Rotten Apple

Catorze

Segui meu caminho por aquela rua, tentando ao máximo me desviar dos pensamentos que insistiam em me sufocar. Woohyun era um garoto tão cheio de vida que seria um pecado enorme permitir que ele continuasse sofrendo. Seu sorriso, suas brincadeiras, a forma como corria e jogava conosco ainda se repetia em minha mente. Lembranças tão frescas que, se eu fechasse os olhos, podia ouvi-lo ao meu lado.
E a forma como suas mãos tocavam as minhas. Como me ajudou com meu aquecimento, como fora atencioso de uma forma que eu jamais esperaria de si. Eu estava atordoado, perdido em devaneios que me faziam sentir ainda mais hipnotizado por aquele cara. Eu estava apaixonado.
Apaixonado.
Tão profundamente preso por um sentimento que me transformava em algo que eu nunca imaginara ser. Já não conseguia lidar com minha antiga personalidade, já não conseguia prender minha atenção em algo que não fosse ele, sequer conseguia desviar-me dele. Um sentimento que tinha o poder de aquecer meu corpo e, ao mesmo tempo, congelá-lo. Que me dava forças e ao mesmo tempo as consumia completamente. Quando estava longe dele, sentia-me corajoso, imaginava todas as possibilidades para uma aproximação. Quando o via em minha frente, me sentia como uma criança indefesa, incapaz de me mover.
Por mais que minha autoconfiança às vezes me ajudasse, ela era inútil quando se tratava de Nam Woohyun.
E, quando o via cabisbaixo, tristonho e calado, as forças que sempre acreditara ter escapavam de mim como se eu não fosse capaz de contê-las. Quem era aquele garoto para fazer de mim um completo idiota?
Faltavam apenas algumas casas para que eu chegasse à minha, e notei que o trio que eu, Dongwoo e Hoya stalkeáramos no final de semana se aproximava. Do outro lado da rua, Myungsoo e Sungyeol vinham na frente, conversando animados, como se não conhecessem a tristeza e o ressentimento que afogavam seus olhos das outras vezes em que os vira. Sungjong os seguia, entretido com seu celular, sorrindo. Tentei me desviar da atenção deles, passar despercebido – afinal, o mais novo já havia me visto, quando eu fora tolo o bastante para conversar com ele –, mas Sungjong me notou e acenou para mim assim que seu irmão e o outro subiram na calçada onde eu estava.
“Sunggyu hyung!” Ele disse, vindo em minha direção.
“Ah… Você!” Tentei parecer surpreso. Ele não fazia ideia de que aqueles encontros já haviam se tornado normais para mim.
“Que interessante ver você por aqui de novo, hyung.” Ele disse, os dedos ajeitando a longa franja castanha avermelhada que conseguia deixá-lo ainda mais bonito.
“Er… Eu moro nessa rua. É normal que eu passe por aqui.”
“Nossa, que legal! Myungsoo mora há duas quadras daqui. Estamos indo ao boliche, quer vir?” Fez o convite, e logo os dois à frente notaram que ele havia parado, encarando-o um pouco confusos. Como poderia ele me chamar para o boliche, se era a segunda vez que nos falávamos? Não tinha mais dúvidas dos motivos pelos quais ele era mais popular que eu.
“Na verdade eu estou chegando do colégio agora. Tive treino e to um pouco cansado.”
“Ah, que pena!” Ele disse, meneando a cabeça de forma fofa. Se Sungjong fosse uma garota, eu diria que ele estava dando em cima de mim. “Mas… Já que o hyung mora tão perto, podíamos… sei lá… fazer algo qualquer dia desses.”
“Oi?” Arregalei os olhos, um pouco confuso com a atitude daquele garoto. Ele sorriu e tocou meu braço.
“Vamos fazer algo.”
“Ah, ok.”
“Sungjong-ah!” Sungyeol gritou, encarando-nos um pouco irritado. Myungsoo permanecia com sua aura misteriosa, me olhando como se tivesse algo a dizer, mas permaneceu calado. “Pare de falar com quem você não conhece! Vamos logo antes que a gente se atrase!”
“Ok, hyung!” Ele disse, fazendo sinal para os outros dois. Voltou a me fitar, seus olhos percorriam-me por completo, e eu me senti estranho por um segundo. Ele deslizou o indicador sob a franja, unindo ambas as mãos e umedecendo os lábios antes de falar: “Se quiser, ainda podemos nos falar. Seria legal se viesse!”.
“Tudo bem, vamos marcar.” Disse, um pouco atordoado.
Não conseguia ao menos raciocinar, não pensei nem sobre pedir-lhe seu telefone ou algo do tipo. Sungjong sorriu, acenando uma despedida, correndo na direção de seus hyungs. Eu segui por aquela calçada, meu coração disparado e confuso com o que acabara de acontecer.
Um garoto havia acabado de me chamar para sair. O quão esquisito era aquilo? Quando pensava sobre meus desejos a respeito de Woohyun, eles me soavam normais – normais até demais. Mas ter outro cara interessado em mim era completamente estranho.
Meneei a cabeça, e afundei minhas mãos no bolso da calça, sentindo o celular impedir uma delas. O saquei, desbloqueando-o e digitando o número que eu já conhecia de cor. Precisava contar aquilo a alguém, e ninguém melhor que Jang Dongwoo para rir de mim e me fazer sentir pior.
“Gyu Gee Gee!” Meu amigo barulhento gritou do outro lado da linha. Eu podia ouvi-lo sem precisar do aparelho. “Já sentiu minha falta?”
“Cala a boca, Dino. Escuta, o que você tá fazendo agora?”
“To me arrumando pra ir ver o Hoya, por quê?” Ele disse ao longe, e percebi que usava o viva voz.
“Eu preciso contar uma coisa muito sinistra que acabou de acontecer.”
“O quê? Woohyun disse que quer seu corpo nu?” Gargalhou do outro lado, e eu ri junto.
“Não, idiota! Acabei de passar por Sungjong e os outros.” Disse baixo, olhando para trás, para ver se ninguém me seguia.
“E aí, o que tem de tão sinistro em ver aquele pessoal?”
“Sungjong me disse que eles estão indo ao boliche. Eu podia jurar que ele tava dando em cima de mim.” Coloquei a mão sobre a boca, para que só ele ouvisse. Só de imaginar que alguém ouviria aquilo me dava crises.
“O quê?” Dongwoo gargalhou, eu podia ouvir o som de suas palmas. “Como assim, Gyu Gee Gee, você já tem um fã?”
“Não brinca, seu imbecil! Isso não tem a menor graça!” O repreendi, ouvindo apenas os risos dele.
“Calma, Gyunie… Se fosse o Namu, você já teria se derretido todo.”
“Eu… Eu gosto dele. É diferente.”
“Você acha que isso faz de você menos gay? Acredite, meu amigo, isso vai começar a se tornar mais frequente, porque os caras vão perceber que você olha pra eles de forma diferente. Aí vai depender de você pra acontecer alguma coisa.”
“Quando eu te ver, vou te matar, seu dinossauro de uma figa!”
“Relaxa Gyunie! Me diz, não foi só por isso que me ligou, não foi?”
“Não.” Respirei fundo, tentando ignorar o deboche dele e me concentrar na minha intenção ao fazer aquela chamada. “Você vai onde com o Hoya?”
“Na verdade, eu só ia até a casa dele. Por quê?”
“Vamos ao boliche!”
“Ah, eu não quero!”
“Vamos! Não é um convite, é uma ordem!” Disse, autoritário. Dongwoo sabia quando eu falava sério, mas insistia em fazer charme. Eu odiava seu charme nessas horas. “Você vem comigo. Já avise o Hoya. Vou passar em casa, tomar um banho e já já estarei aí.”
“Não tenho mesmo uma opção?”
“Nunca! Agora preciso desligar, to chegando em casa. Até mais.”
“Até.”
Desliguei assim que cheguei ao meu portão, e corri até meu quarto. Tantas coisas giravam desconexas em minha mente que eu não conseguia me deter em um só pensamento. Os momentos com Woohyun, sua seriedade horas depois, a forma como Sungjong falara comigo. Me sentia confuso e ao mesmo tempo decidido. Pronto a descobrir tudo, ou parte do mistério que cercava aqueles três garotos, e o que os ligava a Woohyun. E eu precisaria da ajuda dos meus amigos.

Chegamos ao boliche exatos quarenta e cinco minuto depois de eu haver ligado para Dongwoo. Hoya parecia uma garota quando o assunto era se arrumar e isso nos atrasou um pouco. Ele disse que era por uma boa causa, o que fez Dongwoo torcer o nariz e ficar enciumado – ele sabia que o namorado tinha intenções e, mesmo que fosse para me ajudar, isso o deixava irritado.
Quando chegamos, o lugar já estava um pouco lotado. Parecia que todos os adolescentes da cidade se reuniam naquele lugar durante a tarde, então levamos algum tempo até encontrarmos os três mosqueteiros. Myungsoo jogava, enquanto Sungyeol e Sungjong observavam atentos, torcendo por ele. Hoya se aproximou de mim, perguntando-me ao pé do ouvido se eram aqueles, e eu apontei o mais novo, deixando Dongwoo um pouco desconfortável.
“Nossa, não é justo que os três ali sejam mais bonitos que nós.” Hoya disse, desapontado.
“Tá me chamando de feio, Hobaby?” Dongwoo disse, empurrando-o.
“Ah, jjangDongdong, é a verdade. Olha aquele Sungyeol! Parece que o menino foi esculpido.”
“Tsc.” Dongwoo ignorou e andou pesadamente até o bar do local, deixando Hoya um tanto quanto triste.
“Hyung, ele não deve ter entendido o que eu quis dizer.”
“Relaxa, Howon, o Dongwoo tá é morrendo de ciúme do seu empenho em me ajudar.”
“Mas…” Hoya mordiscou o lábio inferior, fitando o namorado ao longe. “Eu amo ele, hyung. Só quero te ajudar.”
“Nós sabemos. Ele também sabe, mas não tem como evitar ciúme, tem?”
“Você tem razão. Bem, o que acha de irmos até lá e cumprimentarmos eles?” Ele sorriu novamente, passando o braço por meus ombros. Era a primeira vez que Hoya se mostrava tão próximo a mim.
“Vamos lá!”
Fitei Dongwoo uma última vez, e ele apenas acenou, como se nos mandasse ir logo e terminar com aquilo de uma vez por todas. Hoya tomou a frente, sorriu e alisou uma das bolas de boliche, sentando-se no banco diante da pista. Sentei-me ao seu lado e Sungjong logo nos viu, aproximando-se.
“Hyung, você veio!” O garoto abriu um sorriso tão grande que Hoya esfregou as mãos nas coxas, tentando de alguma forma espantar a vontade de rir.
“Bem… Eu achei que seria legal vir aqui um pouco. Nunca tinha vindo durante a semana, é mais lotado do que imaginava.”
“Sim!” Deslizou o indicador pela franja e sorriu, aproximando-se mais. “A maioria dos alunos do nosso colégio vem pra cá à tarde.”
“Legal!” Respondi, sem saber ao certo o que fazer. Sungjong de certa forma me deixava desatento, como se houvesse algo nele que desviasse completamente minha atenção. Hoya parecia sofrer do mesmo mal, o que me fez despertar. “Ah, esse é meu amigo, Hoya. Hoya, este é Sungjong.”
“Oi, Sungjong.” Hoya o cumprimentou, oferecendo-lhe a mão. O garoto não demorou em retribuir o gesto, usando ambas as mãos para tocar as de Hoya.
“Olá Hoya-sshi, como vai?”
“Somos da mesma idade, acho… Por que não me chama de Hoya?” Meu amigo sorriu, aquele sorriso que provavelmente fez Dongwoo se apaixonar por ele. Os olhos de Sungjong brilharam instantaneamente.
“Oh! Alguém da minha idade! É tão difícil conhecer alguém com quem eu possa falar informalmente, eu geralmente só ando com os mais velhos por causa do meu irmão. Fico encantado em te conhecer, Hoya!” Disse, sentando-se ao lado de Hoya. Eu podia notar o quão desconfortável o namorado de meu amigo se sentia, e olhei para trás. Dongwoo nos fuzilava com o olhar.
“Eu também! Sempre ando com mais velhos já que meu na…” Hoya pigarreou, atraindo ainda mais a atenção de Sungjong. “Meus amigos são do segundo e eu do primeiro.”
“É tão mais fácil andar com gente maior, não é?”
“Com certeza!”
Ambos travaram uma conversa que pareceu durar uma eternidade. Sungjong apontava as dificuldades em ser um maknae, e Hoya o apoiava, falando sobre como era andar entre os mais velhos. Eu os ouvia, prestando atenção na forma como Myungsoo e Sungyeol interagiam.
Myungsoo continuava a jogar, fazendo alguns strikes seguidos, e Sungyeol o ajudava, entregando-lhe outra bola. O rapaz mais alto o observava, como se Myungsoo fosse a última pessoa sobre a face da terra. Eu acompanhava seus movimentos e eles pareciam tão conectados, como Dongwoo e Hoya eram para mim. A forma como se olhavam, como Sungyeol olhava para o outro a cada vez que ele derrubava todos os pinos, como se abraçavam comemorando.
Eu tinha a impressão de que eles eram um só, e aquilo era tão estranho quanto ver Dongwoo beijar Hoya.
Minha visão logo fora bloqueada por meu melhor amigo, que se aproximou com algumas bebidas – inclusive uma para Sungjong – e sentou-se entre mim e seu namorado, espalhando-se. Dongwoo conseguia ser sutil e delicado como um elefante.
“E aí, gente… O que você estão fazendo?” Disse, entregando-nos as latas. “E aí cara, sou o Dongwoo, e você?”
“Sungjongie. Olá.” Ele disse, com o mesmo sorriso. Por um momento deixei de acreditar que ele em algum momento havia me paquerado. Sungjong era daquela forma com todo mundo.
“Gosto do seu nome, Sungjongie. E o que manda?” Dongwoo cruzou as pernas, encostou-se no espaldar do banco, e passou o braço por sobre ele, na direção de Hoya. Aposto que estava demarcando território.
“Ah, só estava comentando com o Hoya como é difícil ser o mais novo.” Ele gesticulou, e Dongwoo se moveu, inquieto.
“Nós adoramos estar no meio de gente mais nova… Não é mesmo, Gyu Gee Gee?” Ele riu, um pouco irritado, e eu não pude evitar rir dele. Eu não queria que mais alguém soubesse do meu apelido infame.
“Claro, Dinowoo.” Respondi de forma sarcástica, e ele me deu um tapa no ombro. Um tapa mais forte que o calculado, acredito eu.
“Gente, vocês vão ficar aí só de conversa? Vamos jogar também!” Dongwoo se levantou, puxando-me pelo braço. Sungjong me encarava intensamente e Hoya não se movia, o que deixou meu melhor amigo um tanto quanto irritado.
“Vamos lá, Dongwoonie.” O acompanhei, notando que Hoya permanecia sentado.
“Você não vem?”
“Eu vou depois, hyung.” Hoya respondeu de forma tão formal a Dongwoo, tão constrangido quando poderia estar. Se via nos olhos de ambos que não estavam nada confortáveis com aquela situação, e por um instante, me senti culpado.
“Beleza, então.”
Dongwoo soltou-se de mim e andou até a pista desocupada. Ele pisava fundo, praticamente cuspindo fogo. Eu precisava lembrá-lo que ele era um dinossauro, não um dragão. Corri em sua direção, e o detive. Ele estava extremamente irritado, qualquer um que o conhecesse notaria.
“Calma, Dongwoo. É só por hoje.”
“Você viu aquele garoto, Sunggyu?” Ele exasperou, batendo a mão sobre uma das bolas.
“Eu disse pra você, é só um momento. Hoya te adora, ele não te trocaria por um menino tão…”
“Oferecido!”
“É, ele é um pouco… Mas não se preocupe. Logo vai acabar.”
“Eu espero que sim, Sunggyu. Porque se esse garoto me tirar o Howon, eu não respondo por mim.”
Dongwoo me fitou uma última vez. Eu podia ver ira e dor mescladas em seus olhos. Um sentimento que reverberou em meu interior e, não fosse meu poder de compreensão quando se tratava de meu melhor amigo, eu teria desabado. Não era minha intenção que eles discutissem ou brigassem, eu só queria descobrir o que acontecia entre aqueles caras e Woohyun.
Eu estragara tudo a partir do momento em que coloquei Hoya no meio. O plano era que ele se aproximasse sem que eles soubessem que éramos amigos. Mas já era tarde demais.
Depois de tudo, eu só esperava que aquilo acabasse bem.
Que Dongwoo ficasse bem.

Uma opinião sobre “Rotten Apple

  1.  Ai que capitulo tenso  meu coração  foi ficando apertado a cada linha  aish ! Pera i… Acho que eu preciso lembrar como se respira porque o negocio ficou tenso aqui  *respira*  pronto vamos ao meu review louco …Ok temos um Gyu muito apaixonado <3  Ele tá suspirando  aiai eu também to de ver esse menino todo amores com o Namu .
    E que encontro Gyu não dá sorte encontrando o trio parada dura ta certo que a curiosidade e grande, mas mesmo assim neah SunJong seu puto  cara como assim você dá em cima de todo mundo  nem conhece e já chama pra sair  aiai e a cara do Gyu ao receber  uma cantada HAHAH eu ri a vida do choque do ser , tipo ele pode ser apaixonado pelo Namu mas o povo não pode sentir atração por ele porque é estranho ? HAHAHA EU RI
    Dino só piora dando aquelas gargalhas dignas só pra deixar ele mal oioioi
    Agora vamos ao momento tensão Hoya tentando se aproximar do Sunjong e o Dino putissimo da vida  ta certo eu ficaria e Gyu você fez merda ao  colocar o Hoya na jogada apesar do menino ser o sedução do seu trio mas tá valendo os “fins não justificam os meios “ neah  te compreendo   fiquei com dor no peito vendo o Dino com ciúmes eu gostei mais fiquei com medo normal até certo ponto .
    DIVA! Amei o capitulo tensão esse aqui é só um previa do que vira certo? O Belo e Lindo Drama  que todas amamos e não ficamos sem  ^^  Sua dosagem de drama é incrível a ponto  de ansiarmos por mais e passarmos por ele juntos como se fossemos nós vivendo eu já te falei que adoro isso? Eu muitas vezes ou todas às vezes me sinto na pele do Gyu sendo ele e vivendo o amor dele acho que todos que lê vivem isso.

    Obrigada por nos dar essa experiência linda

    Até o Próximo capitulo tensão

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD