Rotten Apple

Onze

Eu nunca passara tanto tempo encarando a tela de meu celular. Não via nada, ao mesmo tempo. Era como se toda a manhã se repetisse em minha mente, me mostrando detalhes tão pequenos que não pude notar quando o vivenciei. Me lembrava da troca de bilhetes, dos olhares perdidos entre uma aula e outra, da espera no ginásio.

Rolava de um canto a outro de minha cama, imaginando os olhos, o sorriso, o perfume de Woohyun. Me perguntava se ele seria capaz de me enviar alguma mensagem, de iniciar uma conversa. Podia já notar que aquele comportamento calado não era comum a si, que gostava de estar entre outros e, por sorte, nós havíamos sido escolhidos. Eu havia sido escolhido.

Como seria se Woohyun houvesse falado comigo em seu primeiro dia em nosso colégio? Teria eu me interessado tanto por ele? Interesse… Interesse. Essa palavra que me assombra a cada vez que penso nele, que penso nas palavras de Dongwoo.

Eu não estava interessado. Não como eles dizem. Eu diria que meu interesse ia além da área romântica. Como eu poderia saber, se nunca me apaixonara antes? Apenas me deixava levar pelas lembranças boas, por coisas pequenas que, talvez se ele fosse mais sociável e menos impossível, não teriam me cativado tanto.

Por um instante, meu pensamento se moveu até a rua de sua casa, quando falávamos sem ao menos nos olharmos. Woohyun mais uma vez me respondera, me fazendo sentir coisas que jamais havia provado em outra ocasião. Me lembrei de sua mirada diante do seu portão, de como meu sorriso se alargara quando passei por ele. Também me veio à memória o momento em que aquele garoto apareceu do nada.

Qual era o papel daquele cara nisso tudo? Eu não conseguia entender por que ele insistia em estar ali. Qual seria seu envolvimento com Woohyun? Por mais que eu indagasse, não conseguia uma resposta plausível. Ao menos não uma que fosse coesa com meus pensamentos. Seria ele algum amigo que fizera com que Woohyun fosse transferido?

Decidi que pensar naquilo não me seria proveitoso e que qualquer dia desses eu lhe perguntaria os motivos que o levavam a estar ali. Eu não tinha qualquer problema com isso, depois de tudo.

Deixei o celular sobre o travesseiro e suspendi minha cabeça para fora do colchão. De ponta cabeça, fitava o teto, os pôsteres de bandas de rock expostos em minha parede. Os porta-retratos com fotos minhas e dos meus amigos da escola. Desejava uma foto de Woohyun entre elas. Desejava o sorriso dele. O calor de sua pele.

Senti-me eriçar à menor hipótese, cerrando meus olhos lentamente. Meus dedos acariciavam minha própria pele, desciam vagarosa e prazerosamente por meu abdome, afundavam-se no cós de minha calça. Eu formava seus traços por trás de minhas pálpebras, inspirava e podia exalar seu perfume, senti-lo. Já não me importava com os motivos pelos quais me tocava daquela forma, eu só conseguia deter-me na perfeição que era Nam Woohyun.

As pontas de meus dedos alcançavam meu baixo ventre, podiam presenciar o formigar de minha pele, a ânsia por me tocar, por imaginá-lo sobre mim, assim como Dongwoo estava sobre Hoya. Aquela cena se reproduzia em minha mente, movendo todo o meu sangue para aquela região. Era tão prazeroso quando a ponta de meus dígitos alcançava minha glande, e a sentia lisa, quente.

Inspirei profundamente, meus olhos apertavam-se ao que minha mão envolvia por completo meu membro, ainda coberto pela calça, movendo-o lentamente. Era tão bom, tão relaxante e ao mesmo tempo tão tenso. Sentia o corpo contrair a cada toque, era a primeira vez que o fazia pensando em alguém específico. Pensando em Nam Woohyun… Um garoto.

Entreabri os olhos, minha mão retraía a pele de meu membro até a base e a glande ainda roçava no elástico de minha boxer, quando senti o celular vibrar sobre meu travesseiro. Levantei-me em um instante e agarrei o aparelho na esperança de que fosse uma mensagem dele. Ledo engano.

“Sunggyu-ah! Hoya acabou de sair daqui, e ele mesmo disse que você não engana ninguém. Está caidinho pelo Namu.”

Namu?! Meneei a cabeça um pouco confuso, sentindo-a latejar assim que minhas esperanças todas escoaram por entre meus dedos. Eles já haviam apelidado o garoto, e aquilo não me cheirava bem. Quando Dongwoo dava um apelido a alguém, significava duas coisas: ou ele realmente gostara da pessoa e a queria como amiga, ou a detestara e usaria o apelido de forma nada cristã. Eu acreditava na primeira opção – ou minha ilusão me fazia acreditar nisso.

Hoya… O quê diabos Lee Howon tinha a ver com tudo aquilo? Aquele garoto não perdia uma oportunidade de me alfinetar, e aquela era a que mais me irritava. Apertei a tecla para responder a mensagem e, sem titubear, digitei:

“Eu não empato a sua foda, não venha estragar minha vida.”

Enviei rapidamente e me joguei sobre o colchão, irritado por haver perdido aquele momento. Tudo por culpa daqueles dois. O celular vibrou segundos depois, e eu apenas exalei pesadamente, pensando que o pior estava por vir.

“O que será que você estava fazendo, Gyu Gee Gee? Não se preocupe, não vou espalhar seu segredo pra ninguém. Mas confesse, você gosta do Namu.”

Digitei de volta, sem pensar duas vezes. Dongwoo queria a verdade, pois ele a teria.  “Ok, Dongwoo, você quer a verdade? Eu tava prestes a bater uma e você atrapalhou.”

Já podia ouvir o riso histérico de Dongwoo, largado em seu quarto com todo aquele breu ao seu redor, quando o celular vibrou em seguida.

“Pensando no Namu… Ah, Namu… Isso, assim… Eu gosto! Vai!”

Dongwoo sabia exatamente o que fazer para me irritar. Quando pensava em uma resposta à altura e estava prestes a clicar no botão para fazê-lo, senti o celular vibrar novamente, e uma mensagem de um numero desconhecido aparecia em minha tela.

“Obrigado por me apresentar seus amigos hoje. Me senti menos solitário.”

Era ele. Nam Woohyun me enviara uma mensagem e eu não esperava por ela. Um agradecimento por algo que eu queria tanto, que me parecia um crime. Estremeci completamente, minha mente se esvanecia ao imaginar sua expressão ao enviar aquela mensagem.

Não sabia o que responder. Qualquer palavra soaria boba demais diante de tudo o que eu sentia. Como se meu corpo formigasse, minha mente desse voltas e meu estomago desejasse saltar para fora de minha boca. Levantei-me da cama e corri até a janela, vendo o sol brilhar do lado de fora. Talvez ele olhasse o céu, assim como eu o fazia. Respirei fundo e adicionei seu numero à minha lista de contatos, preparando-me para a resposta.

“Não precisa agradecer. Pode vir sempre que quiser.”

Ao menos eu não soava desesperado. Apertei enviar e sentei-me em minha cadeira, os cotovelos sobre a mesa me ajudavam a apoiar o rosto em minhas mãos. Eu me esquecera de responder Dongwoo. Me esquecera do mundo… em minha mente só havia uma única pessoa, que permanecia vívida, cálida, como se estivesse de fato ao meu lado.

O celular vibrou novamente, e desta vez era meu melhor amigo.

“Ok, eu peguei pesado… Relaxa Gyu-ah, não leve tudo o que eu digo a sério. Só que pense bem, você não está agindo normalmente quando o assunto é aquele cara. Mas olha só, não se retraia tanto… Não faz mal gostar de alguém.”

Ignorei sua mensagem. Dongwoo tinha razão e eu precisava admitir isso. Mesmo que meu corpo respondesse a tudo aquilo de forma positiva, meu coração se recusava a acreditar em paixão, ou algo do tipo. Não era pelo fato de Woohyun ser um garoto, eu estava prestes a me masturbar pensando nele.

Eu temia pelo que poderia acontecer se eu de fato me apaixonasse por ele. Woohyun levou três meses para falar comigo através de bilhetes escritos em papel, quem dirá se aproximar de mim? Eu não sabia se ele também gostava de garotos, se era possível acontecer algo. Definitivamente, eu não podia me apaixonar por Nam Woohyun.

Suspirei, deixando o aparelho sobre a mesa, e mais uma vez provei de uma sensação nova. Meu coração doía. Uma dor estranha, mais como um incômodo que dor em si. Algo que o fazia acelerar, que me deixava impaciente e ao mesmo tempo me dopava. Adormecia meus membros, fazia meu cérebro desacelerar. O que era aquela sensação?

Esfreguei os olhos e respirei fundo, abrindo-os novamente ao notar uma nova mensagem.

“Isso é ótimo! Pedi permissão aos meus pais, e vou conseguir treinar com vocês. Vamos competir e ganhar! ^^”

Era Woohyun, uma vez mais. Nam Woohyun e o mistério por trás de suas permissões. Ele dizia algo, mas era tão vago que eu não podia precisar seus motivos para aquilo. Sorri ao ver sua mensagem. Sorri ao ver o pequeno emoticom no final dela. Ele me parecia ainda mais interessante ao mostrar-se aos poucos, como um pano que cobre uma tela, e que eu puxo aos poucos, admirando seu conteúdo de acordo com o que posso ver.

“Com certeza vamos ganhar! Fico feliz que possa se unir a nós!^^”

Respondi. O coração ainda vacilava vez ou outra, numa gama de sensações que eu não sabia como explicar. Hoya e Dongwoo talvez tivessem razão. Eu estava de fato interessado em Nam Woohyun. Interessado como nunca estivera antes. Por ninguém.

 

 

No dia seguinte, Woohyun não apareceu. Estávamos em nossas respectivas carteiras, eu, Dongwoo e outro garoto que participaria da competição conosco, representando nossa sala, quando notei que o novato não estava em seu lugar.

Vez ou outra eu desviava meus olhos na direção da carteira de Woohyun, e Dongwoo me acompanhava com aquele olhar de quem diz: eu sabia que estava certo. Ele estava, dane-se a verdade. Eu poderia negar eternamente, mas jamais poderia mentir para mim mesmo.

O time estava formado: Eu, Dongwoo, Hoonye e Woohyun seríamos os nadadores do revezamento quatro por quatro. O professor havia anotado nossos nomes e entregado aos responsáveis pela organização da competição intercolegial. Iríamos treinar todos os dias após as aulas, e aos sábados poderíamos ir à piscina da escola, para o treino aquático. Eu detestava o fato de que teria de me exercitar tanto, mas em apenas pensar que estaria ao lado dele, me dava ânimos.

Naquele dia, eu contei cada minuto para que as aulas passassem. Recusei me levantar daquela carteira quando o sinal anunciou o intervalo, e, não fosse por Dongwoo me arrastar até a saída da escola, eu talvez não saísse dali. Pensava em Woohyun, com tanta ou mais força quanto antes.

Por que não viera à aula? Seria algo relacionado ao garoto que estava em seu portão ontem? Ou por ele ter pedido aos pais que permitissem que ele participasse dos treinos? Eu tentava imaginar quais seus motivos, pensava também que quem sabe ele estivesse indisposto naquela manhã, e isso o fez ficar em casa.

Woohyun não me deixava em paz nem quando não estava perto. Pensei em mandar uma mensagem, perguntar como estava, se estava tudo bem, mas era melhor acalmar meus ânimos. E se alguém mais visse aquela mensagem? Eu esperaria até que Woohyun desse notícia e, em primeira instância, eu decidira fazer o mesmo caminho e passar diante de sua casa.

No percurso até lá, as lembranças se misturavam com as hipóteses a respeito de sua falta, e eu me sentia inquieto. Andava mais rápido que o normal, mas ansioso que o normal. Quando estava por passar por seu quarteirão, vi o garoto mais alto, o que discutia com o garoto de ontem, no outro dia. Ele estava parado diante do portão, os braços cruzados e o cenho franzido. Havia também outro menino, um pouco mais baixo e magro, e muito bonito. Um garoto que era mais bonito que todas as meninas da minha sala juntas.

Ele puxava insistentemente o braço do cara mais alto e parecia fazer uma força descomunal no processo. Batia vez ou outra no braço do garoto, movia-se bruscamente e chutava o ar, parecendo desistir aos poucos. Se afastou lentamente, cruzou os braços e andou pesadamente em minha direção. Era minha oportunidade, eu não deixaria de perguntar o que estava acontecendo. Depois de tudo, Woohyun era meu colega de classe, não faria mal perguntar.

Quando ele passou por mim, toquei seu braço e ele me encarou, irritado. Ele era realmente bonito.

“Oi… Er… Eu não queria incomodar, mas… Aconteceu alguma coisa com o Woohyun?”

“Quem é você?” Ele perguntou intrigado, me olhando de cima a baixo.

“Ah, desculpa minha falta de noção… Sou Kim Sunggyu, colega de classe dele. Ele não foi à escola, isso é estranho porque ele nunca faltou.”

“Sou Lee Sungjong… Bem, aquele ali é meu irmão, Sungyeol… Ele está um pouco chateado com o Woohyun. Eles eram muito amigos no outro colégio, e desde que transferiram o Nam, nunca mais se falaram.”

“Ah… Você sabe por que ele foi transferido?” Adiantei-me, era minha chance de ouro de descobrir algo.

“Na verdade ele…” O garoto se calou assim que viu o irmão correr em sua direção e agarrá-lo pelo pescoço.

“Sungjong-ah! Não fale com esses delinquentes que te param no meio da rua!” O tal Sungyeol gritou, encarando-me como se eu fosse uma espécie de alienígena ou algo parecido.

“Hey!” Me indignei, voltando-me a  ele, pronto para me defender, mas o menor fora mais rápido.

“Hyung, não seja assim… Ele é…”

“Não importa o que ele seja ou deixe de ser… Vamos embora!”

Sungyeol arrastou Sungjong pelo braço, e tudo o que podia ouvir eram grunhidos agudos vindos do menor. Ao menos eu sabia o nome deles. Tinha algo em mãos e podia procurar a partir dali.

Dei de ombros e continuei andando em direção à casa do meu colega de classe. Conforme me aproximava, podia ouvir uma mulher falar alto, em tom de repreensão. A voz vinha claramente da casa de Woohyun, imaginei que poderia ser sua mãe. Por mais que minha curiosidade me pedisse para prestar atenção à conversa, meu coração se congelava e recusava-se a ouvir.

“Eu não aguento mais esses garotos no meu portão todos os dias! Até quando isso, Woohyun?! Até quando você vai nos fazer sofrer por esse capricho?! Quer que eu mude você para outro colégio? Um internato? Quem sabe um intercâmbio ajude a esquecer de tudo isso!”

Ela gritava, cuspindo as palavras como se tivesse nojo delas. Eu não tinha como voltar, ela já havia me visto e eu simplesmente fingi que não conhecia aquele garoto, que não o vira chorar, ao longe, junto à porta de sua casa.

Woohyun fitava os pés, talvez envergonhado demais para olhar para aquela mulher. Meu peito se comprimia, como se uma mão esmagasse meus pulmões e fechasse minha garganta. Era difícil respirar, e eu não podia controlar que uma dor estranha me invadisse. Uma dor que parecia me afogar, me roubar o chão.

Eu não sabia o que acontecia entre aqueles garotos, os motivos que levavam a suposta mãe de Woohyun a gritar com ele. Mas, quanto mais eu me aprofundava naquela história, mais curioso me sentia. Agora não era simplesmente curiosidade. Eu me sentia como se desvendasse um mistério. Como se, de alguma forma, eu pudesse ajudar Woohyun.

E, não me importava como, eu o ajudaria.

Uma opinião sobre “Rotten Apple

  1. Voltei pra continuar amando Rotten Apple!

    Ai que começo de cap foi esse? Eu adorei porque finalmente Gyu caiu na real que gosta/ tem interesse no Namu! e nada como coroar essa descoberta indo bater uma pensando nele e eu estava aqui super concentrada vendo tudo isso até que o meu Delicia Dongwoo atrapalhou cara você é do mal na boa… mas eu ainda te amo e tá perdoado kekekek.
    Ai como dói você descobrir que gosta de uma pessoa e no outro dia ela não aparecer o dia fia uma agonia só Gyu te entendo cara bate aqui o/. Gente sujeitinho intragável esse SungYeol cara tu é muito nojento eu ainda vou descobrir porque ele é assim chato Sunjong mal apareceu e já foi oprimido pelo homem fala sério e Gyu tô contigo pra descobrir a história por trás desses meninos no portão do Namu isso ai ajuda ele mesmo.
    Bom Suz pra você eu digo meus parabéns por escrever e nos dar Rotten Apple de presente. Considero essa fic um presente muito lindo pra quem gosta das suas historias não pelos personagens mas sim a paixão e o amor e o drama sim um bom drama que você coloca e a dedicação que você tem com suas histórias e com que as lê muito obrigada pelo presente lindo que é Rotten Apple.

Que tal mandar um alô pra tia Suz? xD