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Treze

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Ao final da última aula, eu e os outros fomos até o vestiário, a fim de nos prepararmos para o primeiro dia de treino. A professora que supervisionaria nossos treinos nos aguardou do lado de fora, enquanto nós ríamos e nos divertíamos do lado de dentro. Dongwoo, como sempre, estava impossível. Fazia piadas com Woohyun e Hoonye, e eu, sem entender, apenas ria deles.

A verdade é que eu mais observava Woohyun, que qualquer outra coisa. O via rir, apontar para Dongwoo e fazer piadas que ninguém entendia. Estava alegre, vivo… Agia como se não existisse aquele Woohyun tristonho e enfadado. Eu sentia que aquele era o verdadeiro, o garoto que costumava ser antes de acontecer o que quer que tenha acontecido.

Quando eles já estavam cansados de brincadeiras, abrimos nossas mochilas e sacamos a roupa de treinamento. Por mais que aquilo nos fosse algo normal, eu me sentia mais estranho que o comum. Eu estava prestes a ver Woohyun se despir, e algo dentro de mim gritava por ser liberto. Meu rosto se aqueceu, assim como cada centímetro de mim, e Dongwoo havia percebido.

Meu amigo correu em minha direção, pegou nossos moletons e entrou em uma das cabines, como se sua vida dependesse daquilo.

“Melhor você não ver o Namu se trocar…”

“O quê?” Perguntei um pouco desnorteado, vendo Dongwoo trancar a porta e desabotoar a camisa do uniforme.

“Você tá curtindo o cara, eu sei bem o que vai acontecer se você vir ele só de boxer.”

“Tá insinuando quê…”

“Sim, isso aconteceu comigo várias vezes, por isso quero evitar esse constrangimento pra você. Se você ficar duro vendo ele se trocar, todo mundo vai perceber e você estará fodido.”

“Aish que droga!” Desabotoei a calça, e me sentei no pequeno banco ao canto da cabine, observando Dongwoo. “Você viu como ele é diferente quando não tem ninguém por perto?”

“Claro que eu notei! E parece que ele gosta mais de mim que de você.” Debochou.

“Obrigado por jogar isso na minha cara.” Dei de ombros, trocando a camisa pela regata.

“Isso pode ser um bom sinal. As pessoas costumam se sentir meio constrangidas perto de quem elas gostam. Você não se sente assim quando tá perto dele?”

“Sim.”

“Então… Você nunca sabe. E outra, vai que ele tem vergonha por você sempre ver o que acontece na casa dele…”

“Isso é uma hipótese, não uma certeza. E bem, ao menos ele está com a gente agora.”

“Se ele for sempre assim, Gyu, ele pode com certeza fazer parte da nossa roda de amigos.”

Dongwoo sorriu e amarrou os tênis. Meu amigo tinha razão, depois de tudo. Eu não sabia qual seria minha reação ao vê-lo daquele jeito. Dongwoo abriu a porta assim que eu havia vestido o moletom, e eu podia ver a silhueta de Woohyun ao longe. Ele colocava a regata com certo cuidado, e eu não podia deixar de admirar seus traços. Sua pele clara, a linha de sua coluna era definida e bela, e o tecido branco caía lentamente por suas costas. Notei também que ele tinha algumas tiras ortopédicas nas costas, na altura dos quadris. Eu podia ver a ponta delas saindo da calça.

Levantei-me e me aproximei dos outros, vendo Woohyun se virar para mim rapidamente – como se quisesse esconder a todo custo a quantidade de tiras ali. Ele sorria. Aquele sorriso lindo, branco, aconchegante e caloroso como um fim de tarde. Lhe sorri de volta, e ele se sentou para colocar os tênis de corrida. Minha vontade era me sentar ao seu lado, mas meu corpo se recusava a se mover.

“E aí, Sunggyu… Tá preparado pra correr?” Ele perguntou, num tom de voz que eu não me lembrava de haver ouvido antes.

“Claro que sim!” Menti. Eu nunca estava preparado para correr, nadar, ou qualquer outra atividade física.

“Acho que não, hein…” Dongwoo me interrompeu, abraçando-me pelo pescoço. “Esse daqui tem só dezesseis, mas o corpo é de um velho de cinquenta.”

“Dongwoo-ya!” O repreendi, e Woohyun riu, levantando-se.

“Não se preocupe, nós vamos treinar até você se acostumar.” Ele me tocou o ombro, e eu juro que podia senti-lo formigar.

“Hey, calma… Não é como se eu nunca tivesse corrido na vida.”

“Sunggyu, para de reclamar e vamos aquecer… A professora tá esperando.” Hoonye disse, empurrando-nos para fora.

“Ya! Calma!” Dongwoo reclamou, rindo como se fizessem cócegas em si.

Nós saímos dali e Woohyun, que estava na frente, me olhou uma última vez. Seus olhos colados aos meus, como por mágica. Ele sorria, tão brilhante como toda uma constelação. Meu coração esquecera-se de sua função vital… havia deixado de bater, vidrado pela beleza daquele sorriso. E eu tinha cada dia mais certeza de que estava apaixonado.

Corremos até o ginásio, e lá começamos a nos aquecer. Alongávamos os músculos, dávamos pequenos saltos, Dongwoo pulava feito o pequeno macaco que era, e todos riam dele. A sensação que eu tinha, era de que aquela cena já havia se repetido. Em outra vida, em algum sonho do qual não me lembrava. Tudo o que sabia, era que aquele sentimento de que eu estava em casa me fazia relaxar, me sentir mais à vontade quando estava com ele.

Woohyun dobrou-se, rolando o corpo para frente até que suas palmas tocassem o chão, e eu não podia deixar de observá-lo. Dongwoo me analisava de longe, talvez pronto para me salvar de qualquer apuro que me afligisse. Quando voltou à posição inicial, Woohyun me fitou e se aproximou, com o mesmo sorriso animado no rosto.

“Quer ajuda pra se alongar, Sunggyu?”

“Ah… Não precisa.”

“Claro que precisa! Você tá todo travado… Vem, vou te ajudar.” Ele afastou as próprias pernas, até que elas ficassem paralelas e rentes aos quadris, e apontou para as minhas, como se pedisse que eu fizesse o mesmo. O acompanhei, e ele segurou minhas mãos, tão firmemente que eu provavelmente soltara um grunhido. “Agora acompanha suas mãos… Não se preocupe, não vou deixar você se desequilibrar.” Puxou minhas mãos, fazendo-me curvar o dorso até que meu corpo formasse um ângulo de noventa graus. E continuava puxando, como se desejasse estalar minhas costas, ou algo do tipo.

Aquela era uma dor tão prazerosa, como se o incômodo por fazer algo ao qual meu corpo não estava acostumado fosse compensado pelo calor de suas palmas contra as minhas. Minhas mãos suavam frio, e eu pensava logo que ele estaria incomodado com aquilo. Mas Woohyun apenas me puxava para frente.

Eu tentava raciocinar, completamente em vão. Sentia o coração pular satisfeito em meu peito, como quando eu era uma criança e ganhava o presente que tanto esperava no natal. Dongwoo continuava nos observando, com aquele sorriso amistoso em seus lábios. Quando finalmente me pus em pé, Woohyun me deu um pequeno tapa no ombro, e correu em direção aos outros.

“Ainda bem que nossa classe vai competir no revezamento quatro por quatro.” Dongwoo disse, colocando-se na raia numero dois, preparando-se para começar a correr.

“Por quê?” Woohyun perguntou, posicionando-se na raia um.

“Porque o Dongwoo não tem fôlego suficiente pra nadar mais de cem metros.” Debochei, e meu amigo me empurrou.

“Mentira! Você é que não tem fôlego nenhum! E bem, eu vou poder fazer o nado borboleta, já que pra você isso é tão difícil, Gyu Gee Gee.”

“E qual o estilo dele?” Woohyun perguntou a Dongwoo, com a mesma expressão fofa que costuma usar quando fala com meu amigo.

“Ele só nada bem se for de costas… É um velho, esse Kim Sunggyu.”

“Cala a boca Jang Dongwoo!” O repreendi, e logo ouvi o apito da professora.

“Calem-se todos vocês! E se preparem, porque vou acionar o cronômetro. Vinte minutos de corrida ao redor da quadra, e depois vamos exercitar um pouco esses músculos.

Ao soar do apito, começamos a correr. O início dos treinos sempre eram assim, preguiçosos. Não estávamos competindo em nenhum tipo de corrida, então não era necessário que fossemos rápidos, só precisávamos controlar nossa respiração enquanto corríamos.

Os vinte minutos, no entanto, eram como uma eternidade para mim. Eu era um garoto magro, mas não em forma, confesso. Sentia o corpo doer a cada nova volta, e enquanto os outros se adiantavam na minha frente, eu continuava em meu eterno esforço, bem atrás. Quando terminamos, nossa primeira reação fora nos jogarmos de qualquer jeito no chão.

Dongwoo arrastou-se até mim, e apoiou sua cabeça em minha barriga, fazendo-me sentir ainda mais falta de ar. Ele sempre fazia aquilo, parecia gostar de me torturar.

“Gyu, se você não melhorar, vamos ter que trocar você.” Ele disse, e eu logo lhe dei um tapa em sua testa.

“Cala a boca, esse é o primeiro treino!”

“Sorte a de vocês que o primeiro ano precisa treinar agora, meninos. Estão dispensados.” A professora disse, soprando seu apito novamente.

“Ducha time!” Hoonye gritou, levantando-se rapidamente. O seguimos, mesmo que nossa vontade fosse permanecer ali, deitados no piso gelado da quadra.

“Você se cansa assim tão fácil, Gyu Gee Gee?” Woohyun debochou, puxando Dongwoo pelos braços.

“Ih… Olha só, o novato já tá cheio de marra.” Dongwoo brincou, empurrando-o em direção ao vestiário. Quando Woohyun nos deu as costas, meu amigo piscou para mim, sorrindo sarcasticamente.

“Eu não mereço isso!” Protestei, levantando-me preguiçosamente.

Woohyun estava mudando. Ou aquele era seu eu verdadeiro. Eu não sabia dizer, no entanto. A única certeza que me invadia, era a de que eu parecia estar preso em um sonho. E, se em meus sonhos Woohyun fosse falante e sorridente, eu jamais desejaria acordar.

Nos preparávamos para irmos para casa e, antes que saíssemos do vestiário, nos sentamos nos bancos para uma última conversa. Aquela era a tradição entre os garotos, mesmo que só nós soubéssemos, sempre o fazíamos. Dongwoo era sempre o primeiro a começar algum assunto ordinário, e como éramos um bando de desocupados, deixávamos-nos ficar por ali mesmo.

O assunto daquela vez não era certo. Falamos sobre as provas do bimestre, os trabalhos que sempre tínhamos que fazer às pressas, a competição. Gastamos mais tempo falando que correndo, e certamente nenhum de nós se arrependia daquilo. Woohyun pegou o celular e se admirou com o que vira, levantando-se rapidamente e dando o nó da gravata do uniforme – mesmo que aquela fosse hora de ir para casa, não de voltar pra aula.

“Nossa, já está tarde… Preciso ir.”

“Tarde? Ainda são duas e meia.” Dongwoo disse, segurando-o pelo braço.

“Eu preciso estar em casa antes das três.”

“Então espere e vá com o Sunggyu. Ele mora perto da sua casa.” Dongwoo disse, sem notar que havia dito algo errado. Como ele saberia daquilo sem que eu tivesse contado? O fuzilei com o olhar, e ele fez uma careta, um pouco constrangido.

“Como sabe?” Woohyun perguntou inquieto, fitando nós dois como se fossemos criminosos.

“Er… Eu comentei com Dongwoo uma vez, que sua casa fica no caminho da minha.”

“E por que você comentou isso com ele, se só começamos a nos falar agora? Qual o assunto?” Woohyun parecia irritado, e Dongwoo se levantou, tentando acalmá-lo.

“Quando vocês fizeram o trabalho, lembra?” O levou em direção à saída, fazendo sinal para que eu o seguisse. “Ele foi em casa e disse que tinha passado por você.”

“E desde quando sou assunto?”

“Calma, Namu. As pessoas conversam e comentam coisas aleatórias. Você nunca fez isso?”

“Não.”

“Duvido!”

Dongwoo e Woohyun começaram então uma discussão idiota sobre coisas que faziam e deixavam de fazer e, com sorte, Woohyun se esqueceria daquele comentário idiota. Quando estávamos já na calçada, Dongwoo chocou sua mão contra a minha e a de Woohyun, despedindo-se.

“E aí, vocês vão juntos?” Perguntou uma última vez, como se quisesse ter certeza de que teríamos companhia e não nos perderíamos no caminho.

“Melhor não.” Woohyun deu de ombros, me fitando com o mesmo olhar de outrora. Ele parecia guardar sua personalidade dentro daquela mochila, quando saíamos da escola.

“Por quê?” Perguntei de forma tão automática que me assustei.

“Você não entenderia, Sunggyu.” Ele disse num tom tristonho, e ajeitou a mochila. “Hoje foi um ótimo dia… Mas eu prefiro que a gente não vá embora juntos.”

“Mas é o mesmo caminho, eu vou ter que passar pela sua rua de qualquer forma.”

“Então é melhor que você espere um pouco, e vá depois que eu sair.”

“Tudo bem… Te vejo amanhã?”

“Claro, temos aula!” Ele disse de forma debochada, um riso fino despontando em seus lábios. “Até amanhã.”

“Até.”

E ele se foi. Andava lentamente, como se me obrigasse a esperar mais, antes que eu saísse dali. Eu o observava, sentindo como se parte de mim se desprendesse de meu corpo, e corresse ao seu encontro, para que o acompanhasse até sua casa.

Era engraçado como Woohyun abria uma porta e fechava outra. Me sentia como um bobo, que tentava enxergar o quadro como um todo, mas quando descobria uma parte, a outra era coberta com sombras. Nunca conseguia visualizá-lo por inteiro. Nunca podia decifrá-lo.

Quando ele dobrou a esquina, decidi que era hora de caminhar. Mesmo que fosse lentamente, para que ele não me notasse atrás de si. Andava observando o céu, um costume que se apoderara de mim desde que notei que era o que Woohyun mais fazia. Eu contava as nuvens, admirava o azul infinito daquele firmamento tão vasto e singular.

Será que Woohyun também observava o céu? Apressei meus passos para que pudesse vê-lo, mesmo que de longe, e sorri ao notar que ele fazia exatamente o mesmo que eu. Andava com as mãos nos bolsos, o rosto volvido ao céu, como se nunca fosse cair. Ele era tão lindo, mesmo quando despreocupado. E, quanto mais tempo passávamos juntos, mais me sentia atraído por ele.

Eu sempre achara que me surpreenderia quando me pegasse interessado em alguém. Acreditava que me prepararia para confessar, que compraria flores e chocolates e faria algo incrível e romântico, assim jamais seria rejeitado. Eu era o garoto mais popular da escola, nenhuma garota me rejeitaria, e aquela certeza me fazia postergar o momento em que cria ser o certo para começar a gostar de alguém.

O assédio acabou por me deixar preguiçoso, desinteressado. Por que correr atrás de alguém, se todas corriam atrás de mim? Não era falta de modéstia, era algo que às vezes chegava a incomodar. Eu nunca me interessei por qualquer dessas garotas.

Mas, quando a primeira pessoa que cruzou meu caminho, me ignorou, minhas perspectivas mudaram completamente. De irritação à curiosidade, de curiosidade ao interesse, do interesse à paixão. Se estar apaixonado significava todos aqueles frios no estômago, toda aquela ansiedade e o formigamento na ponta de meus dedos toda vez que via Woohyun sorrir, eu não reclamaria.

Minha única queixa, era quando o via daquela forma: cabisbaixo, tristonho. Quando estávamos a sós, ele parecia se libertar. E minha alma, mesmo tímida por provar de sua primeira paixonite, se libertava consigo.

Sem perceber, eu sorria. Acompanhava os passos dele e mantinha a mesma velocidade, só para tê-lo ao alcance dos meus olhos por mais tempo. Woohyun não se importaria se eu o perseguisse? Aquele era o caminho da minha casa, então acredito que não.

Quando estava prestes a dobrar a esquina da rua de sua casa, senti o coração disparar. Eu não sabia o que podia encontrar ali; se veria aqueles garotos, se o veria chorar novamente. Me retesava aos poucos, tentando manter minha respiração calma, mas era impossível.

Assim que vi seu portão, meu coração parou. Diante dele, a mesma mulher do outro dia estava parada, com as feições cerradas, como se estivesse extremamente irritada. Woohyun baixou a cabeça e entrou, sem ao menos olhar para ela. A mulher, no entanto, olhava de um lado ao outro da rua, como se esperasse que alguém aparecesse. Por sorte, ela não tinha me visto – eu ainda estava com meu uniforme, ela notaria o emblema da escola e suporia que eu estava treinando com Woohyun.

Fiquei ali por alguns minutos, até que ela entrasse, ou desaparecesse. Eu poderia desviar do meu caminho, passar pela rua de trás, dar meia volta e ir até a casa de Dongwoo. Mas eu não podia sair dali. Meu coração se contraía, adoecia… Dizia que ele desejava ficar ali, e acalentar o coração de Woohyun.

Mas eu simplesmente não podia.

Uma opinião sobre “Rotten Apple

  1. AIIIIIIIIIIIII QUE LINDO ! Namu se transformou de um menino triste para um menino lindo de morrer ai estou apaixonada <3
    Ver a transformação do Namu de uma pessoa triste para esse ser incrível foi simplesmente uma das melhores coisas do capitulo ai estou amando  ~ Agora vamos falar do primeiro treino e cada Super Herói DinoWoo cadê a capa dele?? E a cueca em cima da roupa? Sempre pronto a salvar o amigo de uma possível ereção ou vergonha ai a amizade é linda confesso que queria ter visto o Gyu Gee Gee pagar esse mico sim eu sou meio sádica oioioi  mas tudo bem não foi dessa vez  *bico*

    Adorei a interação NamuGyu ele ajudando o Velho G a se alongar amei  e cara essa aproximação do Dino com o Namu  hnn…  não to gostando  e nem o Gyu também ele não merece isso nem o lindo o Hoya. Mas vamos ver como isso vai desenrolar

    RESUMINDO: EU AMEI O CAPITULO!!!!

    Estava perfeito todo ele ver o Namu desabrochar foi lindo meus olhos brilharam acho que fiquei igualzinha ao Gyu  toda babando de paixão . Obrigada Diva pelo capitulo amor que foi esse^^

    To tão besta que parei meu review aqui simplesmente por não saber o que escrever desse capitulo

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD