naquele vestiário, Woohyun não agia como o cara calado que nos ignorara por longos meses. Ele era nosso amigo.
Enquanto meus olhos registravam aquela cena, minha mente a guardava gentilmente em minha lembrança. Elas não falharam em se repetir, dia a dia, durante aquela semana. A semana de ouro, em que eu e Dongwoo nos aproximamos de Nam Woohyun.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD